Crise e o Seis Sigma: o brasileiro está cortando até a cervejinha?
Análise de dados

21 de março de 2016

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Crise e o Seis Sigma: o brasileiro está cortando até a cervejinha?

Como anda a produção de cerveja?


Crise: há algum tempo atrás, escrevi um post mostrando como era interessante utilizar os dados do SICOB para monitorar a produção de bebidas no Brasil. Na ocasião, mostramos qual era o perfil de variação do consumo de cerveja e fizemos algumas previsões para a produção no país. Hoje, quase um ano depois, volto ao tema para avaliar como está a produção de cerveja no Brasil em 2016. Vamos lá? Figura 1.


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Figura 1: gráfico de tendência sobre o volume de cerveja.


Pelo gráfico, percebe-se uma leve queda se compararmos dezembro de 2015 com dezembro de 2014. Já para janeiro e fevereiro, percebe-se uma retração mais forte se compararmos os anos de 2015 e 2016. A crise afetou até a cervejinha do brasileiro. E como será que está a variação mensal do consumo? Será que é possível ver alguma variação fora dos limites de controle? Para avaliar tal análise, dada à imensa sazonalidade da produção da bebida, é importante anualizarmos. Para isto, fizemos a comparação anual, ou seja, comparamos a variação de janeiro de 2012 com janeiro de 2011. E com o intuito de facilitar a comparação, traçamos uma linha reta no zero para separar os meses onde a produção piorou em relação ao mesmo mês do ano passado.



Qual o impacto da crise de 2015?


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Figura 2: comparação anual dos meses.


Pela figura 2, é possível ver que o volume começou a cair forte a partir de dezembro e mantem-se assim. Além disto, a comparação de 2016 com 2015 está complicada, pois pelos números, 2015 já foi pior que 2014. Como ficaria se comparássemos os últimos 12 meses com a média história? Será que ficaria pior? Vamos lá.


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Figura 3: comparação 2015 e 2016 com a média histórica.


Pela figura 3 a coisa não é tão ruim, mas nesta média histórica estão todos os dados a partir de 2011, ou seja,  se baixarmos da média histórica para um setor que está acostumado somente a crescer, teremos problemas.


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Figura 4: gráfico de controle da comparação anual.


Se olharmos para a figura 4, o setor teve um boom no primeiro semestre de 2014, depois disto, só andou de lado. Deste modo, esperam-se tempos difíceis até que a economia volte a crescer e novamente o cidadão consiga tomar a sua cerveja na quantidade que lhe convém. Até lá, o setor deverá apertar o cinto para garantir a manutenção de suas ótimas taxas de lucro.



E o refrigerante? Será que é muito diferente? Vamos ver?


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Figura 5: evolução da produção de refrigerante.


Pela figura 5, refrigerante anda pior do que cerveja. Para o brasileiro cortar a cerveja, ele já cortou ainda mais o refrigerante. Vamos acompanhar a média dos últimos anos?


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Figura 6: gráfico de controle da produção de refrigerante.


Pelo gráfico da figura 6, a coisa está bem mais feia mesmo. A produção do produto vem caindo desde 2011, mas foi em 2015 que esta queda acentuou-se.



O que Deming falava das crises?


Quando ligamos a TV ou lemos o jornal, a única coisa que vemos é a crise! PIB vai cair 2,0%, não, 2,5%, não, 3, 4 enfim, muitos %. Mas diante deste cenário, há duas alternativas: reclamarmos ou encararmos. Eu prefiro a segunda alternativa, porque reclamar dá trabalho, mas não dá resultado.


Lembro-me de quando era criança. Com 14 anos, pesava 86 kg. Este peso para uma criança implica em coisas desagradáveis, como ser o último escolhido num jogo de futebol ou perder em todas as competições de corrida que me aventurava. Até esta idade, jogava a culpa por ser gordinho nas deliciosas refeições da vovó, nas delícias do doce de leite e na perdição do refrigerante. No meio dos meus 14 anos, resolvi parar com o chororô e mudar. Refrigerante virou agua com gás, malhação deixou de ser série de TV e passou a ser corrida e comer pizza não era mais a pizza inteira. Resultado: 74 kgs com 15 anos. Foram 12 kgs numa paulada só e de lá para cá, padronizei os processos desta nova fase e coloquei meu peso dentro dos limites de controle que gostaria.



Como os 14 Ponto de Deming ajudam na crise?


E na empresa? Como mudar a atitude para sairmos da crise? Tomo emprestado o brilhante livro do guru Edwards Deming que tem exatamente este nome: “Saia da Crise”. Nele, Deming apresenta seus 14 pontos para sair da crise. Vou escolher três para comentar neste blog:




  • Constância de propósito: qual é o propósito da sua empresa? E o seu? Para Deming, melhorar seus produtos e serviços deve ser um dos seus propósitos, pois é ele que te manterá competitivo e manterá sua empresa e seus empregos. Na FM2S procuramos melhorar nossos cursos continuamente. Não basta lançarmos um Green Belt leve, com 40 horas em que os alunos aprendem por meio de cases. Nossos alunos merecem mais. Nem aumentamos os preços culpando a inflação. Focamos em soluções criativas para reduzir nossos custos e praticar o mesmo preço de quando lançamos o curso em 2012. Temos de criar um EAD mais forte, animações mais modernas e conectar aprendizado com resultados.

  • Afastar o medo: quando a crise chegou, como responsável eu não poderia distribuir a ansiedade ao meu time. Se assim o fizesse, seria enganado. Cada um deve saber o que a empresa espera dele e como ele pode entregar esta expectativa. Ameaçar, dar esculacho ou contar histórias tristes o farão trabalhar sob pressão e entregar um resultado pior. Além disto, o fará ser inidôneo com seus colegas, puxando tapetes e destruindo relacionamentos.

  • Colocar todos na empresa para alcançar os objetivos. A transformação é trabalho de todos. Não é porque eu estou gerente é que devo delegar aos meus funcionários a tarefa de bater todas as metas. Tenho que participar do desenho da estratégia, do método, enfim, fazer a minha parte para que o resultado venha. Na FM2S a nossa área comercial trabalha muito próxima com a área de geração de conteúdos. Vendedores e doutores combinam muito. Quando não há barreiras departamentais, você garante que as coisas andem do jeito correto.


Para concluir, podemos afirmar que até a mesa do brasileiro foi afetada por esta grave crise que o país atravessa. Sendo assim, vamos aguardar o desenrolar na esperança de que os resultados comecem a mudar. Caso contrário, uma retração de 4% do PIB começa se desenhar. E o que poderia estar correlacionado com esta queda no consumo? Pergunto eu a você caro leitor. Para isto, vou deixar aqui alguns gráficos soltos e oferecer uma bolsa em nosso curso de Criatividade para aquele leitor que me apresentar um bom modelo de correlação com a queda no consumo de cerveja. Quais dos indicadores econômicos estão relacionados ao consumo? Fica o desafio.  Abordados no White BeltGreen Belt e Black Belt, além do Lean do PMP.



Quer mais dicas para entender a crise?



Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.