Condição-Alvo, Liderança e Zona Cinza: como se combinam?
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02 de julho de 2016

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Condição-Alvo, Liderança e Zona Cinza: como se combinam?

Condição-alvo: hoje, gostaria de falar sobre algo que muitos não gostam de assumir: o caminho para a melhoria é obscuro. Apesar do Green Belt, Black Belt, Master Black Belt, Mestrado, Doutorado e infinitos cursos que você possa ter, todo caminho para melhoria continua sendo obscuro. Para mim, os melhores cursos que fiz foram aqueles que partiram deste pressuposto e me ajudaram na hora de percorrer caminhos obscuros.



Modelo de Melhoria


O Modelo de Melhoria que ensinamos no Green Belt é comparável à uma potente lanterna, pois vai iluminar bastante os obscuros caminhos que irá perseguir. Toda a liderança e análise estatística do Black Belt, funcionará como uma importante arma para você defender-se dos perigos que aparecerão pelos caminhos que irá percorrer. Mas, ainda assim, todo caminho para melhoria é algo obscuro e todos da equipe precisam saber desta verdade.


Não adianta a sua chefe pedir que apresente um plano de como você chegará à meta, tin tin por tin tin, antes de começar o caminho em sua direção. É perda de tempo e colocará uma pressão desnecessária na equipe. Lembro-me de chefes que exigiam que antes de iniciarmos um projeto de melhoria, reportássemos todo o plano de ação e as entregas. Reportava o plano de ação em cima dos passos do DMAIC, mas isto não era o bastante.



Plano Detalhado do Futuro Incerto


O desejo era que elaborássemos um plano de ação detalhado sobre quais mudanças seriam feitas e como nós iríamos implementá-las. Diante de tais acontecimentos, lembrava-me de um grande mestre que um dia recitou: “quem pede bobagem, deseja ser enganado”. E, seguindo o mestre por quem tenho muito apreço, relatava itens que tinha certeza que iriam sofrer alterações de escopo. Fazíamos isto, pois toda a fundamentação teórica de que a gestão de projetos de melhoria, difere-se dos projetos de implantação, não era aceita. Não importava quantos autores, exemplos ou metáforas eu citava para defender meu ponto, sempre era solicitado a entregar todas as mudanças.


Sentíamos que ao fazer isto, havia uma transferência da ansiedade para nós, pois havíamos apresentado um plano detalhado para chegar na meta. Então, o trabalho dela estava concluído e caso não chegássemos, a culpa era toda nossa. Como ouvi relatos posteriores, alguns líderes pensam que liderar é chamar a equipe e distribuir suas pendências a eles. Aquela atitude que não compreendia, depois de muita análise, descobri que tinha o intuito de atender à uma necessidade de autoafirmação de nossa liderança. Eu, inocentemente, pensava que as necessidades do cliente estavam em primeiro lugar.


Voltando a arte da melhoria, espera-se que um grande líder comece definindo a condição atual e a condição alvo junto à sua equipe. Em seguida, comece a trabalhar por meio dos obstáculos que vão encontrando a medida que a equipe caminha no sentido à condição-alvo. E, é neste processo que acontecem a maioria dos aprendizados, sendo que a primeira lição nos fala que é mais fácil estabelecer a condição-lavo do que alcançá-la.



Condição-alvo


Portanto, para começar seu projeto de melhoria você precisa calibrar as suas expectativas de como procederá para alcançar a condição-alvo. Muitas vezes fazemos um plano e depois pretendemos executá-lo, mas a realidade não é linear e nem previsível o bastante para que essa seja uma maneira eficaz de alcançar nossas condições-alvo. Pense no pouso de uma aeronave.


Como sou piloto privado, lembro-me de quão complicado era por vezes, colocar aquela coisa no chão. Imagine que você está voando de férias com sua família, numa altitude de 30 mil pés. Diante desta condição atual, sua condição-alvo é o avião pousado na pista para que você possa começar a aproveitar as férias com sua família. E qual o plano do piloto para alcançar esta condição-alvo? Seguir a carta de descida do aeroporto, que é o caminho de descida planejado dos 30 mil pés até a pista.


Como você se sentiria sendo passageiro se o piloto fosse definir a trajetória de voo planejada para pousar a aeronave e depois disso não permitisse quaisquer ajustes nessa trajetória? No caminho dos 30 mil pés até o solo ocorrerão muitas rajadas de vento imprevisíveis e a aeronave não irá alcançar a pista. Ou, não irá alcança-la em condições seguras pelo menos.


Quando colocamos condições-alvo na empresa, não é diferente – ninguém pode, de antemão, mirar tão bem de forma a sempre acertar o alvo. Independente da qualidade do seu planejamento, você fará bem em assumir que o caminho para a condição-alvo não é completamente claro; é uma zona cinza, nublada e com neblina.



Complexidade


Todo passo dado produz reações no sistema, mas devido à interconectividade não sabemos exatamente quais serão essas reações. O que estamos realmente fazendo com um plano é realizar uma previsão e, independentemente de quanto nos esforcemos, os erros de planejamento não podem ser evitados. Problemas imprevistos, anomalias, suposições falsas e obstáculos aparecerão enquanto trabalhamos para seguir adiante. Isso é completamente normal e devemos prestar atenção a eles, fazendo ajustes com base no que estamos aprendendo ao longo do caminho.


Portanto, termino aqui dando um conselho aos Green Belt, Black Belt, Master Black Belts, PMPs e Especialistas Lean que me leem: aprendam a viver na zona cinza e a gostar dela. Eu aprendi tardiamente, durante o meu doutorado, aos 26 anos. Depois que aprendi, fiquei viciado, pois é na zona cinza que temos a certeza de estarmos aprendendo e evoluindo. Cada passo por ela, é recompensando por um sentimento de auto realização, nossa necessidade mais alta na hierarquia das necessidades de Maslow.



Agora é sua vez


Tenho certeza de que cada um de vocês tem uma história para contar de uma zona cinza que conseguiu vencer. Elas podem ser referentes a algum esporte, algum curso, alguma meta, algum projeto, enfim, a uma série de coisas. Um grande ensinamento sobre zona cinza tive com minha mãe, que aos 56 anos aprendeu a nadar. Foram 50 anos com medo e frustração por não saber nadar, até que ela tomou coragem e se lançou pela zona cinza. Foi um sucesso. Hoje, ela é a melhor nadadora da família e a única que treina toda semana, dando orgulho a todos nós. Por isto, reforço o convite: mergulhem na zona cinza esta semana e se lancem rumo a uma condição-alvo desejada.


Quer algumas dicas? Manter um peso saudável, vivendo bem e não precisando ir ao médico ou ao fisioterapeuta com frequência. Desenvolver-me como profissional por meio da leitura da novos artigos e conteúdos três vezes por semana. Ser um pai ou mãe mais presente, que acompanha cada conquista pela zona cinza de nossos filhos. Escolha uma e avance! Boa sorte.

Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.