O que o pronto socorro me ensinou sobre Green Belt?
Seis Sigma

29 de outubro de 2015

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

O que o pronto socorro me ensinou sobre Green Belt?

O Green Belt serve à saúde?


No artigo de hoje, gostaria de ousar. Para isto, permita-me fazer uma comparação não usual: pronto socorro e equipe de resolução de problemas de uma fábrica. Qual é a semelhança? Ambas devem resolver problemas de toda e qualquer natureza que não foram os causadores. Guardada as devidas proporções, já que no PS falamos de vidas e na fábrica de produtos defeituosos, esta análise parece-me interessante.


Quando alguém chega ao pronto socorro, é porque está com um grave problema. Não há razão para alguém com dor de garganta ou nariz entupido dirigir-se ao pronto atendimento, já que pode aguardar até o próximo dia para ser atendido e não concorrer com alguém que está realmente em apuros. Quando alguém dá entrado ao PS, está com problemas sérios e precisa ser atendido rapidamente, senão pode falecer.


Lembro-me de quando sofri um grave acidente de bicicleta, e depois de ser conduzido inconsciente ao pronto socorro, qual foi o primeiro procedimento médico. Lá chegando, o médico fez um diagnóstico e vendo que era grave, tratou de sedar-me e fazer exames (coletar dados) para elaborar um diagnóstico. Somente após a coleta de dados inicial, o médico viu tratar-se de um problema muito grave. O efeito era hemorragia cerebral e fratura múltipla cervical. Com este rápido diagnóstico, a equipe conseguiu adotar as medidas que me salvaram a vida.



Green belt e o pronto socorro


E na empresa? Quando identificamos uma peça com defeito na linha, o que devemos fazer? A mesma coisa. Devemos adotar as medidas para corrigirmos o problema o mais rápido possível, caso não façamos isto, o risco de continuarmos a produzir defeitos é grande. O Andon da Toyota, criado quando a Cia produzia teares, é isto. A fábrica para até que o defeito seja resolvido. E depois,para mapear a causa raiz, os engenheiros solicitam os dados (os exames) assim como os médicos e, não se dispersam até que o paciente (a linha) esteja fora de risco.


Após a primeira coleta de dados, se o problema for complexo, haverá várias dúvidas sobre a causa raiz. Nesta hora, lembro-me do Dr. House. Em todo episódio, ao tratar doenças desafiadoras, ele reúne sua equipe e lista as hipóteses. Depois, começa a excluí-las de acordo com os dados coletados. Quando sobram algumas, inicia uma sequência de testes para confirmar ou refutar as hipóteses. É neste processo, o PDSA clínico, que ele mata as charadas. Na empresa é a mesma coisa. Depois de listarmos as possíveis causas para os problemas que enfrentamos, nós a testamos. E, como na medicina, matamos a charada e salvamos o paciente, perdão, a linha.


Tratar o efeito para manter o paciente vivo. Se for grave, chamar toda a equipe e focar na solução do problema para salvar o paciente. Depois disto, listar as hipóteses e começar a testá-las. Encontrada a causa raiz, prescrever o remédio para solucioná-la. Este é o processo de resolução de problemas do PS e da equipe de qualidade. É este o plano de fundo de qualquer projeto ou método de melhoria. Simples assim. O problema é a disciplina para executá-lo sem distração e com foco. Lembre-se, se fosse um paciente você não o acompanharia até o final? Faça o mesmo com o defeito. Ainda bem que os médicos que me atenderam fizeram isto, pois fui uma causa especial difícil de tratar. Pense nisto amanhã galera e “salvem” as suas linhas. Green Belt e Black Belt, quando conectados à saúde, salvam vidas.

Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.