Ergonomia cognitiva: menos esforço, mais desempenho

Ergonomia cognitiva: menos esforço, mais desempenho

Quando se fala em ergonomia no trabalho, o primeiro pensamento costuma estar relacionado a postura, mobiliário ou esforço físico. Mas o desempenho de uma equipe também depende de como o ambiente organiza a informação, apresenta tarefas e permite a tomada de decisão.

Você já parou para pensar quanto tempo sua equipe perde tentando interpretar um sistema mal desenhado? Ou quantas decisões erradas são tomadas por excesso de informação mal distribuída?

A proposta deste conteúdo é mostrar, de forma prática, por que a ergonomia cognitiva não é um detalhe técnico. É parte da produtividade, da segurança e da qualidade das entregas. 

O que é ergonomia cognitiva?

A ergonomia cognitiva trata das interações entre mente e ambiente de trabalho, com foco em como os indivíduos recebem, processam e respondem às informações durante a execução de tarefas. 

O conceito ganhou força a partir da década de 1980, quando estudos passaram a considerar não só os aspectos físicos da atividade, mas também os fatores mentais envolvidos na operação de sistemas complexos.

A disciplina nasceu do desdobramento da ergonomia clássica, adaptando-se à realidade de ambientes onde o trabalho depende fortemente de processos mentais, como atenção, percepção, memória e tomada de decisão

Isso inclui desde operadores de sistemas automatizados até profissionais administrativos e da saúde. Em todos esses contextos, o foco está em reduzir a sobrecarga cognitiva e melhorar a interface entre o humano e o sistema.

No contexto corporativo, a ergonomia cognitiva vem sendo aplicada para aprimorar o desempenho, reduzir erros e melhorar a segurança operacional.

A ergonomia cognitiva busca entender como o cérebro reage às exigências do trabalho e propõe soluções para que as decisões sejam tomadas com mais clareza e menos esforço mental.

Como ela se diferencia da ergonomia física?

Enquanto a ergonomia física se preocupa com postura, esforço muscular e conforto corporal, a ergonomia cognitiva atua sobre os processos mentais necessários para executar uma tarefa de forma segura e eficiente.

Imagine um posto de trabalho ergonomicamente correto do ponto de vista físico, mas com um sistema de navegação confuso, instruções mal escritas e excesso de alertas sonoros. Mesmo com boas cadeiras e iluminação adequada, o desempenho tende a cair. É aí que entra a ergonomia cognitiva, para alinhar as exigências mentais com a forma como o ambiente se apresenta ao trabalhador.

Esse tipo de ergonomia é cada vez mais relevante à medida que os processos produtivos passam a exigir menos esforço físico e mais tomada de decisão, análise de dados e raciocínio lógico.

Por que trabalhar a ergonomia cognitiva no ambiente de trabalho?

O desempenho de uma equipe está diretamente ligado a como as tarefas são estruturadas. Mas será que as demandas do trabalho estão organizadas de acordo com o modo como as pessoas pensam, processam e decidem? Ou exigem que o cérebro se adapte a um ritmo operacional que não foi feito para ele?

Essa é a base da ergonomia cognitiva. Ela parte do reconhecimento de que há um limite para o quanto conseguimos manter o foco, reter informações e alternar entre atividades sem perder eficiência. Quando a estrutura das tarefas ignora esses fatores, os resultados caem não por falta de conhecimento técnico, mas por excesso de esforço mental desnecessário.

E como isso se manifesta? Em ciclos repetidos de retrabalho, decisões lentas e falhas que poderiam ser evitadas. A ergonomia cognitiva propõe repensar esses fluxos: o que precisa mesmo da atenção do colaborador e o que poderia ser automatizado ou simplificado? O ganho está na redução da fricção entre quem executa e o ambiente onde essa execução acontece.

Impactos sobre atenção, memória e tomada de decisão

As consequências da sobrecarga cognitiva podem passar despercebidas em um primeiro momento, mas se acumulam no dia a dia. Um sistema mal projetado pode induzir o colaborador ao erro, simplesmente por exigir que ele memorize informações que poderiam estar visíveis ou por apresentar comandos com lógica confusa.

Com o tempo, esse cenário prejudica a atenção seletiva, esgota a memória de trabalho e torna a tomada de decisão mais lenta e vulnerável a falhas. O impacto atinge diretamente a qualidade das entregas e, em casos críticos, pode comprometer a segurança, especialmente em áreas como transporte, saúde e controle de processos industriais.

A ergonomia cognitiva atua para tornar o ambiente mental de trabalho mais estável. Reduz ruídos, organiza informações e facilita a recuperação de dados relevantes, o que permite decisões mais consistentes e seguras, mesmo em condições de pressão.

Como promover a ergonomia cognitiva no trabalho

Aplicar ergonomia envolve repensar como o trabalho é estruturado e como o colaborador interage com informações, sistemas e decisões. A seguir, estão cinco frentes que podem ser incorporadas no cotidiano das organizações, não como mudanças complexas, mas como parte de uma gestão mais atenta à lógica do pensamento humano.

Diagnosticar os pontos de fricção cognitiva

O primeiro passo é identificar onde o esforço mental está sendo desperdiçado. Isso pode incluir tarefas com instruções ambíguas, sistemas que exigem memorização constante ou ambientes com excesso de estímulos simultâneos.

Uma forma de iniciar esse diagnóstico é perguntar: onde ocorrem mais erros, dúvidas recorrentes ou atrasos na tomada de decisão? Esses sintomas geralmente apontam para conflitos entre o funcionamento da tarefa e a forma como o cérebro processa informações.

Análises simples de fluxo de trabalho, entrevistas com usuários e observação direta ajudam a mapear esses pontos. O objetivo não é apenas listar problemas, mas entender como o ambiente está pressionando o raciocínio além do necessário.

Organizar a informação conforme a lógica do usuário

A disposição da informação afeta diretamente a capacidade de interpretação e ação. Quando a estrutura de uma tarefa segue a lógica de quem a executa e não apenas de quem a criou, o tempo de resposta cai e os erros diminuem.

Para isso, é preciso entender como as pessoas tomam decisões em cada etapa. O que elas procuram primeiro? Qual dado precisa estar disponível de forma imediata? O que pode ser omitido até que se torne relevante?

Informação mal posicionada gera retrabalho. Já a informação que respeita o fluxo mental do usuário agiliza a execução e reduz a necessidade de explicações adicionais.

Reduzir a carga mental em tarefas críticas

Atividades com impacto direto em segurança, produtividade ou atendimento ao público exigem foco e consistência. Em vez de esperar que o colaborador compense falhas no sistema com atenção redobrada, é preciso remover o excesso de esforço.

Isso envolve revisar o número de etapas envolvidas, eliminar confirmações desnecessárias e automatizar partes que não exigem julgamento humano. Toda decisão que pode ser apoiada por contexto claro e visível diminui a carga mental.

A ergonomia cognitiva propõe desenhar tarefas de modo que o trabalhador use energia cognitiva onde ela faz diferença — e não onde está corrigindo falhas do ambiente.

Incluir ergonomia cognitiva no desenho de sistemas e processos

A maioria dos sistemas corporativos é construída com base na lógica técnica, não cognitiva. Botões iguais, caminhos confusos, mensagens genéricas: tudo isso força o colaborador a se adaptar. O ideal seria o oposto.

Inserir ergonomia cognitiva já na fase de desenho de processos evita retrabalho no futuro. Isso exige a presença de profissionais que compreendam como o cérebro opera sob pressão, e que tragam perguntas como: “essa ação é intuitiva?” ou “o sistema responde do jeito que o usuário espera?”

Processos bem desenhados não dependem de manuais longos ou treinamento exaustivo. Eles funcionam porque foram pensados com base em como as pessoas realmente operam.

Capacitar lideranças para identificar sobrecarga mental

A gestão também precisa aprender a reconhecer sinais de sobrecarga cognitiva. Nem sempre ela se apresenta como erro. Às vezes, aparece como queda de ritmo, dificuldade de concentração ou necessidade constante de validação.

Líderes que compreendem os limites cognitivos da equipe conseguem intervir antes que o problema afete a entrega. Isso não exige formação técnica em neurociência, mas sim disposição para observar padrões de desgaste mental e ajustar metas, ferramentas e rotinas.

Promover ergonomia cognitiva é, também, uma prática de liderança. Quando o gestor entende como o ambiente afeta o pensamento, passa a fazer perguntas melhores, e a encontrar soluções mais funcionais.

Exemplos de ergonomia cognitiva nas empresas

Identificar onde aplicar ergonomia cognitiva nem sempre exige grandes mudanças. 

A seguir, veja cinco exemplos de como isso já vem sendo feito em ambientes corporativos e como você pode avaliar se eles fazem sentido para a sua realidade.

1. Sistemas com menus organizados por frequência de uso

A disposição dos itens em uma interface influencia o tempo de resposta. Quando os comandos mais utilizados estão posicionados no topo do menu ou acessíveis com menos cliques, o esforço mental diminui. O objetivo é facilitar o acesso ao que é usado com mais frequência.

Por que forçar o colaborador a navegar por cinco abas para acessar algo que ele consulta dez vezes ao dia? Sistemas pensados com base no comportamento do usuário reduzem o tempo de operação e liberam a atenção para decisões mais relevantes.

2. Telas que destacam alertas com base em criticidade

Nem todo aviso merece o mesmo grau de destaque. Quando tudo pisca ou emite som, nada se sobressai e os alertas importantes podem passar despercebidos. Um sistema com boa ergonomia cognitiva diferencia avisos com base em criticidade, contexto e urgência.

Isso ajuda o colaborador a priorizar a resposta. 

3. Instruções operacionais com linguagem direta e visual

Textos longos e cheios de termos técnicos aumentam o tempo de compreensão e ampliam o risco de interpretação errada. Instruções operacionais que usam verbos diretos, sequência lógica e, quando possível, apoio visual (fluxogramas, ícones ou imagens) são mais fáceis de seguir.

A pergunta que orienta esse ajuste é: quanto tempo leva para entender o que precisa ser feito? 

4. Redução de cliques e etapas em processos repetitivos

Tarefas repetitivas consomem tempo e concentração. Quando cada execução exige múltiplas confirmações, caminhos redundantes ou validações manuais, o cérebro entra em modo de sobrecarga.

Automatizar parte dessas ações, agrupar comandos e eliminar etapas desnecessárias reduz o esforço cognitivo. Quanto menos o colaborador precisar compensar o sistema, mais fluida será a operação.

5. Ambientes silenciosos para tarefas que exigem foco

O ruído não afeta apenas o ouvido. Ele fragmenta a atenção e exige que o cérebro faça esforço adicional para manter o foco. Em atividades que demandam análise, cálculos ou interpretação de dados, o ambiente interfere diretamente na produtividade.

Oferecer áreas com baixa interferência sonora ou permitir o uso de fones com isolamento ajuda a proteger o raciocínio. Silêncio, nesses contextos, não é conforto é ferramenta de desempenho.

Ferramentas que ajudam a aplicar a ergonomia cognitiva

Promover ergonomia cognitiva exige mais do que ajustes intuitivos. Algumas ferramentas ajudam a diagnosticar, projetar e validar soluções com base no comportamento mental de quem executa as tarefas. Não se trata de adotar softwares caros, mas de aplicar métodos que tornam o ambiente mais alinhado com a lógica de quem pensa e decide sob pressão.

Análise de tarefas cognitivas: onde o pensamento trava

A Cognitive Task Analysis (CTA) permite mapear quais decisões o trabalhador toma, quando e com quais dados. Esse método ajuda a identificar:

  • Onde há sobreposição de estímulos
  • Em quais etapas o operador precisa “adivinhar” o que fazer
  • Que tipos de memória estão sendo exigidos além do necessário

É uma ferramenta útil para entender a diferença entre a tarefa desenhada no papel e a tarefa como realmente acontece.

Mapas de informação: o que circula e o que se perde

Em muitos setores, a informação circula com ruído. Mapas de fluxo informacional ajudam a enxergar:

  • Onde dados se perdem ou se repetem
  • Se a informação chega no momento certo
  • Quem precisa de qual conteúdo e por qual canal

Com esse mapa, fica mais fácil redesenhar processos e sistemas para apoiar o raciocínio, e não travar decisões.

Avaliando sistemas com base em percepção e lógica

A norma ISO 9241-110 traz um checklist valioso para avaliar a usabilidade de sistemas. Ela aborda critérios como:

  • Previsibilidade de ações
  • Clareza de comandos e mensagens
  • Carga de memória exigida
  • Feedbacks que confirmam ações corretas ou alertam sobre erros

Esse tipo de avaliação é especialmente útil antes de liberar novas versões de softwares internos ou telas de operação.

Escutar quem executa

Nenhuma ferramenta substitui a observação direta. Entrevistar operadores, técnicos ou analistas permite entender quais decisões cansam, onde surgem dúvidas e o que poderia ser mais direto.

Mesmo sem formalizar um método, essa escuta já oferece base suficiente para ajustes. A ergonomia cognitiva não depende só de engenheiros ou analistas de sistemas — ela começa quando alguém pergunta: “Isso aqui podia ser mais simples?”

5S como apoio à ergonomia

Embora o 5S seja aplicado principalmente ao ambiente físico, ele também atua na redução do esforço mental durante a execução das tarefas. Ao eliminar excessos, organizar o espaço e padronizar o que precisa ser feito, o 5S diminui a quantidade de decisões irrelevantes ao longo do dia. O resultado é um ambiente mais previsível, leve e funcional para quem trabalha.

Veja como cada etapa do 5S contribui para aliviar a carga cognitiva:

Seiri (Utilização): remove o que não é necessário. Menos itens disponíveis significa menos estímulos competindo pela atenção.

Seiton (Ordenação): organiza o que fica. Tudo tem um lugar definido, reduzindo o tempo de busca e evitando dúvidas operacionais.

Seisou (Limpeza): mantém o ambiente livre de distrações visuais. A limpeza constante contribui para a concentração.

Seiketsu (Padronização): evita variações desnecessárias entre tarefas semelhantes. Isso reduz a necessidade de lembrar regras específicas para cada situação.

Shitsuke (Disciplina): garante que o sistema se sustente sem exigir controle contínuo. Um ambiente estável preserva energia mental para decisões que realmente importam.

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Equipe FM2S

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