Bom senso: cuidado com ele, pode ser perigoso
Gestão e Liderança

07 de setembro de 2016

Última atualização: 08 de julho de 2025

Bom senso: cuidado com ele, pode ser perigoso

Dizia Descartes que o bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os mais difíceis de contentar com qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. Diante de tal afirmação, fica fácil entender o porquê de tanta discussões, raiva e tempo perdido encontramos por aí. O método Cartesiano nos ajuda a escapar deste traiçoeiro caminho.

No post de hoje, vamos apresentar o que é bom senso e, mais importante, quais são seus riscos.

Definição de bom senso

O dicionário Priberam define bom senso como: “Equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta”.

Em outras palavras, trata-se da habilidade de tomar decisões equilibradas com base nas informações disponíveis. Ter bom senso significa agir de forma razoável e fazer julgamentos que se adaptem adequadamente ao contexto vivido.

Exemplo de bom senso:

Imagine que você tem uma entrevista de emprego importante no dia seguinte de manhã, bem cedo. O bom senso indicaria que é melhor ir dormir cedo para estar descansado e atento no outro dia, ao invés de ficar acordado até de madrugada.

Outro exemplo: pense em um investidor diante de uma oscilação do mercado. Em vez de tomar decisões impulsivas e vender tudo por medo, ele avalia os dados, considera o cenário econômico e segue sua estratégia. Nesse caso, o bom senso se manifesta na disciplina e na análise racional, não na reação emocional.

Como colocar o bom senso em ação?

Há reuniões de projetos ou estratégicas em que o “bom senso” domina as discussões, o que leva a embates épicos sobre quem está certo. Essas discussões têm como produto uma decisão mal fundamentada e muito rancor acumulado em todos os presentes, o que não é benéfico para nenhuma organização.

Quando vejo um embate destes, relembro que a diversidade de nossas opiniões não se deve a uns serem mais racionais que os outros. Se deve por termos conduzido nossos pensamentos por vias diversas e por não termos considerado as mesmas coisas. É que o processamento dos fatos que vocês observaram tiveram interpretações diferentes, pois cada um possui um modelo mental.

Lembro-me de uma discussão interessante. Discorríamos sobre como atacar algumas metas desafiadoras e no momento definirmos a estratégia, começamos um embate. Quando citei a utilização de um Programa de Melhoria, vi que um dos membros se mostrou contrário. Na percepção dele, preferia-se que tentássemos alcançar o objetivo por meio de projetos gerenciando pela metodologia tradicional de Gestão de Projetos. Então, paramos e pensamos: qual seria realmente a melhor solução? Qual ferramenta poderia nos ajudar a responder tal questão? De certo que não era apelarmos para o bom senso, pois ambos achávamos termos bom senso em excesso e estarmos corretos.

Para resolver esse problema, começamos a discorrer sobre o caminho que os pensamentos haviam feito para sugerirmos essas estratégias. Por que você pensou no Programa de Melhoria e por que a outra pessoa pensou na Gestão de Projetos? Eu sei, não foi fácil convencermos os atores a explicarem o caminho que seus pensamentos haviam feito. Se deixar, vamos acabar preferindo o embate e, depois que entramos na discussão, é complicado alguém deseja encerrá-lo.

Mas quando começamos a discutir, ficou claro que o ponto principal para a tomada de decisão era a resposta da questão: nós sabemos o que precisamos fazer para batermos as metas? Se a resposta fosse não, deveríamos adotar a estratégia do Programa de Melhoria. Mas se a resposta fosse sim, era melhor adotarmos a abordagem tradicional de Gestão de Projetos.

Quais os riscos do bom senso?

Definidos os pontos, começa a discutir cada uma das metas e mais discussão deu-se à mesa. Na cabeça de uns, sabíamos como alcançar a meta, na de outros, apenas achávamos. Antes que começássemos mais uma discussão sem fim, um dos presentes perguntou: há como testarmos se a estratégia proposta por alguns é realmente conhecida? Ou a meta é fruto de um sistema complexo (economia, empresa, investimentos, desenvolvimento etc) que precisa ser melhorado?

Com essa pergunta, a teoria do “sabemos o que precisa ser feito” foi derrubada. E assim, todos concordaram em instituir o Programa de Melhoria, pois é a metodologia certa para alcançar objetivos complexos, que envolvem muitas variáveis. Ao final da reunião, tínhamos uma decisão tomada em bases sólidas, sem que ninguém do grupo saísse com a sensação de ter sido preterido ou vitorioso em seus argumentos “racionais”. Explicar o porquê da sua opinião alinhado todos os envolvidos, é um fator chave para uma reunião de trabalho produtiva.

Devemos lembrar, que enquanto defendemos bravamente nosso ponto de vista, em geral deixamos de questionar um ponto crucial sobre o qual se baseia nossa posição no diálogo: eu estou certo, você está errado. Essa simples suposição causa um sofrimento infinito. Os diálogos difíceis envolvem confrontar percepções, interpretações e valores. Não são sobre qual a melhor decisão, mas sobre os motivos que sua decisão está errada.

Sempre que nos pegarmos partindo para este caminho, segure-se. É preciso que se acalme. Respire e retome a consciência para discutir os argumentos lógicos e as percepções do seu colega para entender o porquê ele diz aquilo. Depois, procure argumentar em cima de pontos comuns dos seus caminhos e definam um critério comum para que a decisão seja tomada.

Aprendemos que a gestão não se faz por bom senso. É preciso ter metas, benchmarks e análises aprofundadas antes de pensar nas ações. O uso de ferramentas estatísticas que correlacionam os indicadores de desempenho e os da empresa tem nos ajudado a conhecer o perfil mais adequado à natureza do negócio e identificar as competências e capacitações necessárias.

Cuidado

Diz-se que o bom senso é abundante porque todos acreditam já possuir o suficiente. Essa confiança, muitas vezes exagerada, leva à ideia de que liderar uma equipe ou gerenciar uma empresa exige apenas “senso prático”. É comum ouvir que basta sentar na cadeira e começar a tomar decisões.

Mas o que chamamos de bom senso não é neutro. Ele é moldado por valores pessoais, experiências e, principalmente, pelo contexto cultural. Um comportamento visto como razoável por alguém em uma cultura pode ser interpretado de forma oposta por outro grupo. 

Ou seja, o bom senso varia conforme o meio em que a pessoa vive. Essa subjetividade torna arriscado tomar decisões importantes apenas com base nele. O que funciona em uma cultura organizacional pode falhar em outra. O que parece “óbvio” para um gestor pode ser visto como inadequado por sua equipe.

Por isso, é o método que garante consistência. Ele orienta decisões com base em dados, processos e práticas comprovadas. E o método não se aprende só em sala de aula ele precisa ser colocado em prática, acompanhado e reforçado no dia a dia. É o método que reduz o risco da decisão se basear apenas em interpretações pessoais.

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Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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