O novo nem sempre supera o que já funciona
Gestão da Qualidade

01 de maio de 2015

Última atualização: 25 de setembro de 2025

O novo nem sempre supera o que já funciona

Trocar de carro pode ser só uma necessidade. Mas, às vezes, é também um impulso. Aquele desejo de ver algo novo na garagem, de acompanhar uma tendência, de mostrar mudança. E tudo isso pode até fazer sentido se a troca for melhor do que o que se tinha.

Nem sempre é.

Há escolhas que parecem evoluções, mas que, na prática, tiram mais do que entregam. Não é raro deixar algo confiável para trás, só porque já não parece atual. O problema não está na mudança em si, mas no critério usado para decidir. Quando a aparência pesa mais que o desempenho, o resultado costuma vir com prazo curto de satisfação.

Este texto não é sobre carros. É sobre decisões que colocam a forma acima da entrega. E sobre o que se perde quando a qualidade fica fora da equação.

Uma decisão de impulso

Era cedo, mas ele já sabia o que queria. Parou o carro antigo na frente da concessionária e entrou sem hesitar. O modelo que dirigia há anos já não chamava atenção, a lataria perdia o brilho, o estofado mostrava sinais de uso, mas mesmo assim, nunca o deixou na mão.

A escolha do novo carro não teve comparação técnica, nem análise cuidadosa. Pesou mais o visual. A carroceria brilhava sob o sol, os faróis pareciam mais modernos, as rodas davam um ar mais esportivo, isso foi o suficiente para convencer. Não fez uma pergunta e nem pediu para testar. Decidiu ali, pela aparência.

Os primeiros sinais ignorados

Nos primeiros dias, tudo parecia certo. Compartilhou fotos, ouviu elogios e teve a sensação de que a troca tinha sido acertada. Era o carro mais comentado por onde passava, mas o encanto começou a ceder espaço a pequenos incômodos.

Vieram os barulhos no painel, a rigidez da suspensão, o gasto acima do esperado no consumo. Achou que era questão de adaptação. Só que esses detalhes, ignorados no começo, passaram a pesar no uso diário.

A escolha feita pelo que se via no espelho retrovisor deixou para trás o que realmente importava: a qualidade que ele já tinha, mas não valorizou.

Quando a aparência não sustenta a escolha

Ele não leu o manual, não comparou versões, tampouco procurou por avaliações técnicas. Sem usar o racional, foi no impulso e confiou no brilho da pintura, no painel digital e no cheiro de carro novo. O antigo, embora sem atrativos visuais, era estável. Cumpria seu papel como automóvel.

Já o novo começou a mostrar que o impacto visual escondia falhas sutis. Acostumado a um carro que entregava desempenho sem surpresas, ele começou a perceber que havia trocado segurança por aparência.

Confiança não se compra, se constrói

O carro antigo não era perfeito, mas carregava uma história. A confiança não veio da marca, nem da propaganda. Foi construída aos poucos, nos trajetos diários, nos imprevistos superados, nas viagens longas feitas sem receio.

O novo, por outro lado, exigia cautela desde os primeiros quilômetros. A cada ruído, uma incerteza. A cada parada inesperada, a sensação de arrependimento. Não era apenas o desconforto. Era a falta de vínculo. A ausência de confiança transformava cada trajeto em um teste.

Ficou claro que, por mais que se invista em aparência, confiança exige tempo e entrega.

A parábola da qualidade

A história do carro não é sobre carro. É sobre tomar decisão mal calibrada, sobre o peso que se dá ao que aparece e a negligência com o que realmente sustenta. Na pressa por mudar, por atender a expectativas externas ou simplesmente sair da rotina, abriu-se mão do que funcionava bem. Não por estar ruim, mas por parecer velho demais.

Essa troca representa escolhas que parecem modernas, atualizadas, desejáveis, mas que ignoram aquilo que não se vê de imediato. A busca pela novidade acaba vencendo a análise do desempenho, da entrega e da confiabilidade. Isso vale para produtos, sim. Mas vale ainda mais para decisões profissionais, contratações apressadas, mudanças feitas com base em impressões.

O carro é só a metáfora. O que se troca, muitas vezes, não é só o que se tem, mas o que se conhece. E abrir mão do que é conhecido, quando ainda funciona bem, pode custar mais do que se imagina.

Qualidade vai além da embalagem

Qualidade não é aparência, não é novidade e tampouco impacto imediato. É a soma entre consistência, funcionalidade e adequação ao que se propõe fazer. Um produto, um processo ou uma pessoa de qualidade entrega resultado com estabilidade, mesmo sem alarde. Funciona hoje, amanhã e no mês seguinte sem exigir atenção constante.

É fácil confundir inovação com valor. Mas trocar o que funciona só porque parece antigo pode gerar mais perda do que ganho. Isso não significa que mudanças devem ser evitadas ou que o tradicional deve ser mantido a qualquer custo. A questão não está em mudar, mas em saber por quê e com base em quê. Nem toda atualização representa avanço.

O erro foi trocar o que entregava com constância por algo novo que apenas aparentava ser melhor.

A mudança faz parte, só não pode ser uma decisão baseada apenas no impulso. Porque, no fim, o que sustenta qualquer escolha, seja uma ferramenta, uma equipe ou um caminho é a capacidade de entregar o que promete, sem depender de aparência para justificar sua permanência.

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Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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