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Estatística

26 de maio de 2025

Teste de Duncan e Scheffé: diferenças e quando usar

Quando uma análise de variância (ANOVA) revela que há diferenças entre grupos, surge um ponto-chave: quais dessas médias realmente se diferenciam? Para responder a essa pergunta com precisão, entram em cena os testes pós-hoc.

No controle de qualidade, na pesquisa científica ou no setor agroindustrial, escolher o teste estatístico certo evita decisões baseadas em interpretações equivocadas. Entre as opções mais utilizadas estão o Teste de Duncan e o Teste de Scheffé. Ambos têm como objetivo comparar médias após a ANOVA, mas seguem lógicas distintas quanto ao rigor estatístico e à sensibilidade na detecção de diferenças.

Neste conteúdo, você vai entender como funcionam esses dois testes, quando aplicá-los, e como interpretar seus resultados na prática. A proposta aqui não é apenas apresentar fórmulas, mas mostrar como elas influenciam decisões técnicas no dia a dia — seja na avaliação de formulações industriais ou na comparação de produtividade de fertilizantes em um experimento de campo.

O que são os testes pós-hoc na estatística?

Depois de aplicar uma ANOVA e identificar que existe diferença entre os grupos analisados, surge uma nova dúvida: quais grupos realmente diferem entre si? É aí que entram os testes pós-hoc.

Esses testes são procedimentos estatísticos usados após a verificação de um resultado significativo na análise de variância. Eles detalham quais comparações entre médias são estatisticamente diferentes, sem aumentar o risco de cometer erros do tipo I, ou seja, indicar diferença onde não existe.

Por que eles são necessários após a ANOVA?

A ANOVA detecta se há diferença entre médias, mas não mostra exatamente onde essa diferença ocorre. Em um experimento com cinco grupos, por exemplo, o teste F pode indicar que há diferença em pelo menos um par, mas não aponta quais pares são diferentes.

Se comparássemos todas as combinações possíveis entre os grupos sem controle, o risco de identificar falsos positivos aumentaria. Um falso positivo ocorre quando o teste indica que existe uma diferença entre grupos, mesmo que, na realidade, essa diferença não exista. Isso compromete a confiabilidade do resultado e pode levar a conclusões erradas.

Para evitar esse tipo de erro, utilizam-se os testes pós-hoc, que ajustam o nível de significância e tornam o resultado mais confiável.

Tipos mais comuns de testes múltiplos

Dentre os testes pós-hoc disponíveis, alguns métodos são mais frequentes em pesquisas científicas e aplicações profissionais. O teste de Tukey é utilizado por seu equilíbrio entre controle de erro e poder estatístico. Já o teste de Bonferroni é mais conservador, indicado quando o número de comparações é elevado.

No entanto, quando se busca identificar diferenças específicas com abordagens mais flexíveis ou robustas, testes como o de Duncan e o de Scheffé passam a ser considerados. Cada um deles tem particularidades na forma como ajustam os erros e agrupam as médias, o que influencia diretamente na interpretação dos resultados.

Quando usar o Teste de Duncan?

Teste de Duncan é indicado quando o objetivo é comparar médias de grupos que passaram por diferentes tratamentos e entender quais deles apresentam diferenças reais com mais sensibilidade. Ele é especialmente útil quando se prioriza a identificação de diferenças reais, mesmo com maior tolerância a erros do tipo I.

Diferente de métodos mais conservadores, o Duncan oferece uma abordagem mais flexível e com maior poder para detectar contrastes, sendo recomendado em experimentos com alta variabilidade e foco exploratório, como testes agronômicos, zootécnicos ou ensaios laboratoriais com múltiplas condições de análise.

Como funciona o método de comparações múltiplas de Duncan

O Teste de Duncan utiliza o conceito de Diferença Mínima Significativa (DMS) para comparar todas as médias, mas faz isso de forma sequencial e agrupada. As médias são organizadas em ordem crescente, e a comparação entre elas é feita respeitando a distância entre os pares.

Ou seja, ele compara médias próximas com um critério mais rigoroso e relaxa esse critério à medida que a distância entre as médias aumenta. Isso permite formar grupos de médias que não diferem estatisticamente entre si e destacar aquelas que se sobressaem.

Esse procedimento torna o teste mais sensível do que o de Tukey, por exemplo. Em compensação, o risco de encontrar diferenças que não existem (falso positivo) aumenta.

Vantagens do teste de Duncan em estudos experimentais

O principal benefício do Teste de Duncan é sua capacidade de detectar diferenças sutis entre médias, o que pode ser relevante em experimentos com muitos tratamentos. Em contextos como agricultura, nutrição animal ou testes de formulações industriais, essa sensibilidade ajuda a identificar pequenos ganhos de desempenho entre opções avaliadas.

Além disso, o teste permite a formação de grupos homogêneos, o que facilita a interpretação visual dos resultados. Essa clareza é vantajosa quando os dados precisam ser apresentados em relatórios técnicos ou reuniões com foco em tomada de decisão.

Por outro lado, o uso do Duncan deve ser feito com critério. Por ser menos conservador, ele pode apontar mais diferenças do que realmente existem. Por isso, sua aplicação é mais adequada quando se busca ampliar a identificação de contrastes, e não em contextos onde é fundamental controlar rigorosamente o erro estatístico.

Fórmula do Teste de Duncan: como é calculada?

O cálculo do Teste de Duncan parte da ideia de comparar médias usando a Diferença Mínima Significativa (DMS) ajustada pelo número de tratamentos e pelo erro experimental. A fórmula é derivada da estatística do teste de Student-Newman-Keuls (SNK), com base na distribuição q de Studentizada.

A DMS entre duas médias i e j é definida por:

DMSr= Qr,v* √(MSerro/n)

Onde:

  • Qr,v:​ é o valor da estatística q da tabela de distribuição studentizada (dependente do número de médias comparadas r e graus de liberdade ν),
  • MSerro:​ é o quadrado médio do erro da ANOVA,
  • n: é o número de repetições por tratamento.

Na prática, as médias são ordenadas do menor para o maior valor. Em seguida, o teste compara pares sequenciais com base na DMS correspondente à distância entre as médias.

Quanto maior o número de tratamentos entre dois grupos, mais permissiva é a comparação. Por isso, o teste tende a detectar mais diferenças — com o custo de menor rigor estatístico em pares mais distantes.

Esse procedimento sequencial permite identificar grupos homogêneos de médias, facilitando a interpretação dos dados em estudos experimentais.

Exemplo do Teste de Duncan em controle de qualidade

Imagine que uma indústria química está avaliando quatro formulações de detergente com o objetivo de verificar qual delas apresenta melhor desempenho na remoção de gordura. O desempenho é medido por um índice numérico padronizado após teste laboratorial. Cada formulação foi testada em triplicata, com os seguintes resultados médios:

  • F1: 78,4
  • F2: 80,1
  • F3: 83,6
  • F4: 85,3

Após aplicar a ANOVA, verifica-se que existe diferença estatística entre as médias. O próximo passo é identificar quais formulações realmente se diferenciam entre si — é aí que entra o Teste de Duncan.

Com o valor do quadrado médio do erro (MSerro) obtido da ANOVA e o número de repetições, calcula-se a Diferença Mínima Significativa (DMS) para cada comparação entre pares de médias. Por exemplo:

DMSr= Qr,v* √(MSerro/n)

Supondo que o valor crítico Q e o MSerro resultem em:

  • DMS para comparações com distância de 1 posição: 1,1
  • DMS para comparações com distância de 2 posições: 1,3
  • DMS para comparações com distância de 3 posições: 1,5

A ordenação das médias do maior para o menor é:

  • F4 (85,3)
  • F3 (83,6)
  • F2 (80,1)
  • F1 (78,4)

Agora comparamos:

  • Diferença entre F4 e F3 = 1,7 → maior que DMS (1,1) → há diferença
  • Diferença entre F4 e F2 = 5,2 → maior que DMS (1,3) → há diferença
  • Diferença entre F4 e F1 = 6,9 → maior que DMS (1,5) → há diferença
  • Diferença entre F3 e F2 = 3,5 → maior que DMS (1,1) → há diferença
  • Diferença entre F3 e F1 = 5,2 → maior que DMS (1,3) → há diferença
  • Diferença entre F2 e F1 = 1,7 → maior que DMS (1,1) → há diferença

Com esses dados, o teste de Duncan indicaria diferença significativa entre todas as formulações, permitindo que o setor de qualidade escolha a melhor opção com base em evidências estatísticas. A formulação F4 foi considerada superior porque apresentou a maior média de desempenho na remoção de gordura (85,3), e essa média foi estatisticamente superior a todas as demais, de acordo com os critérios estabelecidos pelo teste.

Ou seja, além de apresentar o maior valor médio, a diferença entre F4 e cada uma das outras formulações excedeu a Diferença Mínima Significativa (DMS) em todos os casos. Isso confirma que o desempenho observado não é fruto de variação aleatória, mas sim uma evidência concreta de que F4 oferece melhor performance, dentro do conjunto avaliado.

O que é o Teste de Scheffé?

O Teste de Scheffé é uma técnica estatística utilizada após a ANOVA para comparar médias entre grupos. Sua principal característica é o controle rigoroso do erro do tipo I, mesmo quando o número de comparações é elevado ou quando o pesquisador quer testar contrastes não planejados previamente.

Esse método é considerado mais conservador que outros testes pós-hoc, como Duncan ou Tukey. Ele protege contra conclusões precipitadas, sendo ideal em situações onde é necessário garantir máxima cautela estatística ao apontar diferenças.

Diferença na abordagem do Scheffé frente aos demais

Ao contrário do Teste de Duncan, que é mais sensível e permite detectar diferenças com mais facilidade, o Teste de Scheffé aplica um critério mais rigoroso para declarar que duas médias são diferentes. Isso acontece porque sua fórmula ajusta a significância para todos os possíveis contrastes — inclusive aqueles que não estavam previstos antes da análise.

O teste é baseado em uma estatística F modificada, que considera qualquer combinação linear das médias, não apenas comparações entre pares. Essa flexibilidade exige mais do dado: a evidência deve ser mais forte para ser considerada significativa.

Em termos práticos: se o objetivo é evitar ao máximo o risco de falsos positivos, o Teste de Scheffé é uma das opções mais seguras.

Aplicações mais recomendadas do teste

O Teste de Scheffé é recomendado em pesquisas exploratórias, com grande número de grupos ou quando há interesse em contrastes complexos, como somas ou diferenças entre subconjuntos de médias.

Também é comum sua aplicação em estudos acadêmicos, ensaios clínicos e análises de políticas públicas, onde é importante garantir evidência robusta antes de aceitar qualquer inferência estatística.

Por seu perfil conservador, é menos utilizado em ambientes industriais ou comerciais que priorizam decisões rápidas com base em diferenças menores. Nestes, métodos como Duncan ou Tukey costumam ser preferidos.

Interpretação dos resultados no Scheffé

Ao aplicar o Teste de Scheffé, os resultados indicam quais comparações são estatisticamente significativas de acordo com um limiar mais exigente. Em geral, é mais difícil encontrar significância com esse teste, especialmente quando as diferenças entre médias são pequenas.

Se um contraste específico for significativo pelo Scheffé, é um indicativo forte de que a diferença observada não é aleatória, mesmo sob os critérios mais restritivos. Isso dá maior segurança para fundamentar decisões que envolvam riscos financeiros, operacionais ou institucionais.

Por outro lado, se o teste não apontar significância, não significa que os grupos sejam idênticos. Apenas que, dado o nível de exigência adotado, não há evidência suficiente para afirmar uma diferença com confiança estatística.

Fórmula do Teste de Scheffé: cálculo da diferença mínima significativa

No contexto prático, especialmente em análises de controle de qualidade, o Teste de Scheffé é frequentemente aplicado por meio do cálculo da Diferença Mínima Significativa (S). Esse valor define o limite a partir do qual se pode afirmar, com segurança estatística, que duas médias são diferentes.

A fórmula é:

S= √[(I-1)*Fα*Vy]

Onde:

  • I-1: representa os graus de liberdade do tratamento, ou seja, o número de grupos comparados menos um
  • Fα: é o valor crítico da distribuição F, obtido em tabela, com base no nível de significância adotado (como 5%) e nos graus de liberdade do tratamento e do resíduo
  • Vy​: é a variância do erro experimental, geralmente derivada do quadrado médio do erro da ANOVA. Quando os grupos possuem mesmo número de repetições, pode ser expressa como MSerro/n.

O que esse valor representa?

A partir dessa fórmula, calcula-se um valor-limite S. Se a diferença entre duas médias for maior do que S, considera-se que há diferença estatisticamente significativa entre elas. Se for menor, não há evidência suficiente para afirmar que as médias são diferentes.

Esse método é útil porque não exige cálculos personalizados para cada comparação, como nos contrastes lineares. Ele é direto e aplicável a comparações entre pares, mantendo o rigor característico do Teste de Scheffé.

Exemplo do Teste de Scheffé no controle de qualidade agroindustrial

Uma empresa do setor agroindustrial está testando quatro tipos de fertilizantes com o objetivo de verificar quais proporcionam maior produtividade na cultura do milho. Para isso, foi conduzido um experimento com quatro tratamentos (A, B, C e D), cada um com quatro repetições. A produtividade média obtida (em sacas por hectare) foi:

  • Fertilizante A: 152
  • Fertilizante B: 156
  • Fertilizante C: 158
  • Fertilizante D: 160

A análise de variância (ANOVA) indicou que há diferença significativa entre os grupos, com um quadrado médio do erro (MSerro) de 4,2.

Como o setor de qualidade precisa de evidência sólida antes de recomendar mudanças na linha de produção, optou-se pelo uso do Teste de Scheffé, utilizando a fórmula da Diferença Mínima Significativa (S):

S= √[(I-1)*F*Vy]

Sabemos que:

  • I=4 (número de tratamentos), então I−1=3
  • Fα=3,24 (valor crítico da F para 3 e 12 graus de liberdade, ao nível de 5%)
  • Vy=MSerro/n=4,2/4=1,05

Substituindo:

S=√(3*3,24*1,05)≈√10,206≈3,19

Comparando as médias

A diferença entre as médias dos fertilizantes é:

  • C e A: 158 − 152 = 6,0
  • D e B: 160 − 156 = 4,0
  • D e A: 160 − 152 = 8,0
  • B e A: 156 − 152 = 4,0
  • D e C: 160 − 158 = 2,0
  • C e B: 158 − 156 = 2,0

Agora, comparamos essas diferenças com o valor de S=3,19:

  • C vs A: 6,0 > 3,19 → diferença significativa
  • D vs A: 8,0 > 3,19 → diferença significativa
  • D vs B: 4,0 > 3,19 → diferença significativa
  • B vs A: 4,0 > 3,19 → diferença significativa
  • C vs B: 2,0 < 3,19 → não significativa
  • D vs C: 2,0 < 3,19 → não significativa

Conclusão da análise

Com base no Teste de Scheffé, as maiores produtividades foram observadas com os fertilizantes C e D, mas a diferença entre eles não é estatisticamente significativa. Ou seja, embora D tenha apresentado o maior valor médio, essa vantagem não foi suficiente para ultrapassar o limiar de significância definido pelo teste.

Ambos, no entanto, se destacaram em relação aos fertilizantes A e B. As diferenças entre C e A, D e A, D e B, e B e A foram todas superiores ao valor mínimo significativo (S = 3,19). Isso significa que C e D proporcionaram produtividade significativamente maior, com base em critérios estatísticos rigorosos.

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