Scrum na gestão de projetos: saúde, educação e marketing
Gestão de Projetos

28 de julho de 2019

Última atualização: 08 de outubro de 2025

Scrum na gestão de projetos: saúde, educação e marketing

Projetos com escopo fixo, prazos longos e pouca margem para ajustes ainda são comuns em muitas organizações. Mas essa lógica tem se mostrado limitada diante de ambientes que exigem respostas rápidas e entregas contínuas. É nesse contexto que o Scrum se torna uma alternativa viável e adaptável.

O framework organiza o trabalho em ciclos curtos, os sprints, com entregas parciais e revisões frequentes. Isso permite testar, corrigir e avançar de forma mais segura, mesmo quando os objetivos ainda estão sendo refinados. A proposta não é abandonar o planejamento, mas tornar o processo mais iterativo e responsivo às mudanças.

Para funcionar, a implementação exige uma mudança de postura na equipe. Papéis como o Product Owner e o Scrum Master ganham relevância, mas o principal está na autonomia do time, que passa a operar com foco em entregas incrementais e revisões constantes.

Na prática, adotar Scrum não significa copiar o modelo original sem adaptações. Cada setor encontra sua própria forma de aplicar o método, de acordo com suas restrições e objetivos. E é justamente isso que veremos a seguir: como o Scrum tem sido utilizado na saúde, na educação e no marketing, com resultados concretos e contextos diferentes.

Scrum na saúde: agilidade aplicada em hospitais e clínicas

gestão de projetos na área da saúde opera sob um cenário com forte pressão por desempenho, alta complexidade operacional e múltiplas exigências regulatórias. 

Métodos tradicionais baseados em etapas sequenciais e cronogramas fechados tendem a apresentar limitações quando aplicados a ambientes que exigem resposta rápida a variações de demanda e integração entre equipes com diferentes níveis de especialização. 

A adoção do Scrum, nesse contexto, se apresenta como uma alternativa metodológica para promover ciclos curtos de entrega, revisões contínuas e ajustes progressivos com base em indicadores operacionais.

Desafios da gestão de projetos na área da saúde

Projetos hospitalares, mesmo quando pontuais, frequentemente envolvem múltiplos setores e dependem da articulação entre áreas clínicas, administrativas e técnicas. A ausência de uma estrutura que favoreça iteração e resposta adaptativa tende a comprometer a efetividade na implementação de mudanças. Além disso, a dificuldade em alinhar agendas, integrar sistemas e obter visibilidade de dados em tempo real compromete o andamento e a avaliação de resultados. 

A gestão de projetos nesse setor exige ferramentas que permitam reorganizar prioridades com base em evidências operacionais, mantendo a rastreabilidade das decisões e a participação ativa de diferentes atores.

Scrum em ações multidisciplinares: ganhos em tempo e colaboração

Ao ser implementado em ambientes hospitalares, o Scrum permite estruturar o trabalho por meio de sprints com metas, definição objetiva de papéis e reuniões de alinhamento que promovem a transparência do andamento das ações. A estrutura facilita o acompanhamento das entregas, amplia a previsibilidade e permite a correção de desvios ao longo do ciclo, e não apenas ao final do projeto. 

A atuação conjunta de profissionais assistenciais, equipes administrativas e suporte técnico se torna mais coordenada a partir do uso de artefatos como o backlog priorizado, as reuniões diárias e as retrospectivas operacionais, que servem para revisar o desempenho e ajustar os próximos passos com base em dados concretos.

Case: Hospital que reduziu tempo de espera com Scrum

Cenário: um hospital de médio porte, vinculado à rede pública estadual, apresentava tempos de espera elevados no pronto-socorro, especialmente durante os períodos de maior demanda. A análise preliminar indicava falhas nos critérios de triagem, baixa integração entre os setores e ausência de um fluxo padronizado de encaminhamento de pacientes. A diretoria optou por aplicar o framework Scrum como abordagem para redesenhar o processo de atendimento inicial, com foco na triagem e nos primeiros encaminhamentos.

O papel do Product Owner e do time técnico

O gerente assistencial assumiu a função de Product Owner, sendo responsável por organizar o backlog com base nos indicadores de desempenho assistencial e nas prioridades clínicas definidas pela gestão. 

A figura do Scrum Master ficou a cargo de um analista de processos da equipe de qualidade, com foco em garantir a aplicação dos rituais e a remoção de impedimentos operacionais. 

O time multidisciplinar foi composto por representantes da enfermagem, equipe médica, setor de tecnologia da informação e coordenação administrativa. Os ciclos foram definidos com duração de duas semanas, com reuniões diárias de atualização (dailies) e revisões ao fim de cada sprint.

Resultados após 4 sprints

Ao término da quarta iteração, o fluxo de triagem foi reestruturado com base em protocolos clínicos mais objetivos e integração direta com o sistema de prontuário eletrônico. Foi criado um canal interno exclusivo de comunicação entre os setores envolvidos no processo inicial de atendimento. 

Os dados coletados indicaram uma redução de 37% no tempo médio de espera, passando de 4h15 para 2h40. Também houve uma queda de 15% nos redirecionamentos incorretos, gerando menor retrabalho para as equipes. 

A aplicação do Scrum, mesmo adaptada às especificidades da estrutura hospitalar, permitiu ganhos operacionais mensuráveis e criou um modelo replicável para outras áreas assistenciais.

Scrum na educação: quando planejamento ágil encontra aprendizagem

Os ambientes educacionais estão submetidos a demandas crescentes por inovação, personalização do ensino e melhoria contínua de resultados. Ao mesmo tempo, precisam lidar com limitações de recursos, processos burocráticos e estruturas administrativas pouco flexíveis. 

Nesse contexto, o Scrum tem se mostrado útil como método para organizar entregas educacionais em ciclos curtos, viabilizar revisões regulares e alinhar iniciativas pedagógicas às necessidades reais dos estudantes.

Ambientes escolares e institutos de ensino com múltiplas entregas

Gestores escolares e coordenadores pedagógicos frequentemente operam com múltiplos projetos em paralelo: revisão curricular, atualização de planos de aula, implementação de novas tecnologias, atendimento a indicadores externos de qualidade e estratégias para aumento de desempenho em avaliações. A ausência de uma abordagem iterativa e colaborativa dificulta o acompanhamento dessas ações e reduz a eficácia na priorização de tarefas.

A aplicação do Scrum permite organizar essas entregas em sprints definidos, priorizar demandas com base em critérios pedagógicos e promover maior visibilidade das tarefas em andamento. Com isso, torna-se possível alinhar equipes docentes, coordenação e áreas de apoio em torno de objetivos claros e revisáveis.

Case: Escola que usou Scrum para reformular o currículo

Uma escola privada de ensino fundamental, com mais de 800 alunos, adotou o Scrum como abordagem para reformular seu currículo a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A coordenação pedagógica assumiu o papel de Product Owner, responsável por definir a ordem das entregas com base nos marcos legais e nos diagnósticos internos de aprendizagem. O papel de Scrum Master foi delegado à gestora de inovação educacional, encarregada de garantir a fluidez do processo e a eliminação de impedimentos.

O time foi composto por professores representantes de diferentes áreas, especialistas em currículo e equipe de tecnologia educacional. Cada sprint teve duração de três semanas, com reuniões de revisão ao final e replanejamento com base nos aprendizados acumulados.

Backlog orientado por dados de desempenho dos alunos

O backlog inicial foi construído a partir da análise dos dados de desempenho dos estudantes nos dois anos anteriores, com foco nos principais pontos de defasagem e nas competências que apresentaram menor índice de domínio. Os itens do backlog incluíam reformulação de objetivos de aprendizagem, criação de novas sequências didáticas, reorganização da matriz curricular e integração entre componentes disciplinares.

A cada sprint, uma parte do currículo era redesenhada, validada em reuniões de revisão e, em alguns casos, aplicada em caráter piloto para verificação de aderência. Esse processo permitiu tomar decisões baseadas em evidências e ajustar o escopo sem comprometer o cronograma geral.

Impacto na prática docente e no engajamento dos alunos

Após quatro sprints, 40% da nova proposta curricular já havia sido reformulada e documentada. Houve uma mudança perceptível na dinâmica entre os professores, que passaram a colaborar com mais frequência e com foco em entregas coletivas, e não isoladas por disciplina. O engajamento dos alunos também apresentou evolução: nos ciclos em que as atividades reformuladas foram aplicadas, os índices de participação e entrega aumentaram 22% em relação ao trimestre anterior.

A experiência mostrou que a aplicação do Scrum em contextos educacionais, quando adaptada às especificidades da escola e alinhada a dados de aprendizagem, pode otimizar processos de mudança curricular, aumentar a colaboração docente e gerar impacto direto na experiência do estudante.

Scrum no marketing: entregas contínuas em campanhas digitais

O contexto das campanhas digitais exige ciclos curtos de produção, alta capacidade de resposta e realinhamentos frequentes com base em dados de desempenho. Nesse cenário, o Scrum tem sido adotado por equipes de marketing como estrutura de trabalho para aumentar previsibilidade, reduzir retrabalho e alinhar prioridades com maior frequência.

Ao organizar o trabalho em sprints, as equipes conseguem ajustar campanhas ainda em execução, realocar esforços conforme a performance das peças e adaptar estratégias com mais agilidade, evitando ciclos longos que perdem aderência ao comportamento do público-alvo.

Por que campanhas precisam de ajustes rápidos

A dinâmica das campanhas digitais envolve variáveis como comportamento da audiência, mudanças nas plataformas, sazonalidade e concorrência direta em tempo real. Indicadores como taxa de cliques, custo por aquisição e engajamento sofrem variações diárias, o que compromete a eficácia de modelos baseados em aprovadores únicosprocessos lineares de produção.

Além disso, departamentos de marketing atuam em múltiplas frentes simultaneamente, o que aumenta a complexidade operacional e dificulta a sincronização entre áreas. Entre as frentes mais comuns estão:

  • Conteúdo e redes sociais
  • Mídia paga e performance
  • Automação de marketing e e-mail
  • Branding e design visual
  • Análise de dados e inteligência de mercado

Diante desse cenário, estruturas que favorecem ciclos iterativos, visibilidade contínua e reavaliação de prioridades ganham relevância. O Scrum atende a essa necessidade ao organizar entregas incrementais, com revisão constante e envolvimento direto das áreas estratégicas.

O que muda na operação de equipes criativas com Scrum

Ao implementar Scrum em agências ou departamentos de marketing, a principal mudança está na forma de organizar a produção e validar entregas. O backlog, nesse caso, é composto por peças, campanhas, tarefas de análise e ações táticas de curto prazo. Cada sprint, geralmente semanal ou quinzenal, tem objetivos definidos com base em metas específicas, como aumento de conversão, lançamento de campanha ou ajustes em canais de mídia.

O Product Owner, normalmente alguém com visão estratégica de marketing e relacionamento com o cliente interno ou externo, define as prioridades. O Scrum Master atua para garantir que os rituais sejam respeitados, que os bloqueios sejam solucionados e que o time mantenha foco e ritmo de entrega.

Reuniões diárias promovem alinhamento entre criativos, analistas de mídia, redatores, designers e profissionais de dados. As revisões ao fim do sprint permitem avaliar o que foi entregue, analisar métricas e ajustar o planejamento com base em performance.

Case: Agência que aumentou produtividade com sprints semanais

Uma agência de marketing digital com foco em performance operava com fluxos tradicionais baseados em campanhas mensais e reuniões de status semanais. A produção era segmentada por equipe, criação, mídia, dados e a comunicação entre as áreas acontecia por e-mail ou sistemas de chamados internos.

O tempo médio entre a solicitação de uma campanha e sua entrada no ar era de 12 dias, com alto volume de retrabalho e alterações fora do escopo inicial. A ausência de visibilidade sobre o andamento das tarefas gerava desalinhamento entre expectativa do cliente e entregas da equipe.

Como o Scrum foi adaptado à realidade da equipe

A adoção do Scrum começou por uma célula-piloto dedicada a projetos de mídia paga. O Product Owner era o gerente de contas, responsável por priorizar campanhas e ajustes de verba conforme os dados da plataforma. O Scrum Master foi escolhido entre os analistas sêniores, com foco em remover impedimentos relacionados a processos e dependências internas.

Os sprints foram definidos como ciclos semanais, com backlog detalhado em subtarefas de produção, validação, publicação e monitoramento. A equipe passou a realizar reuniões diárias de 15 minutos, utilizando um quadro kanban digital integrado com as ferramentas de mídia e analytics.

Redução de retrabalho e melhora na comunicação com clientes

Após seis semanas de aplicação do Scrum, o tempo médio de execução das campanhas caiu de 12 para 7 dias. O número de alterações fora do escopo foi reduzido em 40%, com melhora nos índices de aprovação em primeira versão. A comunicação com os clientes passou a ser estruturada com base nas revisões dos sprints, o que reduziu a necessidade de alinhamentos emergenciais e aumentou a previsibilidade das entregas.

A experiência evidenciou que o uso do Scrum em equipes criativas e analíticas, mesmo fora do setor de tecnologia, pode gerar ganhos operacionais significativos quando aplicado com foco nas entregas, nos dados e na colaboração constante entre áreas. 

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Virgilio Marques Dos Santos

Virgilio Marques Dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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