Produção enxuta: Entenda o conceito e como aplicá-lo
Melhoria de Processos

27 de março de 2017

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Produção enxuta: Entenda o conceito e como aplicá-lo

Produção enxuta é, formalmente, toda produção realizada sem desperdícios. Entretanto, como tradução de “Lean Manufacturing” do inglês, é usado para designar princípios e técnicas produtivas que visam a melhoria contínua.



O que é produção enxuta?


O termo produção enxuta ficou famoso com a ascensão do Lean Manufacturing e do Toyota Production System (Sistema Toyota de Produção). Em resumo, a produção lean (enxuta) deve entregar ao cliente exatamente o que ele quer, na quantidade que ele quer e no tempo que ele desejar, o mínimo de desperdício possível. Ou seja, trata-se de conhecer a fundo a necessidade do cliente e desdobrar os processos de maneira a atendê-lo da forma  mais assertiva


Quer se aprofundar nos conhecimentos sobre a metodologia Lean? Conheça nosso curso gratuito de Introdução ao LeanCom ele você será capaz de identificar os 7 desperdícios visuais, aplicar as ferramentas do Lean para eliminá-los e identificar os processos que agregam valor ao cliente. Confira:Introdução ao Lean Manufacturing

Onde surgiu a produção enxuta?


A produção enxuta surgiu das práticas adotadas pelos japoneses na sua reconstrução nas décadas logo após a Segunda Guerra Mundial. Confira nosso post sobre a história da melhoria, e entenda em mais detalhes. 


Em suma, durante a década de 1950, o Japão encontrava-se arrasado. A maioria de sua indústria havia sido destruída e os japoneses estavam com a moral lá embaixo. Pensando nisso, os japoneses se organizaram e criaram uma instituição chama JUSE: Japanese Union of Scientists and Engineers, algo como “União Japonesa de Cientistas e Engenheiros”. A JUSE, por sua vez, trouxe grandes gurus da qualidade (muitos deles vieram dos EUA, como é o caso de Deming) para discursar sobre qualidade no Japão. A ideia era: “se vamos começar do zero, vamos começar direito”. Esses discursos eram geralmente feitos em encontros da organização.


Esses encontros da JUSE inspiraram de maneira significativa a Toyota. A empresa precisava competir com gigantes automotivos como a Ford (que era muitas vezes maior), porém tinha poucos recursos e, devido à guerra, tinha sérias limitações para cortar custos e demitir pessoas. Portanto, a empresa precisava encontrar um jeito alternativo de se sobressair.


E foi justamente isso que ela fez, através do desenvolvimento da produção enxuta. A Toyota estruturou sua linha produtiva para sempre fazer o que o cliente quisesse, na hora que ele quisesse e como ele quisesse. Ou seja, eles desenvolveram uma série de práticas que a possibilitou aumentar significativamente a sua produtividade sem aumentar os custos, eliminar desperdícios comuns a produção em massa e gerar maior valor ao produto final.



O que é sistema de produção puxada?


Existem, hoje, tipos de produção diferentes, mas naquela época, a produção empurrada era a mais comum. Em resumo, a produção empurrada significa produzir com base em um planejamento de vendas. O controle da produção (o famoso PCP), programa o quanto ele acha que o cliente vai comprar. Em seguida, o controle de produção divide os lotes do produto em ordens de produção e produz, minimizando os setups da linha e guardando o material em estoque. Após a produção, o cliente vai comprando e o estoque vai sendo reduzido.




[caption id="attachment_27063" align="aligncenter" width="685"] Esquema de uma produção empurrada. Note que o planejamento controla como funciona a produção.[/caption]

Este é um sistema arriscado e repleto de falhas. O mais óbvio deles é o erro do planejamento de vendas. Na maioria dos casos, o controle erra para mais, criando estoques imensos.


Portanto, a ideia da Toyota em criar uma produção puxada, era um novo olhar e formato de gestão em processos produtivos. O sistema de gestão tps.


Na produção puxada, não há um controle de produção fazendo previsões. A produção é determinada pelos próprios operadores de produção, a partir de cartões kanban e supermercados de peças. Quando as peças atingem um estoque “crítico” nos supermercados, a produção começa a produzir aquele item, pegando seus insumos em um supermercado do processo anterior (e assim por diante).




[caption id="attachment_27064" align="aligncenter" width="685"] Esquema de uma produção puxada. Note que o controle da produção é feita pelos próprios operadores da linha.[/caption]

Ou seja, a fábrica produz exatamente o que quer o cliente, atendendo melhor flutuações nas vendas. Obviamente, a fábrica em produção puxada realiza mais setups do que uma fábrica na produção empurrada. Contudo, isso não necessariamente é ruim, pois a organização se prepara para aumentar a sua flexibilidade. Portanto, faz-se necessário o trabalho de melhorias pontuais e contínuas, por exemplo, o famoso kaizen.



Como o kaizen se relaciona com a produção enxuta?


Kaizen significa melhoria contínua. Portanto, implementar o kaizen é implementar toda uma cultura de resolução de problemas focados e de melhorias de longo prazo. Alinhando, assim, toda a organização em uma filosofia de “fazer bem feito”, ou seja, usar o lean thinking em todos os processos para resolver os problemas de forma efetiva e permanente. 


Mas o que isso tem a ver com produção enxuta? Tudo. Afinal, sem melhorias pontuais nas linhas de produção, não se implementa a produção enxuta.


O exemplo mais claro disso está nas atividades de setup, ou seja, aquelas atividades que fazemos quando vamos partir a nossa linha de produção (calibrar as máquinas, alimentá-las com matéria-prima). Normalmente as empresas evitam com todas as suas forças realizar um número elevado de setups, o que faz com que elas produzam sempre grandes lotes de produção. Em suma, a flexibilidade da linha é muito baixa.


Uma linha com uma flexibilidade baixa dificilmente pode trabalhar em um regime puxado. Imagine só, mudar várias vezes de produção ao longo do dia, sendo que cada mudança dessa consome horas! A produtividade, portanto, será seriamente prejudicada. Para que isso não ocorra, elas trabalham no sistema de produção empurrada, criando estoques altos e tornando a produção tudo, menos enxuta.


Como tornar essa linha enxuta? Diminua o tempo que se gasta com setup. E como fazer isso? Melhorando continuamente o processo de setup, através do kaizen. Com isso, diminui-se o lead time com este processo e ganha-se flexibilidade, tornando a produção cada vez mais enxuta. Além disso, aplicar o kaizen para outras partes da produção também contribui para enxugá-la.


Nesse vídeo da FM2S, conheça outros Roteiros de Melhoria para implementar e trazer soluções para os problemas de sua organização:



Integre demais ferramentas da qualidade na produção enxuta


Enxergar os problemas nos processos pode ser algo difícil a primeira tentativa, ou se você não tiver as ferramentas adequadas. Por isso, utilizar-se das 7 ferramentas da qualidade torna o mapeamento de problemas algo muito mais simples e assertivo.


Confira nossos outros blogs sobre cada uma das ferramentas listadas abaixo:




Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.