Lei da Oferta e Demanda: veja aqui como funciona
Carreira

21 de novembro de 2018

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Lei da Oferta e Demanda: veja aqui como funciona

Você sabe o que a Lei da Oferta e Demanda?

Há duas suposições quando somos apresentados à lei da oferta e demanda. A primeira ainda é mais ou menos verdadeira: à medida que a demanda por um produto aumenta, a oferta também aumenta e o preço cai. E se o preço ficar muito alto, a demanda cai. O ponto ideal onde as duas linhas se cruzam é ​​chamado de equilíbrio. Equilíbrio é mágico, porque maximiza valor para a sociedade. Os bens são acessíveis, abundantes e lucrativos. Assim todo mundo ganha.

Já a segunda suposição a respeito da lei da oferta e demanda é que o custo total de produção aumenta à medida que a oferta aumenta. Imagine, por exemplo, a Ford lançando um novo modelo de carro. O primeiro carro custa um pouco mais para ser criado, porque exige gastos para projetá-lo e testá-lo. No entanto, é certo que cada veículo depois desse primeiro momento requer uma certa quantidade de materiais e mão de obra e o décimo carro construído custa o mesmo que o milésimo carro. O mesmo é verdadeiro para outros produtos que dominaram a economia mundial durante o século 20, incluindo produtos agrícolas e bens em geral.

A Lei da Oferta e Demanda funciona para tudo?

Por outro lado, segundo Bill Gates nem tudo se aplica a essa lei: em seu blog ele menciona, por exemplo, a indústria do software é uma dessas exceções. A Microsoft pode gastar muito dinheiro em um projeto para desenvolver a primeira unidade de um novo programa, mas cada unidade vendida depois disso é virtualmente livre de custos de produção. Ao contrário dos bens que impulsionaram nossa economia no passado, o software é um ativo intangível. E esse não é o único exemplo de exceção à regra: dados, seguros, livros eletrônicos, até filmes funcionam de maneira semelhante.

A parte da economia mundial que não se encaixa no modelo antigo (como o da Ford, por exemplo) continua crescendo. Isso tem implicações importantes para tudo, desde o direito tributário até a política econômica; quais cidades prosperam e quais ficam para trás. Mas, em geral, as regras que governavam a economia não estão se mantendo. Essa é uma das maiores tendências na economia global que não está recebendo atenção suficiente.

Se você quiser entender por que isso é importante, Bill Gates cita o brilhante livro Capitalism Without Capital, de Jonathan Haskel e Stian Westlake. Esse livro é uma explicação ótima sobre essa dicotomia. Eles começam definindo ativos intangíveis como “algo que você não pode tocar”. Parece óbvio, mas é uma distinção importante, porque as indústrias intangíveis funcionam de maneira diferente das indústrias tangíveis. Os produtos que você não pode tocar têm um conjunto muito diferente de dinâmicas em termos de concorrência e risco, além de como você valoriza as empresas que os produzem.

Como funciona a lei da oferta e demanda no século 21?

Haskel e Westlake descrevem quatro razões pelas quais o investimento intangível se comporta de maneira diferente:

  • É um custo irrecuperável. Se o seu investimento não der certo, você não tem ativos físicos, como máquinas que você pode vender para recuperar parte do seu dinheiro;
  • Tende a criar mudanças fora de controle que podem ser aproveitadas por empresas rivais. A maior força do Uber é sua rede de pilotos, mas não é incomum encontrar um motorista do Uber que também pega caronas para o 99 ou o Cabify;
  • É mais escalável que um ativo físico. Após a despesa inicial da primeira unidade, os produtos podem ser replicados ad infinitum por quase nada;
  • É mais provável que tenha sinergias valiosas com outros ativos intangíveis. Haskel e a Westlake usam o iPod como exemplo: combinaram o protocolo MP3 da Apple, o design do disco rígido miniaturizado, as habilidades de design e os acordos de licenciamento com gravadoras.

Mas isso é bom ou ruim?

Nenhum desses traços são inerentemente bons ou ruins. Eles simplesmente são diferentes da maneira como os produtos manufaturados funcionam.

Haskel e Westlake explicam tudo isso de maneira direta e não abordam o tema como se se tratasse de algo de mal sobre a tendência, nem prescrevem soluções políticas rígidas. Em vez disso, os autores investem em convencê-lo sobre por que essa transição é importante, além de oferecer ideias amplas sobre o que os países podem fazer para acompanhar um mundo em que o gráfico de oferta e demanda é cada vez mais irrelevante.

O livro é para abrir os olhos, mas não é para todos. Embora Haskel e Westlake sejam claros em suas explicações, você precisa de alguma familiaridade com a economia para poder acompanhar o que eles estão dizendo. Assim, se você fez um curso de economia ou lê regularmente a seção de finanças do jornal, você não deve ter nenhum problema em acompanhar seus argumentos.

Qual a visão do livro sobre a inovação na oferta e demanda?

O que o livro reforçou é que os legisladores precisam ajustar suas políticas econômicas para refletir essas novas realidades. Por exemplo, as ferramentas que muitos países usam para medir ativos intangíveis estão atrasadas, por isso estão obtendo uma imagem incompleta da economia. Os EUA não incluíam software nos cálculos do PIB até 1999. Até hoje, o PIB não leva em conta investimentos em pesquisa de mercado, branding e treinamento - ativos intangíveis nos quais as empresas gastam enormes quantias de dinheiro.

E não para por aí: a medição não é a única área em que estamos ficando para trás - há uma série de grandes questões que muitos países deveriam debater agora.

  • As leis de marcas e patentes são muito rigorosas ou muito generosas?
  • A política de concorrência precisa ser atualizada?
  • Como, se for o caso, as políticas de tributação devem mudar?
  • Qual é a melhor maneira de estimular a economia em um mundo onde o capitalismo acontece sem o capital?

Precisamos de pensadores realmente inteligentes e economistas brilhantes que investiguem todas essas questões. O Capitalismo Sem Capital é o primeiro livro que aborda em profundidade essas questões. Assim, acho que deveria ser leitura obrigatória para os formuladores de políticas.

Levou tempo para o mundo dos investimentos abraçar empresas construídas sobre ativos intangíveis. Nos primórdios da Microsoft, por exemplo, Gates relata que sentia estar explicando algo completamente estranho para as pessoas. O plano de negócios envolvia uma maneira diferente de ver os ativos, diferente da forma como os investidores estavam acostumados a concebê-lo. Eles não podiam imaginar que retornos haveria no longo prazo.

A ideia atual de que qualquer um precisaria de saber por que o software é um investimento legítimo parece inimaginável, mas muita coisa mudou desde os anos 80. É hora de mudar também a maneira como pensamos a economia.

E como está a economia de software no Brasil?

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), o mercado brasileiro de tecnologia da informação (hardware, software, serviços e exportações de TI) em 2017 foi de US$ 39,1 bilhões, ou cerca de R$ 136 bilhões. Esse e outros resultados foram divulgados no Relatório Mercado Brasileiro de Software: panorama e tendências, 2018. Esse resultado representa cerca de 1,9% do PIB brasileiro e 1,8% do total de investimentos de TI no mundo.

Considerando-se apenas o mercado interno, descontando as exportações de TI, da ordem de US$ 1 bilhão, o mercado total de TI (software, serviços e hardware) foi da ordem de US$ 38,5 bilhões. De acordo com o Relatório, deste valor, US$ 8,183 bilhões vieram do mercado de software e US$ 10,426 bilhões do mercado de serviços. Esse resultado consolida a passagem do país para o grupo de economias com maior grau de maturidade no mundo, que privilegiam o desenvolvimento de soluções e sistemas de TI. O setor de software no país teve um crescimento de 2,8% em 2017, já o setor de serviços apresentou um crescimento de 3,8%. No conjunto, software e serviços tiveram um crescimento de 3,7% em 2017.

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Virgilio Marques Dos Santos

Virgilio Marques Dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.