DFM/DFA: Como projetar para produzir com eficiência
Ferramentas da Qualidade

12 de maio de 2019

Última atualização: 30 de julho de 2025

O que é o Design para Fabricação / Montagem (DFM / DFA)?

Projetar um produto com foco apenas em funcionalidade não é suficiente. É preciso considerar como ele será fabricado e montado, desde os primeiros esboços. É aqui que entra o DFM/DFA – uma abordagem estratégica que integra o projeto ao processo produtivo para reduzir custos, simplificar operações e melhorar a qualidade final.

Ao aplicar os princípios de Design for Manufacturing (DFM) e Design for Assembly (DFA), empresas conseguem desenvolver produtos mais simples de produzir, mais rápidos de montar e com menos falhas. Isso significa menor retrabalho, menos desperdício e maior previsibilidade no processo.

Neste guia, você vai entender:

  • Os fundamentos do DFM/DFA;
  • Os principais princípios aplicados na prática industrial atual;
  • E como aplicar cada um deles no desenvolvimento de produtos mais eficientes.

Se você busca agilidade, padronização e maior margem de lucro sem comprometer a qualidade, este conteúdo é para você.

O que é o design para fabricação / montagem (DFM / DFA)?

DFMA é a junção das abordagens Design for Manufacturing (DFM)Design for Assembly (DFA). Essa integração permite que o projeto de um produto seja desenvolvido visando facilidade de fabricação e montagem, com foco na redução de custos operacionais e de mão de obra.

Ao aplicar o DFMA, a empresa consegue identificar, quantificar e eliminar desperdícios e ineficiências nos processos ainda na fase de desenvolvimento do produto. Em vez de seguir o modelo tradicional, no qual o projeto é finalizado e, só depois, enviado para definição dos métodos de fabricação, o DFMA propõe uma abordagem simultânea.

Com isso, engenheiros de projeto e de manufatura trabalham em conjunto desde o início, garantindo que as decisões de design considerem as limitações e oportunidades dos processos produtivos. Embora DFM e DFA tenham sido definidos separadamente por muitos anos, seu uso integrado se tornou comum e mais eficaz na prática industrial.

Princípios atuais de DFM/DFA

O Design para Fabricação e Montagem evoluiu com a indústria. Hoje, não basta reduzir custos. É preciso projetar com foco na eficiência, padronização e sustentabilidade. A seguir, estão os principais princípios aplicados nas práticas atuais de DFM/DFA.

Simplificação e padronização

Um dos pilares do DFM/DFA é a redução no número de componentes do produto. Menos peças significam menos processos, menos pontos de falha e menor tempo de montagem.

Além disso, a padronização de componentes permite o uso de peças comuns entre diferentes produtos ou versões. Isso facilita a produção em escala, reduz o custo de aquisição e simplifica o controle de estoque.

Tolerâncias e controle de fabricação

As tolerâncias devem ser dimensionadas com base na capacidade dos processos produtivos. Especificações muito restritas podem gerar retrabalho, aumentar o custo e comprometer a produtividade.

O DFM orienta o engenheiro a definir tolerâncias compatíveis com os processos e equipamentos disponíveis. Isso permite equilibrar precisão e viabilidade de fabricação, mantendo a qualidade sem encarecer desnecessariamente o produto.

Além disso, o controle de fabricação deve ser considerado desde o projeto, prevendo pontos de inspeção acessíveisformas simples de aferição.

Sustentabilidade e materiais ecológicos

O uso de materiais com menor impacto ambiental tem ganhado espaço nos projetos industriais. O DFM/DFA atual inclui a escolha de insumos recicláveis, a redução de desperdício de matéria-prima e a otimização de processos com menor consumo energético.

Também é importante projetar produtos com foco em desmontagem e reaproveitamento de peças, facilitando o descarte correto ou a reciclagem ao final do ciclo de vida.

Como aplicar o Design para Fabricação e Montagem (DFM / DFA)?

A execução eficiente do DFM/DFA depende da colaboração entre os times de projeto e manufatura. Hoje, muitas empresas adotam essa prática de forma integrada, buscando soluções que equilibrem a facilidade de fabricação com a agilidade de montagem.

Embora sejam abordagens complementares, DFM e DFA têm focos distintos.
DFM prioriza a fabricação de peças individuais, evitando formas complexas, tolerâncias desnecessárias ou materiais difíceis de processar. O objetivo é reduzir o custo e a dificuldade de produção.

Já o DFA concentra-se na redução da quantidade de peças, padronização de subconjuntos e otimização do processo de montagem. Isso diminui etapas, tempo de operação e uso de fixadores.

Porém, aplicar essas técnicas de forma isolada pode gerar efeitos adversos. Por exemplo: ao fundir várias peças para simplificar a montagem, pode-se criar um componente difícil de fabricar. Nesse caso, o ganho de um lado é anulado pela perda no outro.

Por isso, o ideal é que DFM e DFA sejam considerados de forma simultânea, desde o início do desenvolvimento do produto. Essa integração evita conflitos e garante um resultado mais equilibrado entre custo, qualidade e tempo.

A seguir, você verá os principais objetivos dessa abordagem integrada.

1. Redução de componentes na montagem

Um dos principais objetivos do DFM/DFA é minimizar o número de peças na montagem. O projetista deve revisar os componentes e verificar se é possível eliminar ou combinar elementos, sem prejudicar a função do produto.

Para isso, vale listar todas as peças e se perguntar:

  • A peça pode ser feita com o mesmo material de outra?
  • Há movimento relativo entre elas?
  • Podem ser unidas sem processos ou ferramentas especiais?
  • A desmontagem continua viável?
  • A fabricação se mantém simples?

Menos componentes reduzem etapas de montagem, uso de hardware e risco de erro, tornando o processo mais eficiente.

2. Projetar peças com foco na fabricação

O projetista deve considerar como a peça será fabricada, quais materiais serão utilizados e qual o volume de produção previsto. Algumas diretrizes práticas para facilitar esse processo incluem:

  • Selecionar materiais comuns e compatíveis com os processos existentes, que reduzam o tempo de produção e atendam aos requisitos funcionais;
  • Eliminar detalhes desnecessários, que exigem etapas adicionais, ferramentas complexas ou processos caros;
  • Revisar o projeto com as áreas de processo, qualidade e manufatura. Essas revisões contribuem para o uso de ferramentas já disponíveis, melhor aproveitamento de máquinas e evitam investimentos em equipamentos específicos.

Além de otimizar o design, esse alinhamento entre áreas melhora a comunicação e o entendimento da proposta do projeto em toda a equipe.

3. Adapte o projeto à capacidade do processo

O projetista deve conhecer as limitações e capacidades dos processos de fabricação disponíveis. Isso inclui entender os equipamentos utilizados, os controles existentes e a forma de monitorar características críticas (como KCCs ou KPCs).

Evite aplicar tolerâncias muito estreitas, principalmente quando elas superam o que os processos conseguem entregar com consistência. Se tolerâncias mais exigentes forem realmente necessárias, isso deve ser identificado no início do projeto para permitir o planejamento de melhorias e controles adicionais.

Também é importante avaliar como as peças interagem entre si. Acúmulos de tolerância podem comprometer o funcionamento final. Sempre que possível, as dimensões devem ficar centralizadas dentro da faixa de tolerância para aumentar a variação permitida sem afetar a função.

Evite especificações rigorosas de acabamento superficial, cantos e raios, a menos que sejam indispensáveis. Requisitos desnecessários aumentam o custo e restringem a flexibilidade de produção. Permitir pequenas variações pode tornar o processo mais econômico e adaptável à demanda.

4. Projeto à prova de erro (Poka-Yoke)

O projetista deve buscar formas de tornar a montagem intuitiva e livre de erros. Elementos como abas, ranhuras, furos assimétricos ou encaixes com interferência ajudam a evitar montagens invertidas ou fora de posição.

Sempre que possível, elimine a necessidade de ajustes manuais ou alinhamentos precisos durante a montagem. Isso reduz falhas e melhora a repetibilidade do processo.

Além disso, pense em formas simples de inspeção. Em alguns casos, ferramentas de verificação do tipo "vai/não vai" são suficientes para garantir a conformidade do item com o projeto.

5. Requisitos de manuseio e orientação de peças

Durante o projeto, é essencial considerar como as peças serão manipuladas e orientadas nos processos de fabricação e montagem. Ignorar esse aspecto pode gerar movimentações desnecessárias, riscos à segurança e necessidade de dispositivos especiais.

Algumas diretrizes práticas incluem:

  • Desenhos devem indicar a orientação correta da peça no processo, como em operações de dobra em prensas;
  • Evite peças que se enrosquem facilmente ou difíceis de pegar, pois isso reduz a eficiência e aumenta perdas;
  • Prefira geometrias simétricas, facilitando o posicionamento correto na montagem;
  • As peças devem ser fáceis de agarrar e posicionar, com superfícies planas e estáveis, inclusive para uso em robôs “pick and place”;
  • Evite bordas cortantes ou rebarbas. Use chanfros ou raios para reduzir riscos ao operador;
  • Evite peças pesadas ou grandes demais, que exijam dispositivos de elevação ou aumentem o esforço físico;
  • Planeje postos de trabalho com movimentação mínima, mantendo peças e ferramentas a poucos passos do ponto de montagem.

Segurança, ergonomia e eficiência devem estar presentes em todas as decisões de projeto.

6. Design para facilidade de montagem

Existem muitos métodos para projetar para facilitar a montagem. Ao projetar para montagem, lembre-se de que quanto mais simples o projeto, mais fácil é montá-lo. O projetista deve considerar onde a montagem será executada e as ferramentas ou equipamentos que estarão disponíveis. Por exemplo, se o produto for vendido como um kit e montado em campo pelo cliente, será diferente do que se for montado em uma linha de montagem ou em uma célula de trabalho. 

7. Reduza ou elimine partes flexíveis e interconexões frágeis

Componentes flexíveis e interconexões mal projetadas são comuns em falhas de campo, especialmente em ambientes com vibração, calor ou uso intenso.

Um exemplo prático: um monitor de equipamento externo falhava devido a um cabo de fita frágil e conectores que não travavam. A solução foi o uso de conectores com travamento e cabos resistentes à temperatura, adequados às condições do ambiente.

Para evitar esse tipo de problema, considere:

  • Utilizar conectores robustos e fixação confiável;
  • Evitar cabos, tubos e juntas frágeis;
  • Minimizar o uso de chicotes, preferindo placas empilhadas ou conexões diretas;
  • Usar acionamento direto no lugar de polias e correias;
  • Em chicotes, aplicar conectores à prova de erro, com encaixe único e orientação correta.

Essas decisões aumentam a durabilidade do produto e reduzem falhas operacionais.

8. Fixação simples e eficiente

O método de fixação influencia diretamente o tempo de montagem. Evite o uso excessivo de parafusos, arruelas e porcas, pois são mais lentos de aplicar. Quando necessários, prefira porcas soldadas ou embutidas.

Considere também:

  • Reduzir a variedade de hardware utilizado;
  • Usar conexões integradas, como encaixes tipo aba e slot;
  • Avaliar adesivos industriais, quando compatíveis com os materiais e a função do produto;
  • Combinar o método de fixação à função e ao material da peça;
  • Facilitar a desmontagem, pensando em manutenções futuras.

Projetar com foco na fixação otimiza o processo e aumenta a eficiência da montagem.

9. Design de Produto Modular

design modular tem se tornado cada vez mais comum em diversos setores. Ele traz vantagens tanto para fabricantes quanto para revendedores e clientes.

Entre os principais benefícios estão:

  • Redução da variedade de peças, o que diminui custos e simplifica a produção;
  • Curva de aprendizado mais curta para novos colaboradores na montagem dos módulos;
  • Flexibilidade na produção, adaptando a fabricação conforme a demanda sazonal;
  • Facilidade de estoque e entrega rápida de itens padronizados e populares;
  • Terceirização facilitada, liberando capacidade interna e aumentando a produtividade;
  • Instalação mais rápida no local, reduzindo tempo e mão de obra;
  • Manutenção simplificada, com menos peças sobressalentes a serem mantidas;
  • Facilidade para melhorias, já que alterações em um módulo não exigem ajustes no restante do produto.

Esse tipo de abordagem aumenta a eficiência e a escalabilidade sem comprometer a personalização.

Design para automação

Projetar com foco na automação traz ganhos relevantes para o processo produtivo. Entre os principais benefícios estão:

  • Maior rendimento e eficiência operacional;
  • Qualidade mais consistente e previsível;
  • Redução de custos com mão de obra direta e indireta;
  • Uniformidade nos resultados do processo.

Porém, a automação exige alguns cuidados no projeto. É importante que as peças possam ser manuseadas por equipamentos automatizados, como sistemas de elevação ou fixação magnética. Evite:

  • Trocas de garras ou ferramentas durante a operação;
  • Peças que exigem ajustes manuais;
  • Fixações complexas ou instáveis.

Use elementos autolocáveis e dispositivos simples de posicionamento. Isso facilita a integração com sistemas automáticos e reduz variabilidade.

Por fim, vale lembrar: Design para Fabricação e Montagem (DFM/DFA) deve sempre buscar máxima eficiência, independentemente de o processo ser manual ou automatizado. Quando bem aplicado, DFM/DFA reduz custos, melhora a qualidade e amplia a margem de lucro, com produtos confiáveis desde a primeira montagem.

Aplique DFM/DFA com foco em eficiência na produção

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Virgilio Marques Dos Santos

Virgilio Marques Dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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