Ifood: história, estratégias e impacto no consumo digital
Pedir comida virou gesto automático. Um toque no celular, e em poucos minutos o pedido está a caminho. Por trás dessa mudança de hábito está o Ifood, uma plataforma que deixou de ser apenas um intermediário entre restaurante e consumidor para se tornar parte da rotina de milhões de pessoas no Brasil.
Ao longo dos últimos anos, o aplicativo expandiu seus serviços, redesenhou o mercado de delivery e passou a influenciar desde o cardápio do restaurante até o formato da cozinha. Também criou ferramentas para fidelizar usuários, testou modelos logísticos, comprou empresas e apostou na inteligência artificial como motor de crescimento.
Neste conteúdo, você vai entender como o Ifood construiu esse caminho.
História e crescimento do Ifood no Brasil
A trajetória do Ifood acompanha o avanço da conectividade e o redesenho dos hábitos de consumo nas grandes cidades. A empresa saiu de uma operação pequena, voltada à digitalização de cardápios, e se transformou em uma das plataformas de tecnologia mais influentes do país.
Para entender esse percurso, é preciso olhar tanto para os fundadores quanto para os grupos que assumiram o controle da marca ao longo do tempo.
Quem criou o Ifood?
O Ifood foi fundado em 2011, em São Paulo, por Felipe Fioravante, Guilherme Bonifácio, Eduardo Baer e Patrick Sigrist. O grupo identificou um comportamento recorrente: consumidores recorriam a listas impressas ou ligações para fazer pedidos de comida.
A proposta inicial era digitalizar essa etapa, conectando restaurantes e usuários por meio de uma plataforma simples, acessada via navegador.
Nos primeiros meses, os pedidos recebidos no site eram encaminhados para uma central telefonica aos restaurantes parceiros. Ainda que rudimentar, o processo reduzia o tempo gasto pelo consumidor e aumentava a exposição dos estabelecimentos. Essa operação gerou os primeiros resultados financeiros, o que permitiu estruturar a base tecnológica do serviço.
Quem é o dono do Ifood hoje?
A estrutura societária do Ifood mudou em 2014, quando a Movile, holding brasileira de tecnologia, adquiriu o controle da operação. Com sede em Campinas, a Movile já possuía participação no app, mas aumentou sua posição com aportes sucessivos.
Desde então, o Ifood passou a ser o principal ativo do grupo. Atualmente, a empresa é controlada majoritariamente pela Movile, que por sua vez tem o fundo sul-africano Naspers (via Prosus) como investidor dominante. A entrada de capital internacional foi decisiva para acelerar a expansão da plataforma no país.
Liderança do delivery
Após a aquisição pela Movile, o Ifood ganhou escala. A equipe cresceu, o aplicativo foi redesenhado e o alcance geográfico se expandiu. A empresa intensificou a captação de restaurantes e passou a investir em uma malha logística própria. O uso de dados e a estrutura de entregadores sob demanda permitiram reduzir prazos e melhorar a operação.
Entre 2017 e 2020, o volume de pedidos cresceu de forma acelerada. Esse movimento coincidiu com a popularização dos apps de serviço imediato e com a consolidação do delivery como hábito urbano. Em poucos anos, o Ifood concentrou grande parte do mercado nacional, ocupando espaços antes disputados por concorrentes locais.
Modelos de operação do Ifood
Marketplace: intermediação entre restaurantes e usuários
Nesse modelo, o Ifood atua como plataforma de conexão. Os restaurantes são responsáveis pela produção e entrega dos pedidos. A empresa oferece o canal de venda, a gestão de pagamentos e a exposição dentro do aplicativo.
É o modelo adotado por pequenos estabelecimentos que já possuem estrutura de entrega própria e utilizam o app como vitrine para ampliar o alcance.
Logística própria: entrega realizada por entregadores da plataforma
Quando o restaurante não possui frota ou equipe dedicada à entrega, o Ifood assume essa etapa por meio de sua rede de entregadores. O restaurante prepara o pedido, mas toda a logística é coordenada pela plataforma. Isso permite atender regiões com alta demanda e padronizar o tempo de entrega. O custo logístico é repassado ao estabelecimento por meio de taxas adicionais.
Full service: gestão completa do pedido à entrega
Alguns restaurantes adotam o modelo em que toda a operação de delivery fica sob responsabilidade do Ifood, incluindo o preparo da comida. São estruturas chamadas de dark kitchens ou cozinhas compartilhadas, que operam em espaços otimizados exclusivamente para o atendimento por aplicativo. Nesse formato, a plataforma controla cardápio, operação e distribuição, priorizando eficiência de escala.
Nova frente: entregas de mercados, farmácias e conveniência
Além dos restaurantes, o Ifood ampliou seu escopo para outros setores do varejo. Supermercados, farmácias, pet shops e lojas de conveniência passaram a integrar o portfólio da plataforma. A operação pode variar entre o modelo de marketplace e o de entrega própria, dependendo da estrutura do parceiro. Esse movimento busca posicionar o app como solução logística de última milha em centros urbanos.
Mudança de hábitos de consumo e o avanço do Ifood
A relação entre tempo disponível e decisão de compra ganhou peso nas rotinas urbanas. Com jornadas longas, deslocamentos imprevisíveis e menor disposição para tarefas domésticas, o consumidor passou a priorizar soluções que reduzissem esforço.
O delivery de comida, antes utilizado pontualmente, passou a integrar o cotidiano como alternativa operacional.
O Ifood acompanhou esse comportamento, ao disponibilizar, em um único aplicativo, o acesso a milhares de cardápios, filtros por tipo de comida e pagamento digital. A eliminação de etapas intermediárias, como ligação telefônica ou espera em fila, reposicionou o delivery como serviço habitual.
Digitalização do cotidiano e comportamento por aplicativo
O modelo de navegação e as promoções por geolocalização estimularam pedidos repetidos. O consumidor passou a decidir o que comer a partir da interface do app, e não do cardápio físico. Essa mudança aumentou a recorrência e impulsionou o volume de transações.
O impacto da pandemia e o reforço do consumo remoto
Em 2020, o fechamento de bares e restaurantes físicos colocou o delivery como canal primário para parte do setor de alimentação. O Ifood ampliou sua operação para atender essa demanda, enquanto novos usuários entravam na plataforma por necessidade.
A quarentena consolidou o uso do aplicativo entre públicos que antes não consumiam por esse meio. O comportamento adotado no período se manteve, ainda que com ajustes, após a reabertura do comércio.
Alimentação como serviço e não mais como deslocamento
O Ifood cresceu junto com a ideia de que comer bem não exige mais sair de casa. Essa mudança deslocou a experiência do ponto físico para o digital. Restaurantes passaram a desenhar cardápios voltados ao delivery, e consumidores passaram a planejar refeições baseadas na oferta do aplicativo. O hábito de buscar agilidade moldou não só o canal, mas também o que é consumido e quando. Essa transição ajudou a consolidar a plataforma como referência no setor.
Estratégias adotadas para escalar e reter usuários
Cupons de desconto como ferramenta de entrada
Os cupons funcionaram como porta de entrada para novos usuários e restaurantes. Em regiões com baixa penetração, o Ifood utilizou códigos de desconto segmentados por bairro, horário ou tipo de culinária.
A oferta com valor reduzido estimulava o primeiro pedido, reduzindo a barreira de entrada. A estratégia ajudou a impulsionar o volume, mesmo com margens reduzidas, e gerou base ativa para campanhas futuras.
Frete grátis como estímulo à recorrência
O valor da entrega ainda é fator de abandono de carrinho em pedidos de baixo ticket. Para lidar com isso, o frete grátis foi usado como mecanismo de estímulo à recorrência, especialmente em bairros com grande densidade populacional.
Ao reduzir o custo final da compra, aumentou o número de pedidos por usuário e a retenção mensal.
Ifood Card: expansão do uso por meio de vale-presente
O Ifood Card ampliou o escopo de uso da plataforma. Vendido em lojas físicas, supermercados e e-commerce, o cartão pré-pago posicionou o Ifood como alternativa para datas comemorativas, ações corporativas e programas de incentivo.
Além de funcionar como meio de pagamento, o Ifood Card insere novos usuários na base, independentemente de campanhas promocionais.
Clube Ifood: fidelização por meio de assinatura
O Clube Ifood é um programa de assinatura com foco em usuários recorrentes. Por um valor mensal, o assinante recebe um número limitado de fretes grátis e acesso prioritário a cupons exclusivos.
A oferta é customizada com base no perfil de consumo, promovendo retenção por meio de previsibilidade de benefício. Além disso, o modelo de assinatura gera receita recorrente, reduz a dependência de campanhas sazonais e facilita a projeção financeira da operação.
A aquisição da Advolve e o foco em IA
Em 12 de novembro de 2025, o iFood comunicou a aquisição da startup brasileira Advolve, especializada em inteligência artificial aplicada ao marketing de performance.
A operação tem como meta acelerar a frente “Ads” da empresa, ou seja, as soluções de publicidade e promoção para restaurantes, supermercados, farmácias e outros parceiros.
A Advolve traz uma arquitetura que permite executar testes múltiplos simultaneamente, gerar e ajustar criativos (textos, imagens, vídeos) de forma automática, e redistribuir o investimento conforme o desempenho de cada peça.
Esse tipo de automação amplia o ritmo de campanhas, reduz intervenção manual e melhora a capacidade de resposta da plataforma.
Como a IA se conecta à operação de pedidos
A integração dessa tecnologia permite que o Ifood segmente seus cerca de 60 milhões de usuários mensais em 1.500 cidades brasileiras com base em dados de consumo, localização, horário e fidelidade.
Essa base alimenta modelos de IA que ajustam recomendação de restaurantes, ofertas, cupons e frete grátis de forma personalizada.
Além disso, a IA suporta a logística de entrega: ela pode ajudar a definir a rota mais eficiente, estimar tempo de espera, dimensionar a equipe de entregadores ou acionar parceiros em bairros com alta demanda. Ainda que a aquisição tenha foco inicial em marketing, a recorrência da plataforma e o volume de dados tornam viável estender o uso da IA para outras etapas da operação.
Objetivos e implicações estratégicas
A empresa projeta que a sua vertical de Ads crescerá cinco vezes até 2030. Esse objetivo enfatiza a importância que o Ifood atribui à monetização dos dados e à publicidade direcionada como fonte de receita. Ao aplicar IA, a plataforma reduz ineficiências, melhora o retorno por anunciante e cria um canal mais atraente para marcas parceiras.
Para o usuário, isso significa receber ofertas mais alinhadas com perfil e momento de compra. Para o restaurante ou marca anunciante, significa campanhas com mensuração mais rigorosa — com o “closed loop”, ou seja, monitoramento desde o clique até a venda final.
A adoção da IA também fortalece a posição competitiva da plataforma frente a rivais que ainda operam com modelos menos automatizados.
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