Análise de Dados

23/05/2015

Última atualização: 22/07/2025

Correlação: como estudar a relação entre variáveis?

Você já se perguntou se duas variáveis estão relacionadas? A análise de correlação é a técnica estatística usada para responder a essa pergunta de forma objetiva. Ela ajuda a verificar se os dados caminham juntos, e em que grau isso acontece.

 

Em projetos, processos e indicadores, essa análise apoia decisões mais precisas. Com ela, é possível identificar padrões, evitar erros de interpretação e direcionar ações com base em evidências.

 

Neste conteúdo, você vai entender o que é análise de correlação, quando utilizar, como interpretar os resultados e quais cuidados tomar. Também verá exemplos práticos e como aplicar o cálculo no Excel, Python e R.

O que é correlação?

A análise de correlação é uma técnica estatística que mede a força e a direção da relação entre duas variáveis. Com ela, é possível entender se as variáveis se movimentam juntas e em que grau isso ocorre.

 

Essa análise não exige a definição de uma variável dependente ou independente. O objetivo é apenas identificar se existe uma associação entre os dados analisados.

 

Ao aplicar a análise de correlação, ganha-se uma visão objetiva sobre padrões que, muitas vezes, não são evidentes apenas com observação direta.

Importância para tomada de decisão com base em dados

Com a correlação, decisões deixam de ser baseadas em suposições. A técnica permite verificar, por exemplo, se uma redução no retrabalho está associada ao aumento da capacitação da equipe ou se há relação entre tempo de resposta e satisfação do cliente.

 

Essa abordagem melhora o uso dos dados em projetos de melhoriaavaliação de desempenho e controle de processos.

 

Além disso, é uma ferramenta prática para priorizar ações com base em evidências, economizando tempo e recursos.

Diferença entre correlação e causalidade

Um erro comum é confundir correlação com causa. Duas variáveis podem estar correlacionadas sem que uma provoque a outra.

Por exemplo, a venda de sorvetes e o número de casos de insolação tendem a subir no verão, mas isso ocorre devido ao calor, não porque um evento causa o outro.

 

A correlação indica associação, não consequência. Para avaliar causalidade, é necessário controle experimental ou análise mais aprofundada, como regressão com variáveis de controle.

Quando aplicar a análise de correlação

A análise de correlação é indicada quando há interesse em verificar se existe uma associação estatística entre duas variáveis numéricas. A técnica é usada para observar como os dados se comportam juntos, sem a necessidade de intervenção ou manipulação.

 

Esse tipo de análise é útil para detectar padrões que podem apoiar a tomada de decisão em diversos contextos.

Situações práticas de uso

Em ambientes de produção, ela ajuda a identificar se há relação entre o tempo de ciclo e a quantidade de defeitos. Na área de qualidade, é usada para verificar se uma variação no processo está associada a falhas no produto final.

 

Outros exemplos comuns:

Em todas essas situações, a correlação permite antecipar tendências e direcionar recursos de forma mais eficiente.

Tipos de correlação

Nem toda correlação ocorre da mesma forma. A depender da direção e da força da relação entre duas variáveis, a associação pode ser classificada como positivanegativa ou nula.

 

Identificar corretamente o tipo de correlação é fundamental para evitar interpretações incorretas e alinhar a análise aos objetivos do estudo.

Correlação positiva

Ocorre quando as duas variáveis aumentam ou diminuem juntas. Se uma cresce, a outra tende a crescer também. É o caso, por exemplo, da relação entre tempo de estudo e nota em uma avaliação: quanto maior o tempo dedicado, maior costuma ser o desempenho.

 

Essa relação é representada por um coeficiente de correlação positivo, geralmente entre +1.

Correlação negativa

Acontece quando uma variável aumenta e a outra diminui. Um exemplo prático é a relação entre tempo de esperasatisfação do cliente. À medida que o tempo de espera cresce, a satisfação tende a cair.

 

Nesse caso, o coeficiente de correlação será negativo, variando de 0 até –1.

Correlação nula

Quando não há padrão consistente entre as variáveis, diz-se que a correlação é nula. Isso significa que os dados variam de forma independente. Um exemplo seria tentar associar o número de cafés consumidos com a cor do uniforme de um operador, são variáveis sem relação.

 

O valor do coeficiente, nesse cenário, tende a ficar próximo de zero.

Coeficientes de correlação

A análise de correlação utiliza coeficientes para medir a intensidade e a direção da associação entre duas variáveis. Esses coeficientes variam de –1 a +1 e ajudam a entender o quanto as variáveis caminham juntas.

 

Quanto mais próximo de +1 ou –1, mais forte é a relação. Quanto mais próximo de 0, mais fraca ou inexistente ela é.

 

Os dois coeficientes mais usados são o de Pearson e o de Spearman. A escolha entre eles depende do tipo de dado e da distribuição das variáveis.

Coeficiente de correlação de Pearson

É o mais conhecido e utilizado. Mede a correlação linear entre duas variáveis numéricas contínuas. Assume que os dados têm distribuição normal e que a relação entre as variáveis é linear.

 

Esse coeficiente identifica o quanto os dados se ajustam a uma reta. Ideal para análises onde se espera esse tipo de comportamento.

Interpretação: 

 

Exemplo: avaliar a relação entre pesoaltura de um grupo de pessoas.

Coeficiente de correlação de Spearman

Usado quando os dados são ordinais ou não seguem uma distribuição normal. Ele mede a correlação com base na ordenação dos valores, e não nos valores absolutos.

 

É útil quando há outliers ou quando a relação entre as variáveis não é linear.

 

Exemplo: verificar se a posição de desempenho em vendas se relaciona com a pontuação de avaliação interna.

Como interpretar os resultados

Depois de calcular o coeficiente, o próximo passo é interpretar a análise de correlação. O número obtido indica o grau de associação entre as variáveis, e a direção (positiva ou negativa) dessa relação.

 

Valores próximos de 1 ou –1 apontam para uma associação forte. Já valores próximos de 0 indicam relação fraca ou até inexistente.

Os valores do coeficiente de correlação variam de –1 a +1 e podem ser interpretados da seguinte forma:

 

Essas faixas são guias. A interpretação depende do contexto, da natureza dos dados e do objetivo da análise.

 

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Atenção: correlação não indica causa

Mesmo que duas variáveis estejam fortemente associadas, isso não significa que uma provoca a outra. A correlação mede apenas a coocorrência entre os dados.

 

Por exemplo, pode existir uma correlação forte entre o consumo de sorvete e o número de afogamentos. Isso não quer dizer que um causa o outro, mas sim que ambos aumentam no verão.

 

A análise de correlação indica associação, e não causalidade. Para investigar causas, são necessárias outras abordagens, como testes estatísticos, regressão ou experimentos controlados.

Como calcular a correlação na prática

A análise de correlação pode ser feita com ferramentas simples, como planilhas e linguagens de programação. O cálculo do coeficiente é direto e acessível, mesmo para quem não tem conhecimento avançado de estatística.

 

Veja abaixo como fazer em três formatos diferentes:

No Excel

Excel possui uma função nativa para calcular a correlação entre duas variáveis:

  1. Organize os dados em duas colunas.
  2. Em uma célula, digite:

    =CORREL(A2:A11;B2:B11)
     

Substitua A2:A11 e B2:B11 pelos intervalos corretos das suas colunas. O resultado será um valor entre -1 e +1.

No Python (com pandas)

Se estiver utilizando Python, você pode usar o pacote pandas. Veja o exemplo:

  1. Crie um DataFrame com os dados:
    tempo_resposta = [4, 5, 6, 7, 8]
    satisfacao = [8.2, 7.9, 7.3, 6.8, 6.4]
  1. Calcule a correlação:
    resultado = dados['tempo_resposta'].corr(dados['satisfacao'])
  2. O valor retornado será o coeficiente de correlação de Pearson.
     

No R

No R, o cálculo também é simples:

  1. Crie os vetores:
    tempo <- c(4, 5, 6, 7, 8)
    satisfacao <- c(8.2, 7.9, 7.3, 6.8, 6.4)
     
  1. Calcule a correlação:
    cor(tempo, satisfacao, method = "pearson")
     

Se quiser usar Spearman (para dados ordinais), basta trocar "pearson" por "spearman".

Cuidados ao utilizar a análise de correlação

A análise de correlação é uma ferramenta útil, mas sua aplicação exige atenção. Interpretar os resultados sem considerar o contexto pode levar a conclusões erradas e decisões mal direcionadas.

 

Veja os principais pontos que precisam ser observados ao aplicar a técnica:

 

Correlação não implica causalidade

Mesmo quando o coeficiente indica uma associação forte, isso não significa que uma variável causa a outra. A correlação apenas mostra que os dados se movimentam juntos, não que há uma relação direta de causa e efeito.

 

Exemplo: o aumento no consumo de sorvete e o número de afogamentos podem estar positivamente correlacionados. Porém, ambos crescem por causa do calor, não porque um influencia o outro.

 

Outliers podem distorcer os resultados

Valores extremos influenciam o coeficiente de forma significativa. Um único dado fora do padrão pode indicar uma correlação que, na prática, não representa a tendência geral.

 

Relações não lineares não são bem representadas

O coeficiente de Pearson mede relações lineares. Quando a associação entre as variáveis é curva ou complexa, o valor pode indicar ausência de correlação, mesmo havendo dependência entre os dados.

 

Distribuições diferentes exigem métodos diferentes

 

Se os dados não forem contínuos ou estiverem fora da distribuição normal, o ideal é usar o coeficiente de Spearman. Ele considera a ordem dos dados, e não os valores absolutos.

 

Aplicações da análise de correlação

A análise de correlação é usada para entender padrões e tomar decisões com base em dados. Ela se aplica em diversas áreas da organização, especialmente em processosprojetos qualidade.

 

Ao identificar se duas variáveis se comportam de forma associada, é possível atuar de forma mais direcionada. Veja onde essa análise costuma trazer bons resultados:

Melhoria de processos

Na fase “Analyze” do ciclo DMAIC, a correlação é usada para verificar a relação entre causas levantadas e o efeito principal (Y). Isso ajuda a identificar variáveis de entrada (X) com maior impacto no desempenho do processo.

Controle de qualidade

Em análises de controle, é comum verificar a relação entre variáveis como tempo de máquina, temperatura ou pressão com defeitos no produto. Se há correlação, ajustes preventivos podem ser feitos com mais segurança.

Gestão de desempenho

A correlação também é aplicada para relacionar indicadores. Por exemplo, é possível avaliar se há associação entre engajamento da equipe e produtividade, ou entre tempo médio de atendimento e satisfação do cliente.

Financeiro e comercial

Na área financeira, pode-se correlacionar custos com receita, ou volume de produção com lucratividade. Já no comercial, pode-se observar a relação entre promoções e volume de vendas.

RH e clima organizacional

É possível analisar se há relação entre absenteísmo e avaliações de clima, ou entre capacitação e rotatividade. Essas informações orientam decisões de desenvolvimento de pessoas.

Em todos os casos, o uso da análise de correlação oferece ganho em foco. Em vez de agir por tentativa e erro, as ações passam a ter base nos dados.

O que considerar antes de aplicar a análise de correlação

A análise de correlação é uma ferramenta útil para entender como variáveis se comportam juntas. Quando bem aplicada, ela contribui para decisões mais fundamentadas e análises mais precisas.

Antes de usar, é importante:

 

Lembre-se: uma correlação alta não garante que uma variável influencie a outra. Serve apenas como um indicativo de associação.

Em projetos, processos e indicadores, a técnica ajuda a focar no que realmente afeta o desempenho. Quando combinada com outras ferramentas de análise, ela melhora o entendimento das causas e amplia o controle sobre os resultados.

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