Gestão e Liderança

01/07/2025

Última atualização: 03/07/2025

Gestão pela Melhoria: lições da Toyota para liderar

Você já se perguntou por que algumas empresas conseguem manter bons resultados de forma consistente, enquanto outras oscilam entre picos de performance e períodos de crise? Em muitos casos, a resposta está menos nas metas que elas perseguem e mais em como essas metas são construídas no dia a dia.

Durante anos, a gestão por resultados foi o modelo dominante em boa parte das organizações ocidentais. No entanto, experiências como a da Toyota mostram que há outro caminho: a gestão pela melhoria.

Neste conteúdo, você vai entender o que é essa abordagem, como ela se diferencia do modelo tradicional, por que ela se mostrou eficaz na Toyota e, principalmente, como começar a aplicá-la na sua empresa ou equipe.

O que é Gestão pela Melhoria?

Gestão pela melhoria é uma abordagem de liderança que parte da premissa de que o caminho para resultados consistentes passa pelo fortalecimento diário dos processos. Não se trata de buscar culpados ou corrigir desvios pontuais, mas de criar um ambiente em que as pessoas possam, continuamente, observar falhas, propor soluções e testar melhorias.

Fundamentos da Gestão pela Melhoria

Seu fundamento está na capacidade de adaptar-se ao imprevisível por meio do envolvimento ativo das pessoas na resolução de problemas. A ideia é abandonar a lógica de controle e substituí-la por uma cultura de aprendizado prático, estruturado e repetitivo.

Segundo Mike Rother, no livro Toyota Kata, o problema não está na competência das pessoas, mas no sistema de gestão em que operam. A Toyota desenvolveu uma rotina disciplinada para cultivar novos padrões mentais e comportamentais que tornam a organização mais preparada para mudanças. Essa abordagem é centrada em praticar como lidar com a incerteza, e não apenas reagir a ela.

Esse modelo tem raízes históricas, após a Segunda Guerra Mundial, o Japão enfrentava um cenário de escassez extrema. Foi nesse contexto que a Toyota começou a estruturar seu sistema de gestão com base em disciplina, padronização, uso racional de recursos e aprendizado contínuo. A limitação de recursos não permitia erros repetidos nem desperdícios. Assim, criar métodos que garantissem melhoria constante deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade de sobrevivência.

Essa forma de pensar foi abraçada pela sociedade japonesa como um todo, que entendeu que reconstruir o país exigiria um novo padrão de trabalho, com foco coletivo, humildade para aprender e compromisso com a melhoria constante. A cultura de esforço disciplinado e aprendizado diário tornou-se parte do tecido social, e não apenas uma prática corporativa.

Nesse modelo, o papel da liderança é criar um ambiente em que errar faz parte do processo de aprender. A melhoria contínua deixa de ser um projeto pontual e passa a ser um componente do trabalho diário. A cada obstáculo, uma oportunidade de desenvolver habilidades de análise, adaptação e tomada de decisão.

O Kata de melhoria como ferramenta prática

Na Toyota, essa filosofia ganha forma no kata de melhoria: uma sequência de perguntas e práticas aplicadas rotineiramente, que ajudam equipes a pensar de forma científica.

O kata ensina a:

O kata cria um hábito organizacional de aprendizado contínuo.

Esse padrão disciplinado contrasta com a lógica predominante em muitas empresas, onde o foco está exclusivamente em metas e resultados. Para entender melhor essa diferença, vale olhar de perto como funciona o modelo tradicional de gestão por resultados.

Gestão por Resultados: limites e riscos

Se você já trabalhou em uma empresa que define metas, cobra entregas e mede tudo por indicadores financeiros, provavelmente conhece bem a gestão por resultados. Esse modelo é amplamente adotado em organizações ocidentais e, à primeira vista, parece eficiente: basta definir o que precisa ser entregue e garantir que isso aconteça dentro do prazo e com qualidade.

Mas, na prática, ele também apresenta desafios significativos. Apesar de funcionar em certos contextos, essa forma de gestão tende a gerar efeitos colaterais que comprometem a consistência dos resultados ao longo do tempo.

Pressão que gera comportamento defensivo

Talvez você já tenha sentido isso no trabalho, a pressão constante por bater metas pode transformar o ambiente em um lugar tenso, onde errar não é uma opção. Quando o foco está só nos números, a transparência dá lugar ao receio. Ninguém quer ser exposto, e o resultado é a ocultação de falhas, não por má intenção, mas por autoproteção.

Nesse cenário, os problemas reais continuam lá, escondidos sob relatórios que “fecham” o mês. E isso dificulta qualquer tentativa séria de melhorar o processo.

Soluções pontuais que não fortalecem o processo

É comum ver equipes correndo para “entregar o número” do mês. Mas, nessa correria, a solução costuma ser paliativa: resolve o problema do agora, sem mexer na causa. O foco é apagar o incêndio não entender por que ele começou.

Você já deve ter vivenciado isso, o mesmo erro reaparecendo, só que com outra cara. É o retrabalho que se repete, a instabilidade que nunca some. Quando só se trata o sintoma, o processo não evolui.

Falta de aprendizado organizacional

Se o único objetivo é bater a meta, o caminho até ela perde importância. E quando o processo não é valorizado, a organização deixa de aprender. Os erros, que poderiam ser fonte de reflexão e melhoria, viram apenas desvios a serem escondidos ou ignorados.

Você já pode ter percebido isso em reuniões onde só se discute o resultado final  e ninguém pergunta como ele foi alcançado. Aos poucos, o conhecimento se concentra em poucas pessoas “resolutivas” e a equipe deixa de se desenvolver. A empresa fica dependente de atalhos e especialistas, em vez de fortalecer o sistema como um todo.

Como mostra Mike Rother no livro Toyota Kata, o aprendizado real acontece quando as pessoas são incentivadas a pensar cientificamente sobre os problemas, testar hipóteses e ajustar seus métodos. Sem isso, a evolução trava  e com ela, a capacidade de se adaptar.

Baixa autonomia e engajamento dos times

Você provavelmente já viveu (ou viu) uma situação em que tudo vinha “de cima”: metas, prazos, decisões. Nesse tipo de ambiente, o time executa mas sem envolvimento. Não há espaço para opinar, propor ou refletir. A autonomia desaparece, e junto com ela vai o engajamento.

Quando as metas são impostas sem participação, as pessoas deixam de se sentir parte da construção. O trabalho vira apenas uma entrega mecânica, e o senso de propósito se dissolve. Como destaca Jeffrey Liker em O Modelo Toyota de Liderança Leano verdadeiro compromisso das pessoas nasce quando elas sentem que têm influência real no processo e são desafiadas a pensar, não apenas a cumprir.

Toyota construiu uma cultura em que os líderes ensinam e escutam, e os times são incentivados a aprender resolvendo problemas. Sem esse espaço de autonomia, o talento das pessoas fica subutilizado  e a organização perde força.

Por que a Toyota foca na melhoria contínua?

Na Toyota, a melhoria contínua não é um programa, é uma cultura viva. Ela nasce da convicção de que empresas que aprendem constantemente são as que se mantêm competitivas no longo prazo.

O ambiente muda, os desafios mudam e logo, os processos também precisam mudar. E isso só acontece se as pessoas tiverem espaço e método para aprender todos os dias.

Gestão dos meios, não só dos resultados. Em vez de gerenciar apenas as entregas, os líderes atuam como facilitadores do aprendizado. Eles desenvolvem suas equipes para que saibam identificar problemas, propor soluções e ajustar o próprio trabalho com autonomia. O foco da liderança é formar pessoas capazes de melhorar o sistema e não apenas obedecer ao sistema.

Cultura do gemba, as decisões não são tomadas de forma distante. Os líderes vão ao local do trabalho para observar diretamente os processos, entender os obstáculos e orientar melhorias. Isso fortalece a conexão entre estratégia e operação.

Como adotar a gestão pela melhoria na sua empresa?

Mudar de um modelo centrado em metas para uma gestão baseada em melhoria contínua exige mudança de mentalidade e não apenas ferramentas. Em vez de controlar, o papel da liderança passa a ser o de desenvolver pessoas.

E isso não acontece com treinamentos pontuais ou discursos motivacionais, mas com prática diária e acompanhamento próximo. A seguir, os passos iniciais dessa transição.

Defina uma condição-alvo

Comece pequeno e com foco, escolha um processo do dia a dia que tenha impacto e seja possível de acompanhar. Em vez de propor uma meta ampla como “melhorar a eficiência”, vá para algo mais específico, como “reduzir o tempo de atendimento de pedidos em 20% nos próximos 30 dias”.

Essa condição-alvo funciona como um farol: orienta os esforços da equipe, sem engessar o caminho. Quando o time entende onde precisa chegar, e por que aquilo importa, o engajamento aumenta. O importante não é alcançar a meta de imediato, mas aprender no caminho até ela.

Estimule ciclos de PDCA nos times

O PDCA (Plan, Do, Check, Act) não é só uma ferramenta de gestão é uma forma de pensar. Ensinar os times a usar esse ciclo no dia a dia ajuda a transformar problemas em oportunidades de aprendizado.

Mas para que funcione de verdade, precisa ser mais do que uma sigla. Significa planejar com base em fatos, testar em escala reduzida, verificar o que funcionou (e o que não funcionou) e ajustar com base no que foi aprendido.

Quando praticado de forma consistente, o PDCA fortalece a autonomia dos times e sua capacidade de adaptação diante das incertezas. Como reforça o modelo Toyota, o valor está na disciplina de seguir o ciclo, não na pressa de chegar a uma solução.

Se você quer entender como aplicar o PDCA na prática e formar equipes que aprendem continuamente, vale conferir o curso rápido de PDCA da FM2S (utilize o cupom BLOG10 e ganhe 10% de desconto). Ele traz uma abordagem clara e aplicável para usar o ciclo como ferramenta de melhoria no dia a dia.

Tenha paciência com o processo

Adotar a gestão pela melhoria é um processo de construção cultural e isso leva tempo. Não espere resultados imediatos. No começo, pode até parecer mais lento do que o modelo tradicional, porque você estará ensinando pessoas a pensar, não apenas a executar.

Mas é justamente essa repetição diária que transforma hábitos. A cada ciclo, o time aprende mais, confia mais e começa a agir com mais autonomia. Como reforça Mike Rother, é a prática deliberada, não o entusiasmo inicial, que constrói uma cultura sólida de melhoria.

Persistência e constância importam mais do que velocidade. Liderar esse processo exige paciência para lidar com os altos e baixos e clareza de propósito para manter o foco no longo prazo.

Se você quer aprofundar seu entendimento sobre os princípios que sustentam a gestão pela melhoria, vale começar pelo essencial: a filosofia Lean. O curso gratuito Introdução ao Lean, da FM2S, apresenta de forma direta os fundamentos dessa abordagem que transformou a forma de trabalhar na Toyota e que pode transformar sua empresa também.

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