Constância de Propósito segundo Deming: visão estratégica
A constância de propósito é um dos pilares propostos por W. Edwards Deming para sustentar sistemas de gestão voltados à melhoria contínua. Mais do que uma ideia conceitual, trata-se de uma diretriz prática que orienta decisões, investimentos e comportamentos dentro das organizações.
Empresas que operam sem um direcionamento consistente tendem a oscilar entre iniciativas desconectadas, guiadas por metas de curto prazo. Nessas situações, o foco se desloca do desenvolvimento estruturado para a reação às urgências, comprometendo resultados ao longo do tempo.
Neste artigo, vamos apresentar o que significa constância de propósito na perspectiva da gestão, sua origem nos 14 pontos de Deming, os principais desafios enfrentados pelas organizações e os elementos necessários para implementá-la de forma funcional.
O que é constância de propósito?
Constância de propósito é o pensamento de longo prazo na organização vista como um sistema. E, relaciona-se como a organização fundamenta, direciona e suporta a tomada de decisão para aqueles que estão no Gemba.
Um sistema com constância de propósito não se preocupa com a variação nos lucros trimestrais. Se as ações tiverem sentido quando se olha para a organização como um sistema no longo prazo, mas tem custos hoje, aceitamos os problemas e perdas no curto prazo. Isso pode entrar em conflito com bônus ou avaliações de desempenho. Bem, adivinhe o que, isso é abordado no ponto 12 de Deming, que abrange a eliminação de tais práticas.
O propósito de criar constância de propósito é maximizar os benefícios para a organização das outras facetas do sistema de gerenciamento de Deming. Não é um fim, é o meio para um fim.
De onde veio a constância de propósito?
Os 14 pontos não deveriam ser uma lista de itens a serem considerados para serem adotados. E eles não deveriam ser uma lista de verificação que você procura marcar como completa. A constância de propósito vem dos seus 14 pontos.
Evolução para o sistema de conhecimento profundo
Com o tempo, Deming percebeu que a abordagem em lista levava gestores a escolherem apenas os pontos que entendiam ou consideravam viáveis. Isso enfraquecia a aplicação do modelo. Por isso, ele passou a apresentar seu pensamento por meio do Sistema de Conhecimento Profundo — um modelo que mostra como os quatro componentes do sistema interagem entre si para sustentar decisões e melhorias consistentes.
Interdependência entre os elementos do sistema
No modelo de Deming, os elementos (teoria do conhecimento, variabilidade, psicologia e compreensão de sistemas) não atuam de forma isolada. Eles são interdependentes e se fortalecem mutuamente. A constância de propósito está no centro dessa estrutura, dando direção às ações e às decisões em todos os níveis da organização.
Constância como base da gestão
A constância de propósito não é um ponto a ser “alcançado” e superado. É uma base contínua que sustenta o restante do sistema. Sem ela, o gerenciamento perde coerência e os resultados se tornam instáveis. Não existe uma fórmula única — mas sem um propósito claro e consistente, qualquer sistema de gestão vacila.
Riscos da ausência de constância
Sem constância de propósito, a descentralização de decisões perde eficácia. Se não houver uma compreensão compartilhada sobre os princípios que guiam a organização, cada gestor ou equipe pode seguir uma direção diferente. O resultado é a fragmentação das ações, perda de alinhamento e baixa previsibilidade nos resultados.
Estabelecer a constância de propósito é fácil?
Constância exige compromisso e clareza
Criar constância de propósito não é simples. Trata-se de um processo complexo, que exige decisões estratégicas consistentes. Ao adotar esse princípio, a empresa desloca o foco de métricas de curto prazo para um compromisso com melhoria confiável.
O papel da gestão é criar condições para que os colaboradores melhorem continuamente produtos e serviços. Não se trata apenas de entregar valor no presente, mas de garantir a sustentabilidade do negócio no longo prazo.
Melhoria contínua como responsabilidade compartilhada
Deming defende que a empresa deve ser competitiva e gerar empregos de forma duradoura. Isso exige reconhecer o valor das pessoas e investir no desenvolvimento de cada colaborador. As equipes são o núcleo da operação, sem elas, não há produto, serviço ou resultado.
A constância de propósito exige que a liderança apoie o crescimento interno, promova capacitação e remova barreiras que impedem o aperfeiçoamento contínuo. Marketing ou incentivos isolados não substituem uma equipe engajada e preparada.
Cultura de melhoria como base de gestão
Benjamin Disraeli já dizia: “O segredo do sucesso é a constância de propósito”. Deming reforça essa ideia ao propor a melhoria contínua como parte viva da cultura organizacional.
Isso implica que a empresa deve apoiar integralmente o time. O ambiente deve favorecer a tomada de decisão, a iniciativa e a responsabilidade por melhorias reais — tanto no produto quanto nas condições de trabalho.
Quais os desafios da constância de propósito?
Empresas costumam lidar com dois tipos de problemas: os imediatos e os que exigem preparação antecipada. No contexto organizacional brasileiro, a gestão frequentemente prioriza o que precisa ser resolvido agora. Isso é reforçado pela curta permanência de líderes em cargos estratégicos, o que favorece decisões voltadas apenas ao curto prazo.
A valorização da resposta rápida, mesmo que desorganizada, reforça esse padrão. Muitas promoções ocorrem com base na capacidade de resolver urgências, mesmo que isso desestruture processos ou direcione recursos de forma ineficiente.
Resultados trimestrais guiam decisões
Em muitas empresas, decisões estratégicas são moldadas pelas expectativas do próximo trimestre. A pressão por metas de vendas e rentabilidade leva à adoção de práticas que antecipam ganhos, mesmo que isso comprometa a sustentabilidade do negócio.
Deming apontava esse comportamento como um dos obstáculos à melhoria consistente. Quando a atenção está sempre voltada ao desempenho imediato, o planejamento de médio e longo prazo perde relevância.
Desconexão entre estratégia e execução
Mesmo quando há um plano estratégico estruturado, ele tende a ser pouco utilizado na operação. Em muitos casos, esse documento permanece desatualizado ou ignorado, servindo apenas como formalidade.
Deming observava que é comum desenvolver habilidade em gerenciar os problemas de hoje, mas negligenciar os que exigem preparo contínuo. A constância de propósito depende da incorporação da estratégia no cotidiano da organização.
Elementos estruturantes segundo Deming
Para que exista constância de propósito, quatro aspectos devem estar presentes:
- Inovação
- Pesquisa e educação
- Melhoria contínua de produtos e serviços
- Investimento em estrutura e ferramentas
Entre esses, pesquisa e educação recebem menos atenção. Em períodos de instabilidade, o investimento em capacitação costuma ser reduzido, o que compromete a formação de equipes preparadas para lidar com a complexidade das mudanças. Empresas que deixam de investir nesse ponto perdem competitividade e fragilizam sua capacidade de adaptação.
Aderência ao plano estratégico
Manter o alinhamento entre as decisões do dia a dia e o direcionamento da organização requer que o plano estratégico seja usado como referência. Ele deve articular missão, visão e valores, e servir como suporte às decisões de médio prazo.
Embora o plano precise de ajustes conforme o contexto, ele não pode ser apenas um documento arquivado. Quando aplicado de forma consistente, permite que todos saibam o rumo da organização e os princípios que orientam sua atuação. Sem essa referência, prevalece a desorganização, e as ações deixam de servir a um propósito comum.
A constância de propósito começa com clareza sobre quem você é e onde quer chegar.
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