A Regressão é Linear ou Não Linear?
A análise de regressão é uma das ferramentas mais utilizadas em projetos de melhoria, controle de processos e análise de dados. Ela permite identificar relações entre variáveis e construir modelos preditivos confiáveis.
No entanto, uma dúvida muito comum de quem está começando ou já utiliza esse recurso é: quando utilizar a regressão linear e quando partir para a regressão não linear?
Embora o nome possa sugerir que a principal diferença esteja no formato da curva gerada, essa escolha vai muito além disso.
Neste conteúdo, você vai entender:
- Em quais situações a regressão linear é a melhor opção.
- Quando a regressão linear deixa de funcionar bem.
- Quais as vantagens e limitações da regressão não linear.
- Como especificar o melhor modelo de regressão para o seu caso.
- Quais métodos estatísticos ajudam a validar e ajustar o modelo.
Se o seu objetivo é tomar decisões com base em dados e construir modelos robustos e eficientes, continue a leitura. Vamos apresentar conceitos fundamentais, exemplos práticos e dicas de boas práticas utilizadas em ferramentas como o Minitab — tudo para ajudar você a escolher o melhor caminho entre a regressão linear e a não linear.
A Regressão é Linear ou Não Linear?
O universo da estatística é amplo e cheio de nuances. Um bom exemplo disso está na própria regressão: a regressão linear pode gerar curvas e, ao contrário do que o nome sugere, a regressão não linear não se define apenas pela forma curva dos dados.
Mas afinal, quando optar pela regressão não linear em vez de métodos lineares, como a regressão linear simples, regressão por melhores subconjuntos ou a stepwise?
Essa é uma dúvida comum e que abordamos com profundidade em nossos cursos de Green Belt e Black Belt.
De forma prática, a recomendação é começar pela regressão linear. Ela é mais simples de aplicar, tem boa capacidade explicativa e sua interpretação é direta. Porém, se os dados não se ajustarem bem ao modelo linear, pode ser o momento de testar um modelo de regressão não linear.
O importante é avaliar a aderência do modelo aos dados e a qualidade dos resíduos. Um bom ajuste nem sempre está na complexidade, mas na coerência entre modelo e comportamento das variáveis.
Quando usar a Regressão Linear
A regressão linear deve ser sempre a primeira opção ao construir um modelo estatístico. Isso porque ela apresenta um método simples, eficiente e de fácil interpretação, principalmente quando o objetivo é entender a relação entre variáveis.
Esse modelo funciona bem quando os dados seguem um comportamento próximo de uma linha reta — ou seja, quando existe uma relação proporcional entre as variáveis independentes (explicativas) e a variável dependente (resultado).
Além disso, a regressão linear é indicada quando:
- Existe uma relação clara e direta entre as variáveis.
- O comportamento dos resíduos (erros) é aleatório e sem padrão.
- Não há necessidade de ajustar muitas variáveis de forma complexa.
- O modelo apresenta um bom ajuste, com alto valor de R².
Por ser um modelo mais simples, a regressão linear facilita a análise, a comunicação dos resultados e a aplicação prática nas empresas, especialmente em projetos de melhoria contínua, controle de processos e análise preditiva.
Por isso, sempre que os dados permitirem, a regressão linear é a escolha mais indicada. Ela reduz o risco de superajustes (overfitting) e torna as decisões baseadas em dados mais confiáveis e fáceis de explicar para os envolvidos no projeto.
Quando a regressão linear não funciona
Existem situações em que a regressão linear não consegue representar o comportamento dos dados de forma adequada. Isso acontece, principalmente, quando a relação entre as variáveis é mais complexa e o modelo linear não tem flexibilidade suficiente para se ajustar.
Embora o modelo linear consiga representar curvas, ele pode não ser capaz de capturar a curvatura específica dos seus dados. Em alguns casos, mesmo com variáveis transformadas, como termos quadráticos ou cúbicos, o ajuste ainda fica insatisfatório.
Um exemplo comum ocorre quando:
- O gráfico de linha ajustada indica um bom ajuste geral.
- O valor de R² é alto (como 98,5% no exemplo citado).
- Porém, a linha de regressão passa sistematicamente acima ou abaixo dos dados em diferentes trechos.
Esse comportamento sinaliza um problema. Quando você avalia o gráfico dos resíduos — prática fundamental em qualquer análise de regressão — percebe que eles não estão distribuídos de forma aleatória. Ao contrário, formam padrões que indicam um ajuste ruim.
Nessas situações, a regressão não linear se torna uma alternativa mais eficiente.
Vantagem da Regressão Não Linear
A regressão não linear permite trabalhar com um número muito maior de formas e funções. Por isso, é capaz de capturar curvas específicas que um modelo linear não consegue representar.
No exemplo apresentado, o ajuste com regressão não linear exigiu mais esforço para encontrar a função adequada. No entanto, o resultado foi um modelo que seguiu os dados com muito mais precisão.
O valor de S — que mede aproximadamente a distância média dos pontos em relação à linha ajustada — melhorou de 72,4 (na regressão linear) para 13,7 (na regressão não linear). Nesse caso, quanto menor o valor de S, melhor o ajuste.
Além disso, o gráfico dos resíduos passou a apresentar um padrão aleatório, que é o comportamento esperado em um bom modelo.
Limitações da Regressão Não Linear
Apesar de ser uma ferramenta poderosa, a regressão não linear apresenta algumas desvantagens importantes:
- A configuração do modelo é mais complexa e pode exigir tentativas para encontrar a função adequada.
- O efeito de cada variável preditora na resposta nem sempre é fácil de interpretar.
- Os valores de p-valor, comuns na regressão linear, muitas vezes não estão disponíveis.
- Os intervalos de confiança podem ser mais difíceis de calcular ou até inviáveis, dependendo do modelo.
Se você utiliza o Minitab, é possível reproduzir esse exemplo. Basta acessar:
Arquivo → Abrir Planilha → Procurar em Minitab Sample Data → Selecionar o arquivo "Mobility.MTW".
Esses dados são os mesmos utilizados no exemplo, e permitem que você explore os conceitos de regressão linear e não linear na prática.
Como especificar seu modelo de regressão?
Escolher o tipo adequado de regressão — linear ou não linear — é apenas o primeiro passo na análise dos dados. Depois disso, é necessário definir quais variáveis serão incluídas no modelo e como essas variáveis se relacionam.
Esse processo é conhecido como especificação do modelo de regressão.
Especificar o modelo significa decidir:
- Quais variáveis preditoras devem ser incluídas.
- Se é necessário considerar a presença de curvatura nos dados.
- Se existe interação entre as variáveis preditoras que precisa ser modelada.
Esse trabalho é sempre um processo iterativo. Ou seja, dificilmente o primeiro modelo testado será o definitivo. É comum realizar ajustes e refinamentos até chegar a um modelo que se encaixe bem aos dados e explique o comportamento da variável resposta de forma confiável.
Ao longo dessa etapa, é fundamental:
- Avaliar os gráficos dos resíduos.
- Verificar a significância das variáveis incluídas.
- Testar transformações ou incluir termos polinomiais, se necessário.
- Identificar possíveis interações entre as variáveis.
Essas práticas ajudam a garantir que o modelo final seja estatisticamente válido e, principalmente, útil para a tomada de decisão.
Nos próximos tópicos, vamos mostrar como validar o seu modelo de regressão e quais ajustes realizar quando os resultados não forem satisfatórios.
Métodos estatísticos para encontrar o melhor modelo de regressão
Para construir um modelo de regressão eficiente, não basta incluir apenas as variáveis que estão sendo testadas. É importante considerar também outras variáveis que possam influenciar o resultado. Ignorar esse ponto pode gerar modelos tendenciosos e pouco confiáveis.
Ferramentas como o Minitab oferecem métodos estatísticos que ajudam nesse processo de especificação e validação do modelo.
R² Ajustado e R² Previsto
O valor de R² tradicional tende a aumentar sempre que você adiciona uma nova variável preditora ao modelo, mesmo que ela não contribua de forma significativa. Por isso, o ideal é utilizar o R² ajustado e o R² previsto, que são medidas mais confiáveis para avaliação do modelo.
- O R² ajustado só aumenta se a nova variável realmente melhora o modelo de maneira relevante. Caso contrário, ele pode até diminuir.
- O R² previsto indica o quão bem o modelo pode se generalizar para novos dados, funcionando como uma forma de validação cruzada.
Essas métricas evitam o erro comum de criar um modelo excessivamente complexo, que funciona bem apenas com os dados analisados, mas apresenta baixo desempenho em situações reais.
P-valores dos Preditores
Na análise de regressão, os p-valores ajudam a identificar quais variáveis são realmente significativas. De forma geral:
- P-valores baixos indicam que a variável tem impacto relevante sobre a variável resposta.
- O processo conhecido como "redução do modelo" consiste em incluir inicialmente todas as variáveis candidatas e, em seguida, remover gradualmente aquelas com p-valores mais altos — até restarem apenas os preditores significativos.
Esse procedimento ajuda a construir um modelo mais enxuto e eficaz.
Regressão Stepwise e Melhores Subconjuntos
Durante a etapa exploratória da construção do modelo, é possível utilizar procedimentos automatizados, como:
- Regressão Stepwise: adiciona ou remove variáveis automaticamente com base nos critérios estatísticos definidos.
- Melhores Subconjuntos: permite testar diferentes combinações de variáveis e escolher o modelo mais adequado.
No Minitab, esse método fornece ainda o Cp de Mallows, uma estatística que ajuda a equilibrar precisão e viés na escolha do modelo final.
Utilizar essas ferramentas estatísticas reduz o risco de erros na construção do modelo e aumenta a confiabilidade dos resultados, proporcionando uma análise mais robusta e alinhada com a realidade dos dados.
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