Indústria

29/04/2015

Última atualização: 18/09/2025

O papel da indústria na cadeia econômica nacional

A indústria brasileira atua como elo central de diversas cadeias produtivas. Setores como o agronegócio, construção civil e energia dependem diretamente de produtos e serviços industriais para funcionar de forma eficiente.

Além disso, a indústria estimula o desenvolvimento de tecnologia, pesquisa aplicada e capacitação profissional. Investimentos em inovação industrial geram efeito multiplicador na economia, movimentando fornecedores, distribuidores e prestadores de serviço.

Mesmo com a expansão do setor de serviços nas últimas décadas, a indústria mantém um papel estratégico: produzir, transformar e conectar segmentos que sustentam o crescimento econômico.

Setores industriais predominantes no Brasil

A indústria brasileira é formada por diferentes segmentos, com destaque para aqueles que concentram produção, tecnologia e geração de empregos em larga escala. Veja a seguir os principais setores que movimentam o PIB no Brasil.

Indústria de transformação

A indústria de transformação é a mais representativa dentro da estrutura industrial brasileira. É nela que ocorre a conversão de matérias-primas em produtos acabados ou semiacabados, abastecendo tanto o mercado interno quanto as exportações. Com forte presença no Sudeste e Sul do país, esse segmento concentra boa parte dos investimentos e empregos do setor.

Alimentos e bebidas

Esse é um dos ramos mais consolidados da indústria brasileira. Responsável por uma fatia significativa do PIB industrial, o setor de alimentos e bebidas atende ao mercado interno e se destaca nas exportações, especialmente com carnes, grãos processados e bebidas industrializadas. A produção está distribuída em todas as regiões, o que contribui para o dinamismo econômico de estados fora do eixo tradicional industrial.

Em 2024, o setor faturou cerca de R$1,277 trilhão no Brasil — aumento de ~10% sobre 2023.

Uma das principais empresas/indústrias desse segmento:

Automobilística

A indústria automobilística brasileira está entre as maiores da América Latina. Com fábricas instaladas principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, o setor produz automóveis, caminhões e autopeças. Apesar das oscilações no consumo interno, o segmento é estratégico por atrair investimentos tecnológicos e estimular outras cadeias, como metalurgia, química e logística.

Em 2024, foram produzidos cerca de 1,895 milhão de veículos novos, segundo a ANFAVEA. Essa produção está para gerar um faturamento total que, incluindo veículos e autopeças, ultrapassou US$66 bilhões (mercado automotivo líquido) no mesmo ano.

Três das principais empresas do setor:

  1. Volkswagen do Brasil: com forte presença industrial no país, investe bastante em modernização de plantas e produção de modelos eléctricos ou híbridos, além de atender tanto o mercado interno quanto exportação.
  2. General Motors (GM): fabricante de automóveis e autopeças, importante empregadora e integradora de cadeias de fornecedores. Produz veículos de passeio e veículos utilitários leves.
  3. Fiat / Stellantis: também relevante em volume, com fábricas em Minas Gerais e em outros estados. É uma das maiores produtoras de automóveis do Brasil, com forte atuação tanto no mercado interno quanto nas exportações.

Além das montadoras, a indústria de autopeças mostrou crescimento importante no início de 2025. Entre janeiro e maio de 2025, o faturamento nominal do setor de autopeças subiu ~15,2% em comparação com igual período de 2024.

Química e petroquímica

O setor químico e petroquímico tem papel central na indústria nacional, fornecendo insumos para plásticos, fertilizantes, medicamentos, tintas e diversos produtos de consumo. Com forte presença no polo de Camaçari (BA) e no estado do Rio de Janeiro, o segmento enfrenta desafios relacionados a custos de energia e dependência de insumos importados, mas segue sendo um dos mais relevantes em faturamento.

Duas das principais empresas desse segmento:

  1. Braskem: Líder nacional petroquímica, atua fortemente na produção de resinas termoplásticas como PE, PP, PVC, além de eteno e propeno. Em 2024, registrou um EBITDA recorrente de US$ 1,1 bilhão, 46% acima do verificado em 2023.
  2. Unipar Carbocloro: Empresa relevante na produção de cloro, soda cáustica e derivados, com capacidade instalada expressiva e atuação nos mercados de químicos básicos.

Metalurgia e siderurgia

A produção de aço, ferro-gusa e metais não ferrosos posiciona o Brasil como exportador relevante, especialmente para a Ásia e Europa. A indústria metalúrgica e siderúrgica está concentrada em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, com impacto direto em setores como construção civil e fabricação de máquinas. Apesar da concorrência internacional, o Brasil ainda mantém base sólida nesse campo.

Três das principais empresas do setor no Brasil:

  1. ArcelorMittal (subsetor de aço longo e laminados): atua com usinas em Minas Gerais e Rio de Janeiro, entre outros estados. É uma das líderes em produção de produtos siderúrgicos.
  2. Gerdau: referência em aços longos, especiais e também em produtos de reciclagem metálica. Encerrou 2024 com EBITDA ajustado de R$ 10,8 bilhões.
  3. Usiminas: importante no setor de aço plano, com atuação nos estados de Minas Gerais e São Paulo, fornecendo chapas para indústria automotiva, construção e bens de capital.

Indústria têxtil

Com histórico de forte presença no Sul e Sudeste, a indústria têxtil brasileira destaca-se pela produção de tecidos, vestuário e artigos de moda. Mesmo enfrentando competição de produtos importados, o setor mantém relevância, principalmente em polos como Blumenau (SC), Americana (SP) e Fortaleza (CE). A cadeia têxtil é uma das que mais emprega mão de obra, com presença em centenas de municípios.

Indústria extrativa

A indústria extrativa brasileira tem papel estratégico na economia. Baseada na exploração de recursos naturais, ela fornece insumos essenciais para outros setores produtivos, como construção civil, siderurgia e energia. Sua relevância é sentida tanto na geração de divisas quanto na ocupação territorial.

Mineração

O Brasil está entre os maiores produtores minerais do mundo. Minerais como ferro, níquel, bauxita, ouro, cobre e lítio compõem boa parte das exportações nacionais. Minas Gerais lidera em volume e diversidade, mas estados como Pará e Goiás também ganham destaque.

Em 2024, a mineração brasileira movimentou cerca de R$250 bilhões, segundo dados do IBRAM. A Vale S.A. lidera o setor, sendo a maior produtora de minério de ferro do mundo, com atuação direta em logística, exportações e impacto sobre o saldo comercial do país.

A atividade mineral está diretamente ligada ao desempenho de setores como siderurgia e infraestrutura. Mas também enfrenta pressões por maior controle ambiental e social, principalmente em áreas sensíveis da Amazônia Legal.

Petróleo e gás

A indústria de petróleo e gás responde por uma parcela significativa da matriz energética e da balança comercial brasileira. O país está entre os 10 maiores produtores mundiais de petróleo, com produção diária de mais de 3 milhões de barris em 2024, segundo a ANP.

Petrobras é a principal operadora do setor, responsável por grande parte da produção offshore em campos do pré-sal. O Rio de Janeiro concentra boa parte dessa produção, seguido por Espírito Santo e São Paulo.

Em 2024, o setor de óleo e gás movimentou cerca de R$600 bilhões e foi responsável por quase 15% das exportações brasileiras. Apesar da importância econômica, a transição energética global coloca o setor sob nova pressão: aumentar eficiência e reduzir emissões.

Indústria de construção

A indústria da construção continua sendo um dos maiores motores de geração de emprego no Brasil. Seu impacto vai além do canteiro de obras: movimenta cadeias produtivas de cimento, aço, vidro, cerâmica, tintas e serviços técnicos. Está diretamente ligada à urbanização, ao crescimento imobiliário e ao desenvolvimento de infraestrutura nacional.

Construção civil

A construção civil abrange obras residenciais, comerciais e industriais. Em 2024, o setor movimentou cerca de R$448 bilhões, com crescimento sustentado por programas habitacionais, crédito imobiliário e expansão urbana nas regiões metropolitanas.

O segmento responde por aproximadamente 6% do PIB nacional, além de empregar mais de 2,5 milhões de trabalhadores formais. Capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia lideram os lançamentos imobiliários. A demanda por moradia, aliada à valorização de ativos imobiliários, mantém o setor aquecido em várias regiões.

Apesar do avanço, gargalos como baixa produtividade, informalidade e dificuldades logísticas continuam afetando a eficiência da cadeia construtiva.

Infraestrutura pesada

A infraestrutura pesada envolve obras de grande porte: rodovias, ferrovias, saneamento, energia e mobilidade urbana. Esse segmento é considerado estratégico para a competitividade nacional, por conectar regiões e permitir o escoamento da produção.

Em 2024, o investimento em infraestrutura ficou em torno de 1,8% do PIB, abaixo da necessidade estimada pelo setor privado, que gira em torno de 4%. Mesmo assim, houve avanços em projetos de concessão, como ferrovias no Centro-Oeste e leilões de rodovias federais.

Empresas como Andrade GutierrezCamargo Corrêa Infra, e Grupo CCR lideram contratos públicos e privados. O desafio principal está na previsibilidade regulatória, essencial para atrair novos investimentos de longo prazo.

Indústria de base

A indústria de base sustenta toda a cadeia produtiva nacional. Seu papel é fornecer matérias-primas e insumos para os demais setores industriais, da construção à transformação. É um segmento que demanda investimentos de longo prazo e tem impacto direto na competitividade do país.

Produção de insumos industriais

Esse segmento envolve a fabricação de materiais como aço, cimento, celulose, fertilizantes e produtos químicos básicos. São produtos que não chegam diretamente ao consumidor final, mas que são indispensáveis em praticamente todas as etapas produtivas.

O Brasil conta com empresas consolidadas como CSNSuzanoBraskem, que atuam na produção de aço, celulose e químicos industriais, respectivamente. Em 2024, a produção de insumos industriais teve leve crescimento, impulsionada por demanda dos setores de agronegócio, construção e energia.

Apesar disso, o setor enfrenta obstáculos logísticos, alta tributária e custos de energia, que impactam a margem operacional das empresas, especialmente na fabricação de itens de alto consumo energético, como o cimento e o aço.

Fornecimento de energia e materiais brutos

O fornecimento de energia é outro pilar da indústria de base. O Brasil tem matriz energética predominantemente renovável, mas ainda depende de combustíveis fósseis em segmentos industriais específicos.

Empresas como EletrobrasEngiePetrobras têm papel estratégico na distribuição de energia elétrica e gás natural, essenciais para manter a produção industrial em funcionamento. A geração de energia está ligada diretamente à oferta de materiais brutos, como carvão mineral, gás e biomassa, usados como combustíveis ou insumos produtivos.

A estabilidade no fornecimento e o custo da energia são fatores críticos. Em momentos de crise hídrica ou aumento de preços internacionais do petróleo, o impacto sobre a indústria de base é imediato, especialmente em setores como metalurgia, cimento e química.

Transição e tendências na indústria brasileira

A indústria brasileira passa por um período de transição estrutural. A necessidade de inovação, o avanço da digitalização e as mudanças no cenário global exigem respostas rápidas, com foco em produtividade, sustentabilidade e soberania industrial.

Indústria 4.0 e digitalização dos processos

A adoção de tecnologias da Indústria 4.0 avança, mas ainda de forma desigual. Setores como automotivo, químico e alimentos já implementam sistemas de automação, sensores e controle em tempo real. Por outro lado, pequenas e médias indústrias enfrentam dificuldades em migrar para modelos digitais, seja por falta de capital ou mão de obra especializada.

Ferramentas como IoT, inteligência artificial e manufatura aditiva estão ganhando espaço. Segundo a CNI, mais de 60% das indústrias de grande porte já adotam pelo menos uma tecnologia digital em suas linhas de produção. A tendência é que essa transformação se intensifique nos próximos anos, com incentivos públicos e alianças com centros de pesquisa.

Sustentabilidade e pressão por ESG

A agenda ESG (ambiental, social e governança) deixou de ser opcional. Pressões de investidores, consumidores e legislações internacionais forçam as empresas a rever práticas operacionais e ampliar o controle de impactos ambientais e sociais.

A indústria brasileira tem buscado reduzir emissões, reutilizar resíduos e rastrear insumos com mais transparência. Setores como papel e celulose, químico e têxtil estão entre os mais cobrados por metas de descarbonização. Além disso, há crescimento na exigência por práticas éticas em toda a cadeia de suprimentos, especialmente entre empresas que exportam para Europa e América do Norte.

Apesar disso, parte do setor ainda resiste a mudanças mais profundas, seja por falta de regulação mais clara ou por custos de adaptação. A pressão tende a crescer.

Impactos da reindustrialização e reshoring

A pandemia expôs a dependência excessiva de cadeias produtivas longas e externas. O movimento de reshoring, trazer parte da produção de volta ao país, começa a ganhar espaço, especialmente em segmentos estratégicos como farmacêutico, tecnologia e insumos médicos.

No Brasil, essa discussão se conecta com a ideia de reindustrialização, que não se limita ao crescimento do setor, mas à modernização da base produtiva. Incentivos à produção local, fortalecimento da cadeia de semicondutores e políticas para inovação industrial voltaram à pauta em 2024 e 2025.

O cenário global, com tensões comerciais e mudanças logísticas, favorece países com mercado interno relevante, como o Brasil. A resposta estratégica depende de investimentos coordenados entre governo, indústria e setor financeiro.

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