Empresarial e negócios

23/11/2017

Última atualização: 30/10/2025

Bitcoin: o que é, como funciona e seus principais riscos

O Bitcoin já não é mais assunto restrito a fóruns de tecnologia. Nos últimos anos, ele passou a fazer parte de decisões de investimento, debates sobre política monetária e estratégias corporativas. O que começou como um projeto alternativo em meio à crise financeira de 2008, hoje movimenta trilhões de dólares e divide opiniões entre entusiastas e críticos.

Mas afinal, o que é o Bitcoin? Como ele funciona? Por que tanta gente fala sobre isso e, ao mesmo tempo, por que tantos ainda evitam o tema?

O que é o Bitcoin?

O Bitcoin é uma moeda digital descentralizada, criada para permitir transações financeiras entre pessoas sem a necessidade de bancos, governos ou intermediários. Diferente do dinheiro que usamos no dia a dia, ele não é emitido por uma autoridade central. Ele funciona por meio de uma rede de computadores espalhados pelo mundo, que seguem um protocolo criptográfico e validam todas as movimentações.

Para facilitar o entendimento, imagine uma planilha pública, disponível para qualquer pessoa acessar e verificar. Essa planilha funciona como um livro-caixa global, onde todas as transações são registradas de forma permanente. Essa estrutura é chamada de blockchain, e ela garante que os registros não possam ser alterados após serem confirmados. É o que dá ao Bitcoin sua segurança e rastreabilidade.

O Bitcoin foi o primeiro ativo desse tipo a ser criado. Desde então, surgiram milhares de outras moedas digitais, mas ele segue sendo a mais conhecida e valorizada. Alguns investidores comparam o Bitcoin ao ouro, por ser limitado e visto como um meio de proteger patrimônio. Outros enxergam como uma tecnologia em desenvolvimento, ainda distante de um uso mais amplo.

Apesar de ser uma moeda, seu uso no comércio ainda é restrito. Na prática, a maioria das pessoas que compram Bitcoin faz isso com objetivo financeiro, seja especulativo ou de longo prazo. O interesse cresceu conforme o preço da moeda oscilou e atraiu a atenção de quem buscava alternativas aos investimentos tradicionais.

Origem e contexto histórico

Em 2008, quando o sistema financeiro enfrentava uma das suas maiores crises, cresceu a desconfiança em relação aos bancos e às formas tradicionais de controle do dinheiro. Foi nesse cenário que surgiu o projeto do Bitcoin, apresentado como uma alternativa ao modelo vigente.

O documento original, conhecido como whitepaper, propunha um sistema de pagamento ponto a ponto, que funcionaria sem instituições intermediárias. Essa proposta foi publicada em fóruns especializados em criptografia e programação, e logo atraiu atenção de comunidades interessadas em finanças e tecnologia.

A criação oficial do Bitcoin ocorreu em janeiro de 2009, com a mineração do primeiro bloco da blockchain, conhecido como “bloco gênese”. Nele, foi inserida uma frase extraída de uma manchete de jornal britânico que falava sobre o resgate financeiro aos bancos. O gesto foi interpretado como um posicionamento contra a concentração do poder financeiro.

Desde então, o Bitcoin passou por ciclos de valorização e críticas. No início, era uma curiosidade restrita a desenvolvedores. Depois, passou a ser usado em fóruns, sites e até em transações ilegais. Hoje, é negociado por grandes corretoras, regulado em alguns países e discutido por instituições financeiras tradicionais.

Quem é Satoshi Nakamoto?

O nome Satoshi Nakamoto aparece como autor do whitepaper do Bitcoin e criador da tecnologia. No entanto, ninguém sabe quem é essa pessoa ou grupo de pessoas. A identidade nunca foi revelada. Também não há registros de aparições públicas, entrevistas ou interações após certo período. Depois de publicar os fundamentos do sistema e trocar mensagens com colaboradores nos primeiros anos, Satoshi desapareceu completamente.

O criador do Bitcoin preferiu o anonimato. Isso alimentou especulações, mas também reforçou um princípio que a moeda defende: a descentralização.

Satoshi não registrou patente nem reivindicou controle sobre o projeto

A figura de Satoshi virou símbolo de um movimento maior: o da busca por soluções financeiras menos dependentes de autoridades e grandes instituições. Ainda que seja difícil saber quem está por trás desse nome, o impacto da proposta mudou debates sobre o que é dinheiro, quem o controla e quais alternativas podem surgir.

Como o Bitcoin funciona?

Enquanto no sistema bancário tradicional os saldos e as transações são registrados em servidores de propriedade privada, no Bitcoin esse controle é distribuído.

Cada operação é registrada em um sistema público chamado blockchain, onde não há espaço para ajustes após a validação. Isso elimina a necessidade de intermediários para garantir a integridade do processo.

Apesar da complexidade técnica por trás do sistema, o uso do Bitcoin por parte do público é parecido com o de qualquer carteira digital: a pessoa envia ou recebe valores usando códigos que funcionam como endereços. A diferença está na estrutura que valida e armazena esses movimentos.

O papel da blockchain

A blockchain funciona como um livro de registros público e sequencial. Nele, todas as transações já feitas com Bitcoin estão agrupadas em blocos, conectados uns aos outros em uma ordem que não pode ser alterada. Cada novo bloco depende da confirmação do anterior, formando uma cadeia contínua.

Para visualizar melhor, pense em um livro contábil onde ninguém pode rasurar uma página antiga. Além disso, todas as cópias desse livro estão disponíveis em milhares de computadores pelo mundo. Se alguém tenta inserir uma informação incorreta, a rede automaticamente rejeita.

Essa estrutura garante que cada unidade de Bitcoin seja única e não possa ser usada duas vezes na mesma operação, algo conhecido como “gasto duplo”. 

Mineração de Bitcoin: o que é e para que serve

A mineração é o processo responsável por validar novas transações e manter a blockchain em funcionamento. Quem realiza esse trabalho são computadores especializados, chamados de mineradores, que resolvem cálculos matemáticos complexos para confirmar os blocos de transações.

Esse esforço computacional consome energia e exige investimento em equipamentos. Em troca, os mineradores são recompensados com novos bitcoins emitidos pelo sistema. Essa é a única forma pela qual novas moedas são criadas. Não há impressão de dinheiro como em bancos centrais; a emissão é controlada por código.

A função da mineração vai além de criar moedas. Ela garante que as informações registradas na blockchain sejam confiáveis e que nenhum participante consiga alterar dados sem consenso da rede. Ao mesmo tempo, a dificuldade dos cálculos é ajustada automaticamente, equilibrando a velocidade com que novos blocos são gerados.

Esse processo faz com que o Bitcoin funcione como uma rede autônoma e protegida por incentivos. Mineradores atuam por interesse próprio, mas ajudam a manter a estrutura coletiva segura. O modelo, apesar de eficiente, levanta debates por causa do alto consumo de energia, especialmente em países que usam fontes não renováveis.

Como ocorrem as transações em Bitcoin

As transações com Bitcoin envolvem o envio de valores entre dois endereços, identificados por chaves criptográficas. Cada usuário possui uma chave privada, que funciona como uma senha, e uma chave pública, que é o endereço para receber valores. Para movimentar bitcoins, é preciso assinar digitalmente a transação com a chave privada correspondente.

Uma vez iniciada, a transação é transmitida para a rede e entra em uma fila de validação. Os mineradores agrupam essas operações em blocos, verificam se não há irregularidades e, ao confirmar o bloco, registram tudo na blockchain. Esse processo pode levar alguns minutos, dependendo da demanda da rede.

O custo da operação é determinado pela urgência: quem deseja que a transação seja processada mais rápido precisa pagar uma taxa maior. Essa taxa vai para os mineradores como incentivo adicional. Em períodos de congestionamento, os custos podem aumentar.

Por funcionar com base em código, o sistema não permite reembolso nem cancelamento após a confirmação. O controle fica nas mãos do usuário. Isso exige mais atenção ao digitar endereços ou configurar carteiras, já que eventuais erros não podem ser revertidos.

Apesar dessas particularidades, as transações em Bitcoin operam de forma contínua, sem depender do horário comercial ou da autorização de terceiros, o que contrasta com as regras de bancos tradicionais.

O mercado de criptomoedas

O Bitcoin apresenta um valor de mercado de aproximadamente US$ 2,2 trilhões. Esse montante é resultado do preço por unidade multiplicado pela oferta em circulação. Para efeito de comparação, o valor de mercado de todas as criptomoedas combinadas gira em torno de US$ 3,8 trilhões.

Isso mostra que o Bitcoin ainda detém uma fração relevante da participação total no setor.

Outras criptomoedas de grande captação e suas funcionalidades

Ethereum (ETH)

A Ethereum ocupa posição de destaque como a segunda criptomoeda em valor de mercado. Sua funcionalidade difere da do Bitcoin: ela funciona como plataforma para contratos inteligentes e aplicações descentralizadas (dApps).

Na rede Ethereum, desenvolvedores podem criar tokens, jogos, plataformas financeiras e muitos outros serviços sobre sua rede.

Binance Coin (BNB)

A Binance Coin é o token nativo da rede BNB Chain (anteriormente Binance Smart Chain) e também opera como utilitário no ecossistema da exchange Binance. 

Usuários podem utilizar o BNB para pagar taxas com desconto, participar de lançamentos de tokens (launchpads) ou colaborar em aplicações descentralizadas.

XRP

XRP aparece entre as maiores por capitalização de mercado. Seu uso principal está ligado a transferências internacionais de valor, sendo projetada para facilitar liquidações rápidas entre instituições financeiras.

USDT (Tether)

USDT é uma stablecoin, ou seja, uma criptomoeda projetada para manter paridade com uma moeda fiduciária, neste caso, o dólar americano. Isso significa que 1 USDT tende a valer sempre cerca de 1 dólar.

A principal função da Tether é permitir que investidores movimentem valores dentro do mercado cripto sem precisar converter para moedas tradicionais. Por isso, ela é amplamente usada em negociações dentro de exchanges, como forma de “guardar valor” em momentos de alta volatilidade.

Seu uso é comparável ao de uma conta em dólar dentro do mercado cripto. Mesmo sem grande valorização como outros ativos, o USDT é um dos criptoativos mais negociados do mundo em volume diário.

Por se apresentar como estável, o USDT atrai quem deseja uma alternativa digital para manter liquidez sem exposição direta a variações de preço. No entanto, já houve questionamentos sobre a transparência das reservas que garantem essa paridade. A empresa responsável afirma manter ativos suficientes para sustentar a equivalência 1:1 com o dólar.

Solana (SOL)

Solana é uma plataforma blockchain desenvolvida para suportar aplicações descentralizadas e contratos inteligentes, assim como a Ethereum. Sua principal promessa está na alta velocidade de processamentobaixas taxas de transação.

Enquanto outras redes enfrentam limitações em escalabilidade, a Solana utiliza um mecanismo chamado Proof of History (PoH), uma forma de registrar o tempo dentro da blockchain que permite maior eficiência na validação dos blocos. Essa estrutura viabiliza a execução de milhares de transações por segundo.

Na prática, a Solana tem sido usada para desenvolver jogos baseados em blockchain, sistemas financeiros descentralizados (DeFi) e projetos de tokens não fungíveis (NFTs). Além disso, sua arquitetura atraiu desenvolvedores interessados em performance, especialmente para casos de uso que exigem velocidade e baixo custo.

Apesar do desempenho técnico, a rede já enfrentou interrupções e ataques que colocaram em dúvida sua estabilidade. Ainda assim, segue entre os principais projetos do mercado cripto, com uma comunidade ativa e grandes volumes de capital envolvidos.

Críticas e desafios do Bitcoin

Apesar da inovação proposta, o Bitcoin não está isento de críticas. Parte dos debates em torno da moeda envolve preocupações com impactos ambientais, segurança jurídica e a estrutura de mercado. Essas questões ajudam a entender os limites da tecnologia atual e as barreiras que ainda existem para uma adoção mais ampla.

Consumo energético da mineração

A mineração do Bitcoin exige grande capacidade computacional. Cada bloco validado na blockchain depende da resolução de cálculos que requerem alto desempenho e, por consequência, consumo elevado de energia. Isso gerou comparações com o uso energético de países inteiros, como Argentina ou Suécia, o que colocou o tema sob os holofotes ambientais.

A crítica não está apenas no volume consumido, mas também na eficiência desse gasto energético em relação ao benefício gerado. Defensores argumentam que a segurança da rede justifica o custo, enquanto críticos apontam alternativas mais eficientes, como os sistemas de validação por participação (proof of stake), adotados em outras criptomoedas.

Uso em atividades ilegais

Outra preocupação recorrente é o uso do Bitcoin em operações fora da legalidade. Por ser descentralizado e não depender de bancos ou governos, o sistema permite transferências sem identificação direta do usuário. Essa característica atraiu grupos que operam em mercados ilegais, como esquemas de lavagem de dinheiro, evasão fiscal ou comércio de itens ilícitos.

No entanto, é importante destacar que todas as transações ficam registradas publicamente na blockchain, o que torna o rastreamento possível com as ferramentas adequadas. Em diversas investigações, autoridades conseguiram identificar envolvidos a partir desses dados.

O avanço das regulações e o uso crescente por grandes instituições têm ajudado a reduzir esse tipo de associação, mas a crítica ainda persiste.

Concentração e manipulação de mercado

Apesar do discurso de descentralização, o Bitcoin apresenta sinais de concentração. Uma parte significativa das moedas está nas mãos de poucos endereços, conhecidos como whales (baleias). Essa concentração pode influenciar diretamente o preço, já que grandes movimentações por essas carteiras geram impacto no mercado.

O preço do Bitcoin pode sofrer variações abruptas em curtos períodos, muitas vezes sem relação com fundamentos econômicos. Essa volatilidade favorece especuladores e dificulta o uso da moeda como meio de pagamento ou reserva de valor estável.

Por que entender de finanças é cada vez mais necessário

A discussão sobre o Bitcoin e outras criptomoedas não é apenas sobre tecnologia. Ela passa, inevitavelmente, por decisões financeiras, alocação de recursos, avaliação de riscos, estratégias de proteção patrimonial. Mesmo quem não atua diretamente no mercado de ativos digitais está exposto a mudanças que afetam preços, investimentos e consumo.

Compreender conceitos básicos de finanças ajuda a interpretar movimentos do mercado, identificar oportunidades e tomar decisões com mais segurança. Em um cenário onde novas formas de investimento surgem a cada ciclo, quem entende de finanças não depende exclusivamente da intuição ou da opinião alheia.

Dominar esses fundamentos é o que separa uma aposta de uma estratégia.

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