Ferramentas da Qualidade

14/07/2025

HAZOP: como funciona o estudo de riscos operacionais

Na indústria, a prevenção de falhas não pode depender apenas da experiência da equipe ou da sorte. Em processos com substâncias perigosas, pressões elevadas ou reações químicas, qualquer desvio pode gerar perdas sérias. É nesse cenário que o HAZOP se torna relevante.

Ao longo deste conteúdo, você vai entender o que é o HAZOP, como ele funciona na prática, quais variáveis são analisadas e por que ele deve ser integrado a outras ferramentas de avaliação de riscos. Também veremos um exemplo aplicado à indústria química e como ele contribui para decisões mais seguras e processos mais confiáveis.

Se a sua empresa atua com processos industriais, entender como aplicar o HAZOP é parte do caminho para melhorar a segurança, evitar perdas e atender normas exigidas em auditorias.

O que é HAZOP? 

O HAZOP é uma técnica estruturada para identificar riscos em processos industriais. A sigla vem do inglês Hazard and Operability Study, traduzido como Estudo de Perigos e Operabilidade. Essa metodologia nasceu nos anos 1960, desenvolvida pela empresa britânica ICI para evitar falhas em plantas químicas.

Com o tempo, foi adotada por outros setores que lidam com substâncias perigosas ou processos contínuos. Hoje, é uma ferramenta reconhecida em normas como a ISO 45001 e usada globalmente em projetos de engenharia, comissões de segurança e auditorias técnicas.

Objetivos

O principal objetivo do HAZOP é prever desvios operacionais antes que eles se tornem acidentes. A análise considera alterações no processo, como variações de pressão, temperatura ou vazão, que possam gerar falhas, perdas ou riscos ao trabalhador e ao meio ambiente.

O método não busca apenas apontar perigos óbvios, mas também entender como pequenas mudanças no sistema podem resultar em eventos indesejados. A partir disso, são propostas medidas corretivas, salvaguardas e planos de ação que fortalecem a segurança do processo.

Quando e por que usar HAZOP

O HAZOP costuma ser aplicado em duas situações principais: antes do início de uma operação e durante a revisão de sistemas existentes. Em projetos novos, o estudo é feito na fase de engenharia detalhada. Nessa etapa, é possível identificar riscos antes que o investimento seja executado.

Já em instalações que estão em operação, o HAZOP é usado como parte do ciclo de revalidação. A cada cinco anos, aproximadamente, empresas fazem revisões periódicas do processo para garantir que não houve mudanças não registradas ou acúmulo de desvios operacionais ao longo do tempo.

Também é comum sua aplicação após alterações de engenharia, falhas recorrentes ou mudanças regulatórias. Em todos os casos, o foco está em mapear possíveis falhas com impacto na segurança, meio ambiente ou continuidade operacional.

Vantagens da metodologia

O HAZOP se destaca pela profundidade da análise e pelo envolvimento de profissionais de diferentes áreas. Isso garante uma visão mais completa do processo e das consequências de um desvio.

Ao aplicar o método, empresas conseguem reduzir a exposição a riscos operacionais e antecipar falhas antes que gerem prejuízos. A análise contribui para decisões mais seguras, aumenta a confiabilidade da planta e reduz o retrabalho em engenharia.

Outro ponto relevante é o alinhamento com normas e auditorias. Muitos setores exigem documentação formal de avaliação de riscos. O HAZOP cumpre esse papel, gerando registros detalhados que fortalecem a governança e a conformidade legal.

No longo prazo, usar essa metodologia significa menos paradas não programadas, menos incidentes e maior controle sobre o processo produtivo.

Metodologia do HAZOP

O primeiro passo de um estudo HAZOP é dividir o processo em partes menores, chamadas de “nós”. Cada nó representa um trecho da planta com funções específicas, como uma bomba, um trocador de calor ou um trecho de tubulação.

Seleção de nós (pontos de estudo)

Esses nós são definidos com base em documentos técnicos, principalmente diagramas de processo (P&ID). A divisão precisa ser feita para que cada trecho analisado tenha limites operacionais bem definidos. Isso facilita a identificação de desvios, sem sobreposições ou lacunas na análise.

Estabelecimento das variáveis do processo

Depois de definidos os nós, a equipe seleciona quais variáveis serão analisadas. Entre as mais comuns estão: pressão, temperatura, vazão, nível, concentração, composição química e velocidade.

Essas variáveis representam o comportamento esperado do processo. Quando um desvio ocorre, é geralmente uma dessas grandezas que sai do controle. Por isso, elas servem como base para as próximas etapas da análise.

Uso de palavras‑guia

As palavras-guia são o diferencial da metodologia, elas ajudam a investigar cenários de falha de forma sistemática. Aplicar palavras como “mais”, “menos”, “nenhum”, “reverso” ou “parte de” a cada variável do processo, e então perguntar: “O que acontece se isso ocorrer?”

Por exemplo: “Mais pressão” ou “nenhuma vazão”. Cada combinação sugere um possível desvio que será avaliado quanto às causas e consequências.

Esse raciocínio evita que a análise fique dependente apenas da experiência da equipe. Ele obriga a considerar possibilidades que, em condições normais, seriam ignoradas.

Composição da equipe HAZOP

O HAZOP não é feito por uma única pessoa. É uma análise conduzida por uma equipe multidisciplinar, que reúne operadores, engenheiros de processo, engenheiros de segurança, especialistas em instrumentação e um facilitador — que é responsável por manter o foco e a metodologia.

Perguntas e análise de desvios

Com os nós, variáveis e palavras-guia definidos, a equipe começa a investigação. Para cada desvio identificado, são respondidas cinco perguntas:

  1. Qual é a causa provável?
  2. Qual a consequência direta?
  3. Existem salvaguardas já instaladas?
  4. O risco é aceitável ou requer ação?
  5. Qual recomendação deve ser registrada?

Exemplo de aplicação do HAZOP em uma indústria química

Análise preventiva em reator com reação exotérmica

Durante a fase de comissionamento de uma nova unidade de produção, uma indústria química realizou um HAZOP no sistema de reação de um produto intermediário. A reação envolvia liberação de calor, exigindo controle rigoroso da temperatura.

O estudo foi feito antes do início da operação, a partir dos diagramas de processo (P&IDs). Um dos nós avaliados incluía o reator, a linha de saída e o trocador de calor. A variável analisada: temperatura do reator.

Ao aplicar a palavra-guia “mais temperatura”, a equipe discutiu:
– Causa possível: falha na válvula de controle do fluido de resfriamento.
– Consequência: risco de aumento de pressão, degradação do produto e danos ao equipamento.
– Salvaguardas previstas: alarme de alta temperatura e parada de emergência automática.

Mesmo com essas proteções, a equipe recomendou ajustes. Foi proposta a instalação de um sensor de temperatura redundante e a revisão da lógica de intertravamento, com base em análises anteriores de tempo de resposta.

Esse exemplo mostra como o HAZOP, quando feito ainda no projeto, antecipa riscos que poderiam comprometer a operação. O custo de implementar mudanças nessa fase é menor, e o ganho em segurança é significativo.

Integração com outras ferramentas de análise de risco

Nenhuma metodologia resolve tudo sozinha. O HAZOP costuma ser usado junto a outras ferramentas de gestão de riscos, como:

Ao combinar essas abordagens, empresas conseguem criar um sistema de gestão de riscos mais completo, com níveis de profundidade ajustados ao tipo de processo e à sua criticidade.

A contribuição do HAZOP está justamente em transformar conhecimento técnico disperso em uma análise clara, documentada e útil para decisões de segurança.

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