Gestão da Qualidade

02/12/2017

Última atualização: 22/05/2025

O que é o HACCP ou APPCC?

A segurança dos alimentos é uma exigência cada vez mais presente em toda a cadeia produtiva. Para atender a esse padrão, empresas do setor alimentício adotam o sistema HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points – ou, em português, APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.

Trata-se de um método preventivo e sistemático, utilizado para identificar, avaliar e controlar perigos que possam comprometer a saúde do consumidor. Ao contrário de abordagens corretivas, o HACCP atua antes do problema ocorrer, promovendo maior controle sobre processos e fortalecendo a confiabilidade dos produtos.

Neste guia, você vai entender:

O que é HACCP/APPCC?

HACCP, sigla em inglês para Hazard Analysis and Critical Control Points, é um sistema preventivo de controle que identifica, avalia e monitora perigos que podem comprometer a segurança dos alimentos. No Brasil, é conhecido como APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). Esse método é aplicado em todas as etapas da cadeia de produção, desde a matéria-prima até a distribuição final.

Sua função principal é garantir que os alimentos sejam produzidos de forma segura, reduzindo riscos de contaminação química, física e biológica. Ao contrário de abordagens reativas, o APPCC atua de forma preventiva, tornando-se uma exigência comum em auditorias e certificações de qualidade.

O sistema foi desenvolvido nos anos 1960 pela NASA em parceria com a Pillsbury Company. O objetivo era garantir que os alimentos consumidos por astronautas estivessem livres de qualquer risco à saúde durante as missões espaciais. Desde então, o modelo se expandiu globalmente, sendo adotado como base de referência por organizações como o Codex Alimentarius e órgãos reguladores em diversos países.

Quais são os 7 Princípios do Sistema HACCP/APPCC?

sistema HACCP/APPCC é estruturado em sete princípios fundamentais, que orientam a implantação prática e o monitoramento contínuo dos controles de segurança dos alimentos. Esses princípios foram definidos pelo Codex Alimentarius e são adotados internacionalmente por empresas e legislações do setor.

1. Análise de Perigos

A primeira etapa consiste em identificar e descrever todos os perigos que podem ocorrer em cada fase do processo produtivo, desde o recebimento da matéria-prima até a expedição do produto final. Os perigos podem ser:

Além de identificar o tipo de perigo, é necessário avaliar a probabilidade de ocorrênciao impacto potencial à saúde do consumidor. Essa análise permite classificar os riscos e definir onde o controle é mais necessário.

Outro ponto importante é considerar as condições operacionais e os históricos de não conformidades. Isso contribui para uma avaliação mais precisa e personalizada, evitando generalizações.

2. Identificação dos Pontos Críticos de Controle (PCC)

Após a identificação e avaliação dos perigos, é preciso determinar quais etapas do processo exigem um controle rigoroso para garantir a segurança do alimento. Esses pontos são chamados de Pontos Críticos de Controle (PCCs).

Um PCC é qualquer etapa onde a falha no controle pode resultar em um risco inaceitável para o consumidor. Se o perigo não puder ser eliminado ou reduzido a um nível seguro por meio de outra etapa, ele deve ser controlado ali.

Exemplos comuns de PCCs incluem:

Para definir corretamente um PCC, é comum usar a árvore de decisão recomendada pelo Codex Alimentarius. Essa ferramenta ajuda a analisar se a etapa avaliada realmente exige controle crítico ou pode ser tratada como uma etapa de pré-requisito.

3. Estabelecimento de Limites Críticos

Para cada Ponto Crítico de Controle (PCC) identificado, deve-se definir um ou mais limites críticos mensuráveis que determinem se o processo está operando dentro dos padrões de segurança.

Esses limites funcionam como fronteiras operacionais. Quando ultrapassados, sinalizam que o alimento pode estar exposto a um risco e, portanto, medidas corretivas devem ser aplicadas imediatamente.

Os limites críticos devem ser objetivos e verificáveis, com base em parâmetros como:

Esses valores são definidos a partir de dados técnicos, legislações, normas internacionais ou estudos científicos. Sempre que possível, devem ser validados com base na realidade do processo produtivo da empresa.

4. Monitoramento dos PCCs

Uma vez definidos os limites críticos, é necessário estabelecer procedimentos sistemáticos para acompanhar cada Ponto Crítico de Controle (PCC). O monitoramento tem como objetivo verificar, em tempo real, se o processo está dentro dos parâmetros de segurança definidos.

Esse controle pode ser feito de forma contínua ou intermitente, dependendo da natureza da etapa e do risco envolvido. Por exemplo:

A frequência do monitoramento deve ser suficiente para identificar desvios antes que eles comprometam o produto. Além disso, é importante definir quem será o responsável por realizar esse controle, quais instrumentos serão utilizados e onde os dados serão registrados.

5. Ações Corretivas

Quando um limite crítico não é respeitado, o processo sai da condição de controle. Nesses casos, é necessário aplicar ações corretivas imediatas e previamente definidas para garantir que o perigo seja contido.

Essas ações devem atender a dois objetivos principais:

Exemplos de ações corretivas incluem:

Cada PCC deve ter procedimentos corretivos específicos e documentados, com responsáveis designados para a execução e tomada de decisão. Além disso, é essencial registrar a ocorrência, a medida adotada e o resultado obtido, garantindo rastreabilidade.

6. Procedimentos de Verificação

Mesmo com o monitoramento contínuo dos PCCs, é necessário validar se o sistema HACCP está sendo aplicado corretamente e com eficácia. Para isso, são definidos os procedimentos de verificação, que envolvem atividades periódicas de controle e análise.

Essas verificações incluem:

Além disso, a verificação ajuda a identificar falhas sistêmicas, como desvios recorrentes ou etapas que exigem ajustes operacionais. Com base nessas análises, a equipe pode revisar fluxogramas, atualizar limites críticos ou modificar procedimentos.

7. Documentação e Registros

Para que o sistema HACCP seja funcional e confiável, todas as etapas, decisões e atividades executadas devem ser documentadas. Isso inclui os procedimentos adotados, os resultados dos monitoramentos, as ações corretivas aplicadas e as verificações realizadas.

A documentação tem três funções principais:

Os registros devem ser organizados com identificação de datas, responsáveis e resultados. Sistemas digitais de gestão podem auxiliar nesse controle, mas versões físicas bem estruturadas também são aceitas, desde que acessíveis e legíveis.

10 Motivos para Implementar o HACCP/APPCC na Indústria de Alimentos

A adoção do sistema HACCP/APPCC oferece vantagens operacionais, sanitárias e mercadológicas. Abaixo, listamos 10 motivos que justificam sua aplicação em empresas do setor de alimentos:

  1. Prevenção de riscos à saúde do consumidor
    O sistema antecipa e controla perigos biológicos, químicos e físicos, reduzindo o risco de contaminação.
  2. Melhoria da qualidade do produto final
    Processos mais controlados resultam em alimentos mais seguros e com padrões consistentes de qualidade.
  3. Atendimento às exigências legais
    Estar em conformidade com normas como a RDC 275/2002 e a Portaria nº 1428/1993 evita sanções e interdições.
  4. Facilidade nas auditorias e certificações
    A documentação e rastreabilidade do APPCC facilitam a aprovação em auditorias internas e externas, como ISO 22000 e FSSC 22000.
  5. Acesso a mercados internacionais
    O sistema é requisito básico para exportação a países da União Europeia e Estados Unidos, conforme legislações locais.
  6. Redução de perdas e retrabalhos
    Ao identificar pontos críticos com precisão, o HACCP reduz desvios operacionais e desperdícios.
  7. Fortalecimento da imagem da marca
    A segurança do alimento é percebida pelo consumidor como um valor. Isso fortalece a credibilidade da empresa no mercado.
  8. Integração com outras ferramentas de gestão
    O HACCP pode ser aplicado junto a sistemas como BPF, POPs e normas ISO, ampliando sua eficiência.
  9. Maior controle sobre fornecedores
    A implementação exige o monitoramento de matérias-primas e insumos, o que melhora a cadeia de suprimentos.
  10. Cultura de segurança dos alimentos na organização
    Estimula a responsabilidade técnica e o comprometimento dos colaboradores, promovendo um ambiente mais disciplinado e preventivo.

Exemplo de Implementação do HACCP/APPCC: Pasteurização de Leite em um Laticínio

Para ilustrar a aplicação dos 7 princípios do HACCP, vamos considerar uma etapa crítica da produção em laticínios: a pasteurização do leite. Esse processo é essencial para eliminar microrganismos patogênicos e garantir a segurança do produto final.

Abaixo, mostramos como os princípios são aplicados nesta etapa:

1. Análise de Perigos

Nessa fase, são identificados perigos biológicos, como Salmonella spp.Listeria monocytogenesEscherichia coli, que podem estar presentes no leite cru. Também se considera a contaminação cruzada após a pasteurização, caso haja falha no equipamento ou manuseio incorreto.

2. Identificação dos Pontos Críticos de Controle (PCC)

etapa de pasteurização (aquecimento do leite a uma temperatura e tempo definidos) é identificada como um PCC, pois é o ponto onde os patógenos devem ser eliminados.

 3. Estabelecimento de Limites Críticos
Define-se, por exemplo, que o leite deve atingir mínimo de 72 °C por 15 segundos (pasteurização rápida). Esses valores são baseados em normas técnicas e garantem a eliminação de microrganismos patogênicos.

4. Monitoramento dos PCCs

O operador do pasteurizador registra a temperatura e o tempo de retenção em planilhas ou sistemas digitais. O monitoramento é contínuo, utilizando sensores calibrados que disparam alertas em caso de desvio.

5. Ações Corretivas

Se a temperatura cair abaixo do limite estabelecido, o lote é isolado. O produto pode ser redirecionado para nova pasteurização ou descartado, dependendo da gravidade do desvio. O equipamento é inspecionado e calibrado, se necessário.

6. Procedimentos de Verificação

São feitas auditorias internas, verificação das planilhas de controle, calibração dos sensores de temperatura e coleta de amostras para análises microbiológicas do leite pasteurizado.

7. Documentação e Registros

Todos os dados de pasteurização, monitoramentos, ações corretivas e verificações são registrados de forma organizada, permitindo rastreabilidade total e preparação para auditorias externas.

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Nele, você aprende como aplicar um sistema de gestão de segurança de alimentos alinhado aos requisitos globais. Ideal para profissionais que atuam com certificações, auditorias e controle de qualidade em alimentos.

Ferramentas da Qualidade que se integram bem ao HACCP/APPCC

Embora o HACCP/APPCC seja um sistema estruturado e completo, ele se beneficia do uso de ferramentas da qualidade para tornar os controles mais eficazes e os processos mais transparentes. Em cada etapa, desde a análise de perigos até a verificação, essas ferramentas ajudam na tomada de decisão, padronização das ações e análise de falhas.

Ao integrar métodos como o PDCA, Ishikawa e FMEA, as empresas conseguem identificar causas com mais precisão, priorizar riscos e estruturar planos corretivos de forma mais lógica e mensurável.

Veja abaixo como essas ferramentas podem ser aplicadas dentro do contexto do HACCP:

 1. Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe)

Ferramenta visual que ajuda a estruturar o raciocínio na identificação de causas para um problema específico.

2. 5 Porquês

Método simples e direto para investigar problemas com base em perguntas sequenciais.

3. PDCA (Plan-Do-Check-Act)

Ciclo de gestão que orienta a execução de processos com foco em melhoria contínua.

4. FMEA (Análise de Modo e Efeito de Falha)

Técnica usada para prever falhas potenciais em processos e avaliar seus impactos.

5. Gráficos de Controle

Ferramenta estatística que permite acompanhar o desempenho de processos ao longo do tempo.

6. 5W2H

Checklist estruturado para planejamento e comunicação clara de ações.

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