Indústria

07/08/2025

Commodities: o que são, tipos e por que importam

Quando se fala em commodities, muita gente pensa apenas em soja, petróleo ou minério de ferro. Mas esses produtos vão além da pauta de exportação: eles ajudam a explicar parte do que movimenta a economia brasileira e global. 

Estão no centro das relações comerciais, da oscilação do dólar e até dos preços que chegam ao consumidor final.

Nos próximos tópicos, você vai entender o que são esses bens negociados em larga escala, por que são tão sensíveis ao mercado e como afetam diretamente setores como o agronegócio, a indústria e o mercado financeiro.

O que são commodities?

As commodities são bens produzidos em grande escala, com pouca ou nenhuma diferenciação entre os fornecedores. Isso significa que uma saca de café, uma tonelada de soja ou um barril de petróleo tende a ser tratado da mesma forma no mercado, independentemente de quem produziu.

Esses produtos são essenciais para o funcionamento da economia, por serem usados como matéria-prima em diversas cadeias produtivas. A cotação costuma ocorrer em bolsas internacionais, e os preços variam de acordo com oferta e demanda global.

Características principais

Alguns pontos definem esse tipo de bem: padronização, fungibilidade e grande volume de negociação. O termo "fungível" indica que uma unidade pode ser trocada por outra da mesma natureza, sem que isso altere o valor percebido pelo mercado.

Além disso, as commodities são altamente sensíveis a variações externas como clima, geopolítica e câmbio. Isso torna o setor volátil, mas também estratégico para diversos países produtores.

Diferença entre commodities e produtos industriais

Diferente de um produto industrializado, que passa por várias etapas de transformação, uma commodity tem baixo grau de processamento. Enquanto um carro ou um smartphone agrega design, tecnologia e marca, uma tonelada de milho, por exemplo, vale pelo volume, não pela origem.

Isso não quer dizer que sejam menos valiosas. Pelo contrário. Boa parte das receitas de exportação do Brasil vem de commodities agrícolas e minerais, o que explica sua relevância nas decisões de política econômica e nos ciclos de crescimento.

Tipos de commodities

As commodities são divididas por origem e uso econômico. Essa classificação ajuda a entender como cada grupo reage a fatores distintos, como clima, geopolítica ou demanda industrial. 

Alguns produtos têm forte relação com o agronegócio, outros com mineração, energia ou até com o setor financeiro. A seguir, você vai ver as principais categorias e por que elas são tratadas de forma diferente no mercado.

Commodities agrícolas

As commodities agrícolas representam uma parte expressiva da pauta de exportações brasileiras. Produtos como soja, café, milho, açúcar e algodão entram nessa categoria. O Brasil está entre os maiores produtores globais em várias dessas culturas, o que torna o setor agrícola altamente influente no desempenho econômico nacional.

Esse tipo de commodity depende fortemente de condições climáticas, ciclos sazonais e políticas de subsídio em mercados internacionais. Pequenas variações na previsão do tempo ou na demanda da China, por exemplo, afetam diretamente os preços.

Commodities minerais e metálicas

Minério de ferro, ouro, cobre, níquel e alumínio são alguns exemplos de commodities minerais. Esses bens são extraídos da natureza e processados em um estágio básico antes de serem comercializados. Servem como insumo para construção civil, indústria de base e tecnologia.

O Brasil tem presença forte nesse segmento, especialmente por conta da Vale e do extenso território com reservas minerais. O valor dessas commodities oscila conforme o nível de atividade econômica global e as movimentações geopolíticas envolvendo grandes players como China, Estados Unidos e Austrália.

Commodities energéticas

Petróleo, gás natural e carvão formam a base energética de muitos países. Essas commodities são negociadas em mercados internacionais com alta volatilidade, influenciadas por decisões da OPEP, conflitos no Oriente Médio e pela transição energética em curso.

O petróleo, em particular, tem forte impacto sobre outros setores — do transporte ao custo de produção agrícola. A cotação do barril afeta diretamente a inflação e as decisões de política monetária em países importadores e exportadores.

Soft commodities: o que são?

O termo "soft commodities" refere-se a produtos de origem agrícola que não envolvem extração mineral ou energética, como café, açúcar, suco de laranja e cacau. São bens perecíveis, cultivados em climas específicos, o que os torna sensíveis a pragas, variações climáticas e políticas agrícolas locais.

O Brasil é líder global na exportação de diversas soft commodities, como o café arábica e o açúcar. Esses produtos também têm grande peso cultural e comercial, além de movimentarem cadeias logísticas complexas.

Como funcionam os mercados de commodities

A negociação de commodities segue regras próprias. Diferente de produtos comuns, esses bens são tratados como ativos financeiros, com cotações globais e contratos padronizados. 

Isso cria um ambiente de negociação dinâmico, onde decisões locais podem gerar impactos em cadeia. Entender como esse mercado opera é essencial para acompanhar os movimentos de preços e os efeitos econômicos associados.

Mercado físico x mercado futuro

O comércio de commodities acontece em dois ambientes principais: o mercado físico (ou spot) e o mercado futuro. No físico, a negociação é direta: o comprador adquire o produto com entrega imediata ou em curto prazo. Já no mercado futuro, são negociados contratos para entrega futura do bem, com valores acordados antecipadamente.

Esse segundo modelo serve para proteger compradores e vendedores das variações abruptas de preço. Uma usina de açúcar, por exemplo, pode garantir o valor da tonelada com meses de antecedência, reduzindo o risco de prejuízo.

Formação de preço e volatilidade

Os preços das commodities não são definidos por tabelas ou acordos fixos. Eles refletem a expectativa do mercado sobre oferta e demanda. Fatores como clima, conflitos armados, estoques globais, decisões de governos e até especulação financeira afetam a cotação diariamente.

Essa volatilidade é parte do jogo. A mesma seca que prejudica a produção de milho nos Estados Unidos pode beneficiar os exportadores brasileiros. Por isso, países e empresas monitoram esses movimentos com atenção — a oscilação pode gerar lucros expressivos ou perdas imediatas.

O papel das bolsas de mercadorias

As bolsas de mercadorias organizam e regulam a negociação de contratos futuros e opções. Chicago Board of Trade (CBOT), New York Mercantile Exchange (NYMEX) e a B3, no Brasil, são exemplos de plataformas onde esses ativos são negociados.

Esses ambientes dão liquidez ao mercado, estabelecem padrões de qualidade e permitem que os participantes atuem com mais previsibilidade. Mesmo sem operar diretamente nesses contratos, empresas produtoras acompanham as cotações diariamente — os preços ali formados acabam sendo referência para o mundo todo.

Importância das commodities para o Brasil

Peso na balança comercial

Boa parte das exportações brasileiras depende das commodities. Soja, minério de ferro, petróleo e carne bovina estão entre os principais produtos enviados ao exterior. Esse grupo é responsável por mais de 60% das receitas com exportações, o que mostra o quanto o país está exposto às variações de preço desses itens no mercado internacional.

Em períodos de alta demanda global, como ocorreu com a recuperação pós-pandemia, a entrada de dólares aumenta e ajuda a conter o déficit nas contas externas. Quando os preços caem, o efeito é inverso e o impacto fiscal aparece nos números do Tesouro.

Impacto no agronegócio e na indústria

O agronegócio é o maior motor da produção de commodities no Brasil. Regiões como o Centro-Oeste e o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentram grandes áreas cultivadas voltadas à exportação. Essa produção sustenta cadeias inteiras, que vão do transporte à indústria de insumos.

Na mineração, o destaque é o Sudeste, com destaque para Minas Gerais. Já no setor de petróleo, a costa do Sudeste e o pré-sal representam a principal fonte de extração. A atividade extrativa não apenas movimenta a economia local, mas também gera royalties e tributos que reforçam as receitas de estados e municípios.

Influência nas contas públicas

A arrecadação federal e estadual também depende do desempenho das commodities. Quando o preço do barril do petróleo sobe, por exemplo, os royalties pagos às prefeituras aumentam. O mesmo vale para a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), que cresce em períodos de valorização do minério de ferro.

A economia brasileira está diretamente ligada às oscilações do mercado de commodities, o que torna a gestão fiscal mais vulnerável a choques externos. Essa exposição exige cautela em políticas públicas, principalmente quando se trata de planejamento orçamentário.

Riscos e oportunidades no setor de commodities

Variação cambial e dependência externa

Boa parte das commodities brasileiras é cotada em dólar. Quando o câmbio oscila, os impactos são imediatos: a receita do exportador sobe com a alta da moeda, mas os custos de produção também tendem a aumentar. O risco está na dependência de poucos mercados compradores, o que torna a economia vulnerável a movimentos externos.

Clima e geopolítica no centro do risco

Secas, enchentes e instabilidades climáticas afetam diretamente a produtividade agrícola. No setor energético e mineral, conflitos e sanções entre países produtores desestabilizam a oferta global. Mesmo sem envolvimento direto, o Brasil sente os efeitos.

Exigências ambientais e o ESG

Pressões por rastreabilidade e práticas sustentáveis já impactam a exportação de commodities. Grandes mercados, como a União Europeia, impõem barreiras a produtos ligados ao desmatamento ou à violação de normas socioambientais. Isso cria um desafio — e ao mesmo tempo, uma oportunidade — para produtores que se adaptarem.

Investimentos em commodities

Como investir nesse tipo de ativo

Investir em commodities vai além da compra direta de grãos ou barris. No mercado financeiro, é possível acessar esse setor por meio de contratos futuros, fundos de investimento, ETFs (fundos de índice) ou ações de empresas ligadas à produção e exportação desses bens.

Cada alternativa tem um perfil de risco e liquidez diferente. Contratos futuros exigem conhecimento técnico e gestão de margem. Já fundos e ETFs permitem exposição mais simplificada, com menor necessidade de acompanhamento diário.

Riscos para o investidor

O principal risco está na volatilidade. Como o preço depende de fatores externos — clima, geopolítica, câmbio — as oscilações podem ser bruscas. Além disso, investir em commodities exige atenção constante ao cenário internacional.

A diversificação é uma das estratégias mais utilizadas para mitigar perdas nesse tipo de ativo. Ao combinar commodities com outros segmentos, o investidor reduz a exposição a eventos isolados.

Alternativas no mercado brasileiro

Na B3, há opções como contratos futuros de boi gordo, café, milho e soja. Também existem fundos que replicam índices de commodities ou que investem em empresas do setor, como mineradoras e exportadoras agrícolas. Essas alternativas facilitam o acesso ao setor, mesmo para quem não atua diretamente no agronegócio ou na indústria.

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O que observar ao lidar com commodities

As commodities ajudam a entender os ciclos da economia, o comportamento dos mercados e os desafios de países exportadores como o Brasil. Do campo à bolsa de valores, esses bens impactam produção, consumo e política econômica.

Para quem atua no setor, acompanhar as variações globais é parte da rotina. Já para quem investe, entender os riscos e as dinâmicas do mercado pode ser o diferencial entre lucro e prejuízo.

Commodities não são apenas produtos básicos, são termômetros econômicos. E, nesse cenário, saber interpretá-los é tão importante quanto produzi-los ou negociá-los.

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