Âncoras de Carreira: o que são e como identificar a sua
Você pode mudar de emprego, de empresa ou até de área, mas dificilmente mudará aquilo que mais valoriza no trabalho. É esse ponto central que o psicólogo Edgar Schein chamou de âncora de carreira.
Muita gente faz escolhas profissionais com base no retorno financeiro, no prestígio ou por decisões da família. Mas quando essas escolhas ignoram o que sustenta sua motivação de verdade, os sinais costumam aparecer cedo, desinteresse, desgaste, sensação de estar no lugar certo pelas razões erradas.
Neste conteúdo, você vai entender o que são as âncoras de carreira, como identificá-las e de que forma elas podem servir como um critério para tomar decisões alinhadas com o que você realmente busca construir.
Como saber se um trabalho combina com você?
Muitas pessoas escolhem carreiras pensando no retorno financeiro imediato. Um salário alto, benefícios atrativos e status costumam parecer critérios suficientes para uma decisão profissional. No entanto, quando a escolha se baseia apenas nesses fatores, existe um risco de construir uma trajetória desconectada do que realmente motiva você.
O dinheiro pode trazer conforto e segurança, mas não substitui a sensação de propósito, autonomia ou desafio que cada pessoa busca de maneira diferente. Por isso, entender se um trabalho combina com você vai além de analisar números; é sobre identificar se ele respeita os valores, interesses e habilidades que sustentam seu engajamento.
Foi diante desse tipo de desconexão que Edgar Schein, pesquisador do MIT, desenvolveu o conceito de âncora de carreira.
Segundo ele, ao longo da vida profissional, cada pessoa constrói um núcleo estável de valores, interesses e habilidades que passa a guiar suas decisões. Esse núcleo funciona como uma referência interna. Quando uma escolha profissional respeita essa estrutura, o trabalho costuma gerar mais motivação e continuidade. Quando entra em conflito com ela, surgem o desânimo, a dúvida e a vontade de mudar de rota.
Por que entender suas Âncoras faz diferença?
As âncoras de carreira representam um conjunto estável de valores, habilidades e motivações que atuam como um eixo interno. São fatores que, mesmo com o passar do tempo ou com mudanças externas, continuam influenciando suas decisões de maneira consistente.
Essas âncoras não são escolhas conscientes feitas no início da trajetória. Elas se revelam ao longo da prática, à medida que você experimenta diferentes ambientes, funções e desafios. Quando uma escolha profissional respeita sua âncora, a tendência é que exista mais envolvimento e continuidade. Quando entra em conflito com ela, o resultado costuma ser desmotivação ou um desejo recorrente de mudança.
A seguir vamos abordar as 8 âncoras de carreira definidas por Edgar Schein.
As 8 Âncoras de Carreira definidas por Schein
Edgar Schein identificou oito padrões distintos que costumam guiar decisões profissionais. Cada pessoa tende a priorizar uma dessas âncoras, ainda que outras também estejam presentes em menor grau. A seguir, veja como cada uma atua e quais preferências costumam estar associadas a cada perfil.
1. Autonomia e Independência
Para algumas pessoas, a maior fonte de satisfação no trabalho está na possibilidade de tomar decisões sem depender de aprovações constantes ou de estruturas muito rígidas. Quem possui essa âncora como predominante valoriza o controle sobre o próprio ritmo, as tarefas e o modo de executar suas entregas.
Se você está em um ambiente com processos centralizados ou excesso de regras, esse perfil tende a se sentir limitado, mesmo que as condições de trabalho sejam consideradas boas por outras pessoas.
O desejo de autonomia pode levar à busca por carreiras autônomas, empreendedorismo ou funções com maior flexibilidade na execução das atividades.
2. Segurança e Estabilidade
Há profissionais que priorizam um cenário de previsibilidade no médio e longo prazo. Para quem tem essa âncora, a segurança está relacionada à permanência no trabalho, ao vínculo formal e à estabilidade das condições ao redor.
Pessoas com essa âncora demonstram preferência por uma carreira que ofereça maior segurança financeira.
Portanto, esse perfil costuma optar por carreiras em organizações consolidadas, muitas vezes no setor público ou em empresas que oferecem planos de longo prazo. Propostas com alta rotatividade ou risco elevado tendem a ser rejeitadas, mesmo quando associadas a remunerações mais atrativas.
3. Competência Técnico-Funcional
Alguns profissionais constroem sua trajetória com foco em aprofundar conhecimentos técnicos e se tornar referência em determinada área. Nesses casos, o reconhecimento está ligado ao domínio específico de um campo, e não necessariamente à ascensão para cargos de gestão ou liderança.
A satisfação vem do aprimoramento constante, da aplicação prática do conhecimento e da percepção de que se tornou alguém confiável para resolver problemas complexos dentro daquele tema. Organizações que oferecem espaço para desenvolvimento técnico e valorizam especialistas costumam reter melhor esse perfil.
4. Gerência Geral
Se a sua âncora está na gerência geral, dificilmente você se sentirá satisfeito atuando apenas em funções técnicas ou restritas a uma área específica. O que te move é a possibilidade de assumir a responsabilidade por resultados amplos, integrando o trabalho de diferentes setores e liderando pessoas com autonomia estratégica.
Mesmo que hoje esteja em um cargo técnico ou funcional, enxerga essa posição como um passo temporário. O objetivo está em alcançar um ponto da carreira em que possa tomar decisões que impactam toda a organização. O senso de realização aparece quando existe responsabilidade direta sobre o desempenho coletivo.
Nesse perfil, ocupar um cargo técnico de alto nível não atende à ambição de longo prazo. Você busca um papel mais abrangente, com influência sobre a direção da empresa e foco no todo, e não em partes isoladas.
5. Criatividade Empreendedora
A motivação principal de quem se identifica com essa âncora está em criar algo do zero. O interesse não está apenas em implementar melhorias, mas em desenvolver projetos próprios, produtos, serviços ou modelos que antes não existiam. A disposição para correr riscos faz parte do processo, desde que exista a possibilidade de construir algo com identidade própria.
Profissionais com essa âncora costumam buscar espaços onde há liberdade para testar ideias, inovar e atuar em ambientes com menor rigidez. Muitas vezes, seguem caminhos empreendedores, seja em negócios próprios ou dentro de empresas que incentivam soluções novas e autonomia criativa. A rotina previsível, nesse caso, tende a gerar desconexão.
6. Serviço e Dedicação a uma Causa
Para algumas pessoas, a satisfação profissional está diretamente ligada ao sentido do impacto que geram no outro. Esse perfil busca funções em que o trabalho contribua com algo relevante para a sociedade, seja no campo social, ambiental, educacional ou de saúde. O que sustenta o engajamento não é a atividade em si, mas o resultado que ela proporciona para uma causa maior.
Profissionais com essa âncora tendem a valorizar mais o propósito do que o cargo ou a remuneração. Muitas vezes, se envolvem com organizações do terceiro setor, políticas públicas, ensino ou iniciativas voltadas à inclusão e ao bem-estar coletivo. Quando atuam em ambientes com foco exclusivamente comercial, podem se sentir deslocados ou desmotivados com o tempo.
7. Desafio Puro
Se sua motivação principal está no desafio constante, é provável que perca o interesse em rotinas previsíveis, mesmo que elas tragam estabilidade ou reconhecimento. A âncora de carreira do tipo desafio puro está presente em profissionais que se sentem mais vivos diante de problemas complexos, metas difíceis e ambientes de alta exigência.
A superação, nesse caso, não é pontual, ela é o próprio combustível. Resolver o que parecia improvável, entregar sob pressão ou lidar com situações que testam seus limites são os cenários onde você opera com mais foco. Quanto maior a dificuldade, maior o senso de envolvimento.
Carreiras técnicas avançadas, consultorias estratégicas e funções em ambientes altamente competitivos costumam atrair esse perfil. Quando o trabalho se torna repetitivo ou previsível demais, o engajamento tende a cair rapidamente, mesmo que todas as demais condições sejam positivas.
8. Estilo de Vida
Para quem tem a âncora de carreira voltada ao estilo de vida, a prioridade está em equilibrar a dimensão profissional com outras áreas da vida. Trabalho é parte do que se constrói, mas não ocupa o centro. Nesse perfil, decisões de carreira são avaliadas com base em como afetam a rotina, os relacionamentos e a autonomia pessoal.
O que move essas pessoas não é necessariamente o crescimento rápido ou o reconhecimento formal, mas a possibilidade de viver de forma coerente com o que consideram importante fora do ambiente profissional. Isso pode incluir tempo com a família, flexibilidade geográfica, rotina saudável ou espaço para outros projetos pessoais.
Ambientes que demandam disponibilidade integral ou jornadas imprevisíveis tendem a gerar conflito com esse perfil. Por outro lado, funções que oferecem flexibilidade, respeito aos limites e liberdade para conciliar diferentes papéis são vistas como mais sustentáveis e compatíveis com o que esse profissional busca construir.
Quais sinais mostram que você está no caminho certo?
Entender se um trabalho combina com você depende da capacidade de observar os sinais da própria rotina. Quais tarefas fazem você perder a noção do tempo? Em quais contextos você se sente mais útil ou energizado? Respostas como essas ajudam a identificar padrões de motivação. E são justamente esses padrões que revelam sua âncora principal.
O autoconhecimento, nesse caso, não é uma reflexão abstrata. É uma análise prática daquilo que sustenta seu engajamento. Algumas pessoas se realizam quando têm liberdade para decidir como trabalhar. Outras se sentem mais úteis ao contribuir com uma causa. Há também quem precise de desafios técnicos ou estabilidade. Identificar esses sinais é o ponto de partida para tomar decisões que façam sentido não só para a carreira, mas para o que você quer construir com ela.
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