Virtu e Fortuna em Projetos Seis Sigma
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07 de outubro de 2015

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Virtu e Fortuna em Projetos Seis Sigma

[caption id="attachment_3610" align="alignright" width="150"]projetos seis sigma projetos seis sima[/caption]

O que é virtu e fortuna?


Virtù é a energia ou ação humana que está em oposição à fortuna. Embora o uso da palavra por Maquiavel não exclua a ideia de bondade ou comportamento virtuoso, também não o inclui necessariamente.


Virtù é unidade, talento ou habilidade direcionada para a realização de determinados objetivos, e é a qualidade mais vital para um príncipe ou o responsável pelos projetos de Lean Seis Sigma. Mesmo criminosos como Agatocles ou governantes extremamente cruéis como Severus podem possuir virtù.


Maquiavel às vezes parece dizer que virtù poderia derrotar Fortuna se fosse aplicada corretamente. Se um príncipe sempre pudesse adaptar sua virtù às circunstâncias atuais, ele sempre seria bem-sucedido. Então, novamente, Maquiavel implica que existe uma conexão entre os dois. Em sua declaração de que virtù é desperdiçado se não há oportunidade, e a oportunidade é desperdiçada se não há virtù, Maquiavel implica que existe algum tipo de cooperação entre as duas forças - elas não podem operar de forma independente. Pode não ser possível cancelar completamente os efeitos da mudança de fortuna, mas por ação decisiva, é possível se preparar para mudanças e mitigar seus efeitos negativos.



Qual é a origem do termo virtu e fortuna?


A relação entre virtù, fortuna e livre arbítrio é um dos problemas filosóficos mais interessantes que o Príncipe representou. Mas Maquiavel provavelmente não pretendia apresentar uma filosofia abrangente que explicasse a ação humana e a falha humana. Em vez disso, ele estava simplesmente fazendo observações com base em sua própria experiência, e talvez por esse motivo, sua explicação está cheia de contradições.


A figura da deusa Fortuna, sorte ou fortuna, foi derivada da mitologia romana clássica, onde ela foi retratada frequentemente em uma luz positiva. Embora ela fosse inconstante e incerta, ela também era a portadora de boa sorte e abundância, e um de seus símbolos era uma cornucópia transbordante. O filósofo cristão Boecio, no entanto, concentrou-se no lado obscuro de Fortuna em sua Consolação de Filosofia, e apesar de seus elementos clássicos sobreviveram, suas imagens subsequentes na Europa medieval se concentraram em sua capacidade de derrotar esperanças e ambições humanas.


Seu símbolo era a roda de rotação, que as pessoas cavalgavam até o topo, apenas para serem jogadas no fundo no próximo turno. Fortuna encarnou a devastação e a glória transitória do mundo de que o cristão pensativo deve procurar superar, concentrando-se nos bens imutáveis da virtude e da fé, que tiveram glória eterna no Céu. A figura de Fortuna faz uma aparição no Capítulo 25 do Príncipe, mas o conceito de fortuna está presente por toda parte.


Em geral, Maquiavel usa fortuna para se referir a todas as circunstâncias que os seres humanos não podem controlar e, em particular, ao caráter dos tempos, que tem influência direta no sucesso ou fracasso de um príncipe. Se a fortuna obedecia à vontade de Deus ou era simplesmente uma força natural impessoal era assunto de debate durante a Idade Média e o Renascimento. No entanto, em nenhum lugar em The Prince há uma indicação de que se deve tentar transcender a fortuna. Em vez disso, deve-se encontrá-lo de frente e dobrá-lo, se possível, para a própria vontade.



Como se dar bem em Projetos Seis Sigma?


Hoje quero falar um pouco de experiências vividas. Um pouco sobre a minha história na trilha dos projetos seis sigma. Tudo começa no final de 2005. Neste ano, passei pelo processo seletivo do estágio em um grande banco de atacado. No quarto ano de engenharia mecânica, peguei minha malinha e me mudei para São Paulo. Não era muito adepto do figurino terno e gravata, mas no primeiro emprego oficial já tive de utilizá-lo.


Lá chegando, fui encaminhado à antiga área de O&M – Organização e Métodos. O nome nos remete ao início da engenharia de processos, período em que os grandes bancos começaram a desenvolver seus complexos sistemas. Neste desafio, tinha basicamente de garantir que os procedimentos (todos os 3543) estivessem atualizados e ajudar a empresa a melhorar seus processos. Para um aspirante a engenheiro mecânico, melhorar processos era algo bem complicado. Minhas ferramentas eram a boa vontade, a capacidade de fazer gráficos simples no Excel e um método de análise crítica arriscado e rudimentar chamado “bom senso”. Isto sem falar nas aulas de Estatística e Qualidade que tivera na faculdade.


Durante o período de estágio, a aplicação destas técnicas até que trouxe alguns resultados bem afortunados. Muito aquém do que poderíamos alcançar, mas suficiente para agradar nossa liderança, mas não atraíamos muito a atenção da direção do banco. Assim, fui levando por aproximadamente 10 meses e, ao final do estágio, tinha duas opções: ser efetivado ou sair. Como gostava bastante de análise de processos, resolvi sair do emprego e cursar o mestrado em engenharia de fabricação. Deste dia em diante, posso afirmar que iniciei na escola da melhoria.



Como a pós-graduação me ajudou?


Durante o mestrado, aprendi bastante sobre o assunto, pois além de estuda-lo durante o dia, dava aulas a noite e fazia alguns projetos seis sigma. Foi um período de baixo salário, mas muitos testes e aprendizado. Dois anos focados na aplicação do conhecimento, foram muito bons. Pela primeira vez, as coisas começavam a se conectar em minha mente. Melhoria tinha começo, meio e fim.


Depois do mestrado, cursei o Green Belt e o Black Belt e fui convidado pelo meu professor para iniciarmos um negócio. Foram muitos projetos seis sigma aprendendo e aplicando o Modelo de Melhoria. Recordo, com saudade, do primeiro PDSA que fiz. Foi um PDSA para melhorar nosso site, que até então, era péssimo. Contávamos com uma tecnologia do início da internet. Tínhamos um site estático falando sobre nossos produtos de uma maneira que ninguém gostaria de ver. Com este PDSA, descobrimos como elevar nossos acessos de 3 (sim, 3 por dia) para 300. Foram mais de 10 PDSAs elaborados e a meta batida.



Como aprofundar nos projetos seis sigma?


Depois de finalizar o Master Black Belt e o Doutorado, resolvi sair da consultoria e aplicar meus conhecimentos assumindo a gerência de melhoria de uma grande empresa. Foram 2 anos de muitos desafios e aprendizados, mas a base construída ao longo de 10 anos de história, ajudaram muito. Aprendi o quão forte era à frase dita por Deming: “Meta sem método é crueldade”. Em todas as metas que tive, o método ajudou muito.


Encarar desafios grandes sem os tê-lo, é risco de desmotivação imenso. Tendo método, os problemas complexos e difíceis, tornam-se complexos e fáceis e assim, o resultado vem. Pode não vir na velocidade que desejamos, mas mantendo nossa constância de propósito e a resiliência intactos, eles vêm. Alguns projetos deram resultados um ano após o trabalho. Isto pode não ter batido a meta de uma equipe, mas garantiu um novo patamar à empresa.



Como garantir a Virtu em projetos seis sigma?


Para concluir, gostaria de deixar claro a todos que a vida é as duas coisas mais importantes da vida profissional são virtù e a fortuna. A virtu, como diria Maquiavel relaciona-se ao que você pode fazer para desenvolver-se. O estudo, aplicações dos conceitos, práticas, experiência e esforço, relacionam-se aos subsídios do sucesso que você pode construir. Porém, a fortuna, este outro componente chave, relaciona-se a sorte. Para entrar para a história de uma empresa, você precisará dos dois: a competência técnica e a sorte.


A sorte, ao contrário do que fala o livro The Secret, não é controlável. Porém, a competência é. Nos meus dez anos de experiência, sempre busquei aumentar minha virtu o máximo que podia. Sei que ainda tenho muito para melhorá-la, mas o aprender constante me ajudou muito, pois pude aproveitar mais os poucos momentos de fortuna que encontrei. Num ano de crise como o que estamos passando, aumentar sua virtu é a única saída para que no próximo, mesmo que a fortuna não seja grande, a virtu compense problemas mais graves de aparecer.


Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.