Atalhos: o que são e por que são perigosos nas empresas?
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04 de agosto de 2018

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Atalhos: o que são e por que são perigosos nas empresas?

Não há atalhos para o sucesso

Ao contrário de todos os episódios com Indiana Jones, não há Santo Graal de capricho aspiracional em que você traça alguns movimentos estratégicos e acaba com todas as peças no tabuleiro. Atalhos não dão certo na vida real.

Tudo o que nos foi dito sobre o sucesso geralmente gira em torno de um único ponto no tempo. Quando estabelecemos um recorde, colidimos com a fita na linha de chegada, conquistamos o troféu, conquistamos o maior cliente da história do nosso negócio. É tudo sobre o nosso "índice emocional pontual".

Em torno de datas importantes como a formatura, o final do trimestre e o tempo de bônus, nos sentimos bem-sucedidos se houver uma lembrança física para indicar que tivemos sucesso. Sem o troféu, pode ser difícil avaliar "sucesso" ...

É por isso que volto à ideia de que o sucesso é menos uma data no calendário e mais uma filosofia. Indicadores públicos de sucesso ligados a uma pilha de dívida deixam você incapaz de fazer as coisas difíceis que são necessárias para realizar seus sonhos. Você pode se parecer com "o homem" ou transformar seus sonhos em realidade. Você não pode realmente ter os dois ...

Transformar ideias em sonhos e sonhos em sucesso é bastante difícil. É uma batalha sangrenta. Requer um tipo absurdamente especial de resistência. E quando você está lutando por seus sonhos e o mundo está batendo em você, pode ser tentador tentar tomar um atalho.

[caption id="attachment_12540" align="aligncenter" width="700"]Apostila Green Belt Apostila Green Belt[/caption]

Atalhos: será mesmo o caminho mais fácil?

E porque não? Dá tão certo nos filmes...

A vida real é um pouco diferente.

Atalhos te machucam - não te ajudam.

Aqui estão algumas coisas importantes a considerar:

Tomar atalhos é admitir falhar na frente

É mentalmente prejudicial. Se você realmente pensou que poderia realizar seus sonhos, não será tentado pelo pensamento de tomar atalhos. Admita. Você teve as mesmas dúvidas que eu tive. Posso fazer isso? Posso fazer isso acontecer? Eu tenho coragem de tentar mais uma vez?

Quando sua resposta a essas perguntas é um atalho em vez de uma intensidade focalizada, você está admitindo a si mesmo (e logo aos outros) que você é um fracasso. Você pode jogar mostrar a todos e reivindicar estar no topo do seu jogo. Mas você sabe, no fundo, que desistiu antes mesmo de começar.

  • Se você quer ter sua cabeça de volta, olhe nos olhos e lute pelo seu destino.
  • Levante-se duas horas antes.
  • Ligue para mais três pessoas e peça ajuda.
  • Pare de trabalhar em coisas que distraiam seu foco.
  • Seja intenso!

Tomar atalhos é a reação errada ao medo

Quando confrontados com o audacioso desafio de sermos bem-sucedidos, nos encontramos na encruzilhada da luta ou fuga. Assim que você decide que quer ser alguma coisa, enfrenta a resistência do mundo. Essa resistência se transforma em opressão - pessoas ativamente lutando contra o seu sucesso.

Tudo bem, estar com medo. Mas tomar atalhos é uma reação de fuga; você não está lutando pelo seu próprio sucesso. Se você está fugindo do próprio sucesso, é impossível acreditar que está dando passos para realmente levá-lo para mais perto dos seus sonhos.

Use o medo para ajudar a impulsionar o esforço e se concentrar em sua missão. Use o medo para construir músculos mentais em torno do seu propósito na vida. Aprecie o medo! É o seu nitro na pista da vida ...

Tomar atalhos conflita com o esforço necessário para ser bem-sucedido

A ideia inerente de que você pode realizar seus sonhos mais loucos sem um investimento apaixonado de mente, corpo e alma é simplesmente loucura. Você não pode tirar mais da sua vida fazendo menos.

Quando você diminui a velocidade e se engana com o auto-investimento necessário para construir um destino brilhante, você nunca se encontrará onde quer estar. Para ser bem-sucedido, você tem que trabalhar tanto que seus olhos criarão bolhas. Contra todas as probabilidades, você continua tentando - quando está doente, quando está sem dinheiro, quando não tem fãs. É o capital bruto do suor.

Tomar atalhos conflita com todo o esforço que o leva ao sucesso. Você não faz nada que signifique pouco e ainda assim, consiga tudo.

[caption id="attachment_15134" align="aligncenter" width="700"]Apostila Ferramentas da Qualidade Apostila Ferramentas da Qualidade[/caption]

Tomar atalhos não significa que você acabará onde queria estar

Como raramente há um "ponto final" certo e imutável para o sucesso, não pode pegar um atalho para um destino que não existe. Já pensou que você realmente queria alguma coisa, só para mudar de ideia quando você vê o que tem? Você pensou que seria feliz - e você não era. Por quê?

Sucesso é processo - uma mentalidade. E enquanto o sucesso inclui marcos, a ênfase está na jornada e não no destino original. A maioria de nós sonha muito pequeno. Nós pegamos nosso destino e o reduzimos a um pequeno contêiner para o qual os críticos não conseguem chegar.

A vida tem uma maneira incrível de ajudá-lo a realizar seus sonhos de maneiras distantes daquilo que você poderia imaginar no início de seu sonho. É maior. É melhor. Não há como chegar lá com um atalho.

E o que é um atalho?

É um caminho mais curto, que o levará a um ponto que pensa ser mais favorável a você naquele momento. Mas a maioria dos atalhos de hoje, serão considerados distrações amanhã. Digo isso, pois o atalho é uma fuga que é utilizada num momento de profunda ansiedade. Quando a sua vida não está fácil, tomar atalhos é uma maneira de enganar o seu cérebro que a tarefa que estava consumindo e que ainda consumiria grande parte do seu tempo, está finalizada.

No Brasil, é comum que as empresas tomem uma série de atalhos. O primeiro que já vi quebrar muitas empresas, é o imposto. Por estarem começando e com grandes dificuldades em fechar o caixa, algumas empresas fazem uso da sonegação fiscal. Por que tirar nota, se ninguém nos pede o documento fiscal? Por que não economizarmos 18% que, num faturamento inicial de 20 mil reais, pode significar os três mil e seiscentos reais que seriam o meu salário?

Porque está errado. Se começar assim, conseguirá uma vantagem momentânea que poderá acomodá-lo a um negócio sem margem nenhuma. Se, para fechar as contas precisar da sonegação, o risco que estará exposto será muito grande. Além de ser pego pelo FISCO e estar sujeito a pesadas multas, você ainda poderá captar clientes com prejuízos porque esse número foi colocado ao lado. Quando tentar voltar, terá a surpresa de que seu negócio não se sustenta.

Não podemos tomar atalhos no recrutamento de pessoas

Recrutar pessoas é a coisa mais importante da organização. Gente, é a base do triângulo gente-processos-produtos. Não é possível uma organização fantástica se seus colaboradores não o forem, vá por mim. E, para mim, isso não é uma tarefa fácil.

Contratar por indicações, sem submetê-los a um processo seletivo, é um risco tremendo a empresa. Eu sei que é tentador nos enganarmos. “Nossa, que sorte a minha! Fiz uma contratação ótima por meio de uma indicação de um amigo”. Calma. Será que fez mesmo ou está a enganar-se? É muito mais fácil a segunda opção. Já fiz muito.

Outro erro comum, e contratar “por fora” para pagar menos encargos e impostos. É melhor para você e para ele, não é verdade? Não. Apesar da pesada CLT aos empreendedores, essas são as regras do país. Não convém subverter as regras, pois irá incorrer nos mesmos erros da emissão de nota fiscal. Fazer isso, terá um custo enorme à empresa e, poderá levar a falência.

Contratar os PJs, a não ser que sejam PJs de verdade, costuma ser outro erro. Maquiavel, no Príncipe, comenta sobre as características desse tipo de profissional. Em períodos de paz, podem não estar comprometidos com o objetivo e, em tempos de guerra, podem mudar de lado. Terceirização é ótimo, desde de que não seja de um negócio core.

[caption id="attachment_15346" align="aligncenter" width="700"]E-Book: Gestão de Equipes E-Book: Gestão de Equipes[/caption]

Os péssimos atalhos comerciais

Aqui, o risco é o pior dos atalhos, a propina. Sim, caro leitor. Se você tem experiência no mercado brasileiro, já deve ter ficado sabendo de conluios e desvios que ocorrem em empresas privadas, não apenas nas públicas. O que espanta a todo na televisão, simplesmente passa desapercebido no dia a dia. Evite, por favor, pegar o atalho do suborno e da propina. Não adianta autoengano aqui. O comprador de uma empresa não é seu vendedor, que merece receber uma comissão pela venda. Isso é propina.

Na área comercial, outro atalho interessante são as comissões. Por que precisamos pagar comissão para os vendedores? Pois ao pagar a comissão, compramos o resultado do seu trabalho e não o trabalho em si. Aqui, não pegar atalho significaria desenvolver um processo para comercializar o seu produto e remunerar, via bônus, aqueles vendedores que mais são aderentes ao processo.

Mas, mais uma vez, é mais fácil pegar um atalho contratando um vendedor e deixando-o livre para criar seu processo. Assim, cada vendedor irá atuar por meio de um processo diferente e você, irá remunerar o melhor. Qual é a sustentabilidade disso? Pequena. Por que? Porque a hora que o vendedor dominar o processo de vendas do seu produto, provavelmente ele terá uma remuneração melhor que a sua ou, abrirá a empresa dele. A vantagem inicial de sair contratando por meio de comissões que o atalho proporciona, irá estrangular as margens da companhia no médio prazo.

Por isso, nesses casos, contratar uma consultoria é uma solução muito melhor. Se, trouxer alguém para estruturar o seu processo comercial, terá resultados mais rápidos e, o conhecimento permanecerá na empresa.

O Atalho dos Gerentes Experientes

Outro atalho muito comum, é contratar gerentes experientes de famosas empresas para arrumar seu processo caótico. Assim como os demais atalhos, isso não funciona. Não é porque o gerente é ruim, apenas porque o que você precisa é de alguém com uma rápida capacidade de aprendizado. Em seu livro Administração de Alta Performance, Andy Grove Ex-CEO da Intel, dá uma aula sobre esse atalho. É incrível.

Contratar alguém de uma famosa empresa do mercado, não é a mesma coisa de que transformar sua empresa. Lembre-se: pessoas, produtos e processos. Trazer algumas pessoas, não é trazer processos e produtos também. Portanto, cuidado.

Atalhos na capacitação e treinamento

Virgilio, vi que é possível tornar-me Master Black Belt em 60 horas, o que você acha? Às vezes, me deparo com essa pergunta e tem sido muito difícil explicar que acho isso pouco provável. Ao contar que para chegar aqui foram 10 anos de muito estudo e projetos na área, poucos parecem acreditar. Mas, é verdade. Não é possível dominar um assunto com a extensão da melhoria de processos sem esforço, tempo e método!

E, hoje mais que nunca, tenho a consciência de que tenho muito a aprender ainda. Quanto mais aprendemos, mais certeza temos que de que precisamos aprender mais. Não é possível um cidadão de bem adentrar numa sala de aula e vomitar uma série de frases prontas para convencer alunos a comprarem um Black Belt, ministrado por outro aluno, em 60 horas.

Agora, quando alguém de reputação e caráter duvidoso adentra uma sala com pessoas ávidas por serem enganada por meio de um “super atalho”, as pontas se fecham. E, o conhecimento se esvai. Por isso, caro leitores, aproveitem os cursos com força curricular e façam os exercícios e projetos. É dessa forma, que vocês aprenderão e conseguirão aproveitar ao máximo os conhecimentos que lhes foram passados. O Kaizen é isso... Não há mágica.

Com isso, me despeço. Menos atalhos, mais sonhos e mais PDCA e PDSA. É isso que faz uma vida feliz.

Virgilio Marques Dos Santos

Virgilio Marques Dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.