Inflação: como analisar sob a ótica do Seis Sigma?
Análise de dados

10/11/2016

Última atualização: 25/01/2023

Inflação: como analisar sob a ótica do Seis Sigma?

O que é inflação?


Inflação: como analisar este vilão que tanto assola a economia brasileira? Quais ferramentas, disponíveis gratuitamente, podem ajudá-lo a entender como está a inflação e como ela poderá afetar o seu negócio ou sua vida?


Se você é como eu e não se contenta com análises de especialistas da televisão, convido-o a ler este artigo que tem por objetivo reunir algumas ferramentas para entender a inflação.


Para começar a análise de dados, vamos lançar mão de um índice interessante por sua abrangência IGP-M, ou Índice Geral de Preços ao Mercado. O índice tem como base o mês agosto de 1994 em que lhe foi atribuído 100 pontos base. A fonte é  FGV-Índices Gerais de Preços e o preços são coletados entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência.



E qual técnica utilizar para analisar o índice de inflação IGP-M?


A mais básica seria a elaboração de uma série temporal (gráfico de tendência ou linhas) do índice. Este gráfico nos mostra claramente como está a inflação em relação ao seu período de referência (agosto/1994). Por exemplo, se o IGP-M de outubro de 2016 é 657,92, significa que um item que custava R$ 100,00 em agosto de 1994, está custando hoje, R$ 657,92. 6,57 vezes mais.



Vamos ver este gráfico?


Inflação


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Figura 1: gráfico de tendência (linhas) do IGP-M.


Pelo gráfico da figura 1, é possível ver como comportou-se o IGP-M ao longo dos anos, por meio das mudanças de inclinação da reta traçada. Para deixar isto mais claro, fizemos algumas anotações no gráfico, que pode ser visualizado na figura 2.


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Figura 2: períodos de variação do IGP-M.


Pela figura 2, é possível ver claramente as acelerações na inflação durante 2002 e metade de 2003, característica do período de incertezas da eleição do Lula. Depois, vemos a era de crescimento e riqueza, do pico das commodities em 2007/08, que pressionou a inflação. E, por fim, observa-se o ciclo de inflação negativa depois da crise de setembro de 2008, crise do subprime. Por meio da análise da variação, é possível entender que cada período vai nos contando sua história. Quando eu olho para um gráfico deste, é como se estivesse escavando uma rocha e encontrando vários fosseis dos moradores do passado. É algo incrível, pelo menos para mim, como a análise da variação, nos presta este papel. Se você é um leitor assíduo de nosso blog, deve pensar que análise de variação remete a outra ferramenta importantíssima, concorda?



Por que não analisar a variação por meio do gráfico de controle, ao invés de fazer desenhos rudimentares no gráfico?


Você tem toda razão. O gráfico de controle é uma ótima ferramenta para enxergarmos a variação do IGP-M ao longo do tempo. Mas antes, para utilizá-lo, precisamos analisar a variação mensal do índice. O gráfico de controle deve ser utilizado para compararmos a variação mensal da inflação, para deste modo, entendermos quando o sistema estava ou não sob controle. Para calcular a variação mensal, ((IGP-Mmêsn/IGP-Mmêsn-1)-1).



Gráfico de Controle


E qual gráfico de controle utilizar?


Começamos pelo gráfico X-barra S, para avaliar a variação da inflação ao longo dos anos e a inflação ao longo dos meses num mesmo ano.


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Figura 3: x-barra s do IGP-M.


Pela figura 3 é possível verificarmos coisas interessantes, quando avaliamos a variação do IGP-M ao longo do s anos. Vemos, depois de 1995 uma tendência de queda até 1998, porém, a liberação do câmbio em 1999 faz o dólar dobrar de valor e a inflação sai de controle. 2000 e 2001, inflação no controle e tudo tranquilo, mas em 2002 o processo sai de controle mais uma vez, devido ao chamado “risco Lula”. Depois, há mais duas causas especiais em 2005 e 2009, ambas de inflação mais baixa.


Quando olhamos para a variação dentro dos anos, as causas especiais aparecem em 1999, 2002 e 2003. Nestes anos, se analisamos os fatos que ocorreram, veremos que a variação entre os meses foi bem grande. Se você preferir analisar o comportamento da variação da inflação mensal, poderia lançar mão de um gráfico de individuais. Faremos isto por meio da figura 4.


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Figura 4: gráfico de individuais da variação do IGP-M mensal.


Todos os nossos comentários feitos no gráfico da figura 2, ficam ainda mais claros neste. Fica claro que a cada gráfico, vamos confirmando ainda mais as hipóteses que definimos no início. Poderíamos explorar mais o gráfico da figura 4? Sim, podemos fazê-lo por meio da função “stages” no Minitab. Esta função, que você aprende no Green Belt e no Black Belt, é muito útil. Vamos ver como seria ao separarmos os vários estágios de variação do processo?



Variação por Estágios


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Figura 5: gráfico de individuais com estágio.


Pelo gráfico da figura 5, fica comprovado o que falamos. Com a análise da inflação, conseguimos medir claramente quando a economia sai do controle. E, ao sair do controle, você e todos os habitantes sentem o impacto. Um fato que chama a atenção no último estágio que analisamos na figura 5, é a variação do indicador em 2014. Neste ano, é possível verificar que o governo estava utilizando de artifícios para controlar a inflação por meios artificiais. Digo isto, porque é possível ver a inflação fora do limite superior (muito alta) e logo em seguida, fora do limite inferior (muito baixa). Isto, se bem lembramos, aconteceu quando o governo começou a represar os preços administrados. Lembram? A figura 6 mostra um zoom no período.


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Figura 6: gráfico de individuais detalhado.


Pela figura 6, percebe-se claramente e escalada da inflação a partir do início de 2012. Porém, pelo número de pontos acima e abaixo da média neste período, fica claro a manipulação da inflação por meio dos preços administrados. Não contentes, a partir do mês 5 de 2014 começou uma operação mais forte para segurar a inflação, haja vista o impacto que este tinha na probabilidade de reeleição da Dilma. Com os descontos da energia elétrica, travamento dos preços dos combustíveis e outras coisas mais, conseguiu-se manter a inflação artificialmente baixa. Porém, após a eleição, a coisa não mais se manteve e iniciou-se uma tentativa de ajuste, liberando a inflação aos poucos. E, como vocês sabem, deu no que deu.



O que podemos concluir sobre a inflação?


A partir do novo governo em junho de 2016, parece que as coisas estão muito mais estáveis e a economia começa a dar sinais, se julgarmos pela inflação, que a coisa está voltando ao controle.


Por meio dos conceitos e gráficos simples, que são de domínio do Green Belt e Black Belts, pode-se notar como o Lean Seis Sigma nos ajuda com problemas do dia a dia. São ferramentas que você aprende e que permitem serem aplicadas para resolverem de problemas muito diversos. Das vendas da sua empresa até a inflação mensal do país, tudo é possível de analisar por meio das ferramentas que você aprende a aplicar em nossas certificações. E, quem aprende a aplicar estas ferramentas, certamente consegue se destacar. Em análises que não demoram mais que uma, duas horas, você mostra toda sua versatilidade e competência que o fazem destacar-se na multidão.


 
Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.