Como tudo começou: uma breve história da FM2S e o sonho da melhoria
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04 de maio de 2018

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Como tudo começou: uma breve história da FM2S e o sonho da melhoria

Em 2018 fiz uma palestra na abertura do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica contando um pouco de como tudo começou. Depois disso, várias pessoas vieram perguntar qual era a história da FM2S e, para explicar, deram-me a sugestão de eu escrever um post para o blog. Então, o objetivo desse artigo é contar nossa história.

Como surgiu a FM2S?

Tudo começa lá em 2008. Nessa época, trabalhava na BMRC, dava aulas na Engenharia de Produção durante a noite e fazia meu mestrado na Unicamp. Tudo ia bem, mas o sonho de criar uma empresa que colocasse a teoria acadêmica em prática estava adormecido. Quando chegou em outubro desse ano, veio uma forte crise. Foi a primeira crise que experimentei, a famosa crise do Subprime. Ao final desse ano, todos os projetos da empresa para crescer e ganhar mais mercado foram engavetados. A “Marolinha” que nosso ex-presidente proclamou, acabou por paralisar o mercado e incorrer fortes perdas nas indústrias. Assim, dada a redução de custos que precisaríamos fazer, comecei a estudar o tema.

Como o PRIME apareceu na formação da FM2S?

O programa Prime - Primeira Empresa Inovadora entrou em operação no início de 2009. Seu objetivo era criar condições financeiras favoráveis para que um conjunto significativo de empresas nascentes de alto valor agregado pudesse consolidar com sucesso a fase inicial de desenvolvimento dos seus empreendimentos. Para isso, a FINEP destinava uma verba de 60 mil reais para as empresas “inovadoras” escolhidas gastarem com consultoria. Como na primeira rodada foram escolhidas 1.721 empresas, fizemos as contas e pensamos ser uma ótima oportunidade para começarmos a nossa consultoria. E assim, no final de 2008, nasceu a FM2S. Em sua primeira formação informal, convidei o Murilo, que é sócio até hoje, e alguns amigos, como ex-colegas de Engenharia Mecânica da Unicamp. Havia dois deles que trabalhavam em consultoria e, o outro, em banco de investimentos. Pensávamos que tínhamos um quinteto fantástico para abocanhar essa maravilhosa oportunidade que a FINEP nos colocava. Porém, como sempre acontece com as notícias que lemos em jornais, a coisa não saiu como o esperado. A principal razão era que as consultorias contratadas foram aquelas que ajudaram as empresas a se inscreverem para o Programa. Nós, como entramos de última hora, não conseguimos vender nenhum projeto. Aliás, depois de 2 anos, fomos subcontratados por uma dessas consultorias para atender uma empresa contemplada pelo PRIME. Dos 60 mil abocanhados pela empresa para ser gasto com consultoria, recebemos 8 mil reais por 40 horas de trabalho. Não posso afirmar que foi um mal contrato, apenas que a fatia grande do dinheiro ficou com aqueles que escreveram os projetos. White belt

Qual foi a primeira “pivotada” da FM2S?

A primeira coisa que percebi foi que atender as empresas do PRIME não seria um segmento de cliente possível. Não daria para esperar dois anos para faturar 8 mil reais. Portanto, utilizei meu networking com os alunos de Engenharia de Produção para divulgar minha consultoria. E deu certo. Na minha segunda turma de alunos, Julio me perguntou se eu não poderia ajudar uma Gráfica na implantação de um Programa ISO. Na época, eu não tinha muita experiência nem conhecimento da área, mas como ele não poderia tocar esse projeto, acabei assumindo-o. Assim, nasceu o primeiro cliente da FM2S, a Gráfica Andorinha. Quando o projeto começou, a empresa era composta por mim e pelo Murilo. Pois meus colegas, depois do fracasso do Projeto PRIME, acabaram voltando suas atenções para a carreira corporativa e desistindo de empreender. E eu, como estava focado no projeto, não tinha muito tempo de sobra para dedicar-me à estruturação da empresa. Esse é um dos maiores desafios dos empreendedores individuais: gerenciar a empresa e entregar os projetos. Logo depois, um dos meus colegas que estavam comigo no começo, foi contratado por uma grande empresa e teve de deixar a consultoria na qual trabalhava. Mais uma vez, fui chamado e caiu-me no colo um projeto para Implantação de Lean. Eram 2 dias por semana. Estava rico, pensava, pois tinha conseguido vender 4 dias da minha semana por R$ 4.500,00. Porém, se quisesse transformar um consultor PJ numa empresa, seria preciso reestruturar, ou melhor, criar alguns processos. E foi aí que pensei: preciso criar uma empresa de verdade. Tornar-me um consultor PJ não irá me fazer alcançar meus objetivos.

A segunda “Pivotada”

Nessa mesma época, havia acabado de terminar meu mestrado. Era mestre em Engenharia Mecânica, com ênfase em Processos e Fabricação. Meu tema de pesquisa havia sido Redes de Cooperação Empresarial e da minha dissertação, a estruturação do Núcleo de Empresas Juniores da Unicamp. Mesmo que eu tivesse tentado, esse não era um conhecimento que pudesse ser colocado em prática pela FM2S. Mas, apesar disso, a minha pesquisa havia mostrado que as redes de cooperação eram uma alternativa para as PMEs competirem em igualdade de condições com as grandes. Assim, busquei algum apoio para ser recebido por instituições de classe para tentar vender minha ideia. Para isso, entrei no site do Deputado Carlos Sampaio e enviei um e-mail solicitando ajuda. Para minha surpresa, seu assessor me respondeu e marcou uma reunião para conhecer o projeto. Nunca imaginei que daria certo, portanto: arrisquem! Na reunião, Lacerda (acho que era esse o nome) me indicou o CIESP Campinas e o Grupo Genese, como possíveis interlocutores que me ajudariam no projeto. Pastinha embaixo do braço e fui até o CIESP. Lá, fui recebido por Natal Martins, à época diretor da instituição. Apesar do apoio que recebi, o baixo quórum das reuniões e a minha pouca habilidade política acabaram por matar essa boa ideia. Hipótese testada, aprendi que para colocar o conhecimento do mestrado em prática, precisaria de mais contato e mais força política, coisas que estavam fora da minha alçada naquele momento. [caption id="attachment_15265" align="aligncenter" width="477"]Capacitação Microsoft Project Capacitação Microsoft Project[/caption] No desespero, procurei um ex-professor que acabou tornando-se um grande amigo: Prof. Douglas Zampieri. Expliquei a minha situação e perguntei: quais sugestões tem o senhor, professor, para me dar? Continuo no doutorado e na empresa, ou aceito a proposta para ser trainee? Nesse momento, o Douglas disse-me para continuar, afinal, era o que eu gostava. Também sugeriu que procurasse outro professor, referência em processos e melhoria, o Ademir. Segundo ele, deveria conversar com o Ademir, pois ele já havia sido sócio de uma consultoria na área e poderia me dar várias sugestões sobre o que fazer. Passado algumas semanas, lá estava eu batendo na porta do Ademir, por intermédio de um colega de doutorado, Maurício. Na primeira reunião, apesar da sinceridade do Prof. Ademir, ficou claro que eu poderia ser co-orientado por ele durante o doutorado. Foi minha sorte, aprendi demais. No primeiro ano com ele, praticamente só estudei. Larguei meus projetos para focar no aprendizado. Não foi fácil, pois a renda caiu pela metade quando olhei o curto prazo. Mas lá no fundo, pensei: o risco compensa.

A terceira pivotada

Passado um ano, começamos a pegar alguns projetos para irmos aprendendo a colocar a mão na massa na aplicação dos conceitos Lean Seis Sigma. Não foi fácil. Lembro-me que a primeira leva de treinamento e projetos de que participei foi com o CIESP. A gente treinava pequenas empresas e, depois, acompanhávamos a aplicação dos projetos. Apesar da receita próxima de zero, o projeto nos preparou para a aplicação do conhecimento em maior escala. Mas era hora de começar a dar lucro. No primeiro ano, o faturamento havia sido apenas de 20 mil reais, para duas pessoas. Não pagava as despesas e as aulas noturnas, foram fundamentais para a garantia da sobrevivência. Nesse início, meu foco era a consultoria e não o treinamento. Porém, jovens de 26 anos venderem consultoria era algo difícil. No início, copiávamos os preços praticados pelo nosso professor, o que inviabilizava toda e qualquer possibilidade de fecharmos negócios. E, mesmo abaixando os preços, não vendíamos nada. A coisa só foi começar a melhorar quando ressuscitamos o produto Green Belt 40 horas, para turmas abertas. Essa foi a sacada para conseguirmos um produto que nosso segmento cliente tinha condições de pagar e paciência para assistir. Nessa época, utilizei todo meu networking de professor de Engenharia de Produção para encher as duas primeiras turmas, mas na terceira começaram a aparecer os problemas.

Como conseguiríamos fechar mais turmas?

A resposta para essa pergunta passava longe de nós, por volta de 2012. Mas após algumas leituras e análises, pensei: no futuro próximo, as pessoas vão comprar isso pela internet e não mais por indicações. Preciso estruturar uma estratégia para aparecer em primeiro lugar no Google. E lá se foi mais um ano da minha vida estudando e testando para conseguir isso. Lá pelo meu centésimo post, a estratégia começou a dar certo e o site começou a decolar. De uma hora para outra, fechávamos turmas em várias cidades por meio da venda online, mas ainda não era o bastante: várias pessoas queriam comprar, mas não havia turmas em sua cidade. Nesse momento, criamos o primeiro curso EAD. Nosso primeiro EAD foi um curso convencional, transmitido ao vivo pelo FUZE. Em tempo recorde, o Murilo aprendeu essa técnica e colocou a possibilidade de atendermos todo o Brasil por meio da nossa transmissão ao vivo. Sucesso! Em 2013, com esses esforços, alcançamos a marca de 600 mil de receita. Mas ainda não era o bastante. [caption id="attachment_15319" align="aligncenter" width="469"]Business Model Canvas Business Model Canvas[/caption]

A pivotada da tese

Durante a minha tese, aprendi muito sobre spin-offs e startups. E, um pouco mordido do PRIME, tentei reviver a tese. Nessa época, a FM2S começou a buscar empreendedores de startups para prestar consultoria de organização de empresa. Não precisou mais que um mês para descobrirmos que startups e seus empreendedores geralmente não possuem recursos para estruturar seus processos e muito menos para pagar consultoria. Diante disso, o teste com a proposição de valor que gostaríamos de vender no PRIME para o segmento de cliente listado, mostrou-se totalmente equivocada. Com isso, aprendemos que não é possível atender esse mercado, a menos que fossemos nós a startup ou que trabalhássemos por meio de cotas das empresas. Como nessa época esse não era o foco, desistimos.

A pivotada mais louca da vida

Depois de três anos no projeto, vi que o conhecimento que faltava era o corporativo. Pela formação acadêmica muito densa (doutorado) e pela forte convivência nesse meio, às vezes me perdia no “teoriquês”.  Mesmo nos projetos de consultoria, sentia que a minha atitude não era de quem gostava de aplicar e de colocar o resultado em prática. Éramos uma consultoria sem muita gestão dos processos internos, sendo mais uma empresa de treinamentos e consultoria que vendia pela reputação online. Faltava a vivência corporativa. Segundo o que aprendi, a empatia só é máxima quando vamos viver o que o cliente vive. Diante disso, resolvi dar uma pausa de dois anos no negócio e aceitar a vaga de Gerente do Escritório de Processos e Melhoria da Ambev. Seria a primeira vez que iria para uma grande corporação como gerente. E foi muito bom. Foram 2 anos muito intensos que me ensinaram demais sobre a realidade da melhoria de processos nas grandes corporações. Os desafios de capacitação e convencimento foram os maiores que enfrentei. Além disso, a gestão da rotina em projetos desse tamanho foram fundamentais. O desenvolvimento ocorreu muito mais rápido do que esperava. Depois desses dois anos, fechei o GAP prático, que tanto fizera falta na minha carreira. Com os aprendizados, minha cabeça ficou fervendo para voltar para a FM2S e refundá-la. Entretanto, tomar coragem para fazer isso foi difícil. O renascimento da FM2S aconteceu, pois conseguimos pegar um projeto muito grande: capacitação e projetos com a maior empresa de embalagens do mundo. Depois do início do projeto, precisei pedir a conta e voltar ao meu sonho. Foi complicado, mas o objetivo de longo prazo nunca foi perdido de vista. E, ao voltar, a cara da FM2S era outra, refletida pelo nosso slogan: conhecimento para colocar em prática. A vida corporativa me fez resumir a teoria para dar ênfase àquele pedaço que seria colocado em prática. Além disso, apaixonou-me ainda mais pela consultoria. Fora o aprendizado, que foi intenso e muito grande. Ter acesso aos melhores faz você aprender muito. A história do caminhar sobre os ombros de gigantes mostrou-se a mais pura verdade.

A FM2S nascida em 2016

Com tudo isso, a FM2S que nasceu em 2016 começou diferente, muito mais agressiva. Também, tivemos a certeza de que gente boa junta leva a resultados incríveis. Atualmente não somos mais uma empresa de dois empreendedores que tem um ou dois clientes. Em dois anos crescemos quatro vezes, contamos com 20 pessoas e estamos sediados no Parque Tecnológica da Unicamp. Além disso, temos mais de 17 mil alunos, entre EAD e presenciais, e já registramos projetos que geraram perto de 100 milhões de reais em economias para nossos clientes. Lançamos a jornada da melhoria e conhecemos pessoas por todo Brasil e Colômbia.  Mas, quando olho de perto, ainda somos a mesma empresa, feita por gente e sonhos. Sonhos esses alinhados com os da empresa. Vale ressaltar, ainda, que hoje a empresa conseguiu agregar uma capacidade que vai ser fundamental na área de melhoria: ter uma área de TI. Sem a equipe de TI, é impossível entender todas as integrações de sistemas ou a indústria 4.0. As consultorias Lean Six Sigma, sem TI, não conseguem agregar o valor que o cliente espera. Além disso, criamos um Sistema para Controle e Gestão de Processos, o Sail System, que está disponível para todos vocês acessarem. E é com a frase "sozinhos vamos rápido, mas juntos vamos longe", que encerro esse artigo que trás um pouquinho da história da FM2S para você. Para você que nos segue, meu muito obrigado. Para todos vocês que são nossos clientes e nos apoiaram em todos os momentos nessa caminhada, nossos agradecimentos. Se não fosse por vocês, não teríamos conseguido nada. Por nossa gratidão com a sociedade, disponibilizamos conteúdo completo para acesso e estudo. A única coisa que pedimos em retribuição é que sejamos citados como fontes, quando nossos trabalhos forem apreciados. Salvo isso, nossos votos de sucesso e de que a educação é o único meio de transformarmos nosso país.

Virgilio Marques Dos Santos

Virgilio Marques Dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.