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23 de dezembro de 2015

Última atualização: 05 de fevereiro de 2024

Sistema Toyota de Produção (TPS): como funciona?

Você busca entender como funciona para empresas terem a produção mais eficaz? A resposta para isso é o Sistema Toyota de Produção (STP). Neste blog, exploraremos os fundamentos desse sistema, destacando suas origens, princípios fundamentais e, mais importante, como ele se tornou um padrão de excelência na indústria. Prepare-se para uma imersão no mundo onde eficiência e qualidade se entrelaçam.

O que é Sistema Toyota de Produção (TPS)?

O Sistema Toyota de Produção, frequentemente abreviado como TPS, é uma filosofia operacional que revolucionou inicialmente a indústria automotiva e, por extensão, a manufatura em todo o mundo. 

Este sistema, além de um conjunto de técnicas de gestão e administração da produção, atua como uma abordagem holística que integra a gestão de recursos, a eficiência operacional e a melhoria contínua, fundamentando-se na eliminação do desperdício, na flexibilidade de produção e na busca incessante pela qualidade, o TPS se tornou um modelo emblemático para organizações que buscam otimizar suas operações.

A história do Sistema Toyota de Produção

A origem do Sistema Toyota de Produção pode ser rastreada até o período do pós-guerra no Japão. Naquela época, a Toyota, uma pequena montadora em um país com recursos limitados, enfrentava intensa concorrência de gigantes automotivas dos Estados Unidos. 

Foi nesse contexto desafiador que Taiichi Ohno, um engenheiro da Toyota, começou a desenvolver o que viria a ser o TPS. Inspirado em parte pelas práticas de produção da Ford e pelos métodos de supermercados americanos, Ohno e sua equipe criaram um sistema que enfatizava a eficiência, a redução de estoques e a rápida resposta às mudanças na demanda dos consumidores. 

Este sistema se distanciou do modelo de produção em massa tradicional e introduziu conceitos como 'Just-in-Time' e 'Jidoka' (automação com um toque humano).

Nos anos seguintes, o Sistema Toyota de Produção começou a chamar a atenção globalmente, especialmente após a crise do petróleo dos anos 70, quando a eficiência operacional se tornou uma prioridade para muitas empresas. A capacidade da Toyota de produzir veículos de alta qualidade com menor custo e tempo de espera foi uma revelação para a indústria automotiva e além. Empresas de diversos setores começaram a adotar e adaptar os princípios do TPS para suas próprias operações, o que ajudou a moldar as práticas de manufatura contemporâneas.

Sistema Toyota de Produção hoje em dia

Na indústria de hoje, o Sistema Toyota de Produção mantém sua relevância e influência. A era da digitalização e da automação ofereceu novos horizontes para os princípios do TPS. 

Com a adoção de tecnologias avançadas, como a Internet das Coisas (IoT) e a inteligência artificial, as empresas estão encontrando novas maneiras de aplicar esses princípios para melhorar a eficiência e a adaptabilidade. 

A ênfase do TPS na melhoria contínua e na eliminação de desperdícios é particularmente pertinente em um mundo que valoriza a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa.

O legado do Sistema Toyota de Produção é, portanto, um testemunho da inovação e da adaptabilidade. Este sistema não apenas transformou a Toyota em um líder global no setor automotivo, mas também ofereceu um roteiro para a excelência operacional em uma variedade de contextos industriais. 

À medida que as empresas de hoje enfrentam desafios e oportunidades em um ambiente de negócios em constante mudança, os princípios do TPS continuam a oferecer insights valiosos para alcançar sucesso sustentável e competitivo.

Como funciona o Sistema Toyota de Produção?

A essência deste sistema inovador pode ser encontrada em dois conceitos japoneses centrais: "Just-in-Time" (JIT) e "Jidoka". 

O JIT é focado na produção eficiente, fabricando apenas o necessário, no momento necessário e na quantidade necessária. Esta abordagem minimiza o desperdício e melhora a eficiência, reduzindo estoques excessivos e agilizando o processo de produção. 

O Jidoka, por outro lado, se refere à automação com um toque humano. Este conceito garante que os problemas de qualidade sejam identificados e resolvidos imediatamente, interrompendo a produção se necessário. Essa integração de vigilância humana com automação assegura um alto padrão de qualidade e eficiência.

Além desses dois pilares, o Sistema Toyota de Produção também incorpora o conceito de "Kaizen", ou melhoria contínua. Kaizen envolve todos os membros da organização, desde a alta administração até os trabalhadores da linha de frente, encorajando sugestões constantes de melhorias nos processos, produtos e ambiente de trabalho. 

Esse aspecto colaborativo do TPS não apenas melhora a eficiência operacional, mas também promove um ambiente de trabalho mais engajado e motivado.

Outro componente fundamental do Sistema Toyota de Produção é a padronização do trabalho. Isso significa criar procedimentos operacionais eficientes que possam ser facilmente seguidos e replicados, garantindo consistência e eficiência em todas as operações. A padronização é a chave para manter a qualidade e a eficiência, enquanto se reduz a variabilidade nos processos de produção.

O TPS também se concentra fortemente em entender e responder diretamente às demandas dos clientes. Esse foco no cliente assegura que a produção esteja alinhada com as necessidades do mercado, evitando a superprodução e garantindo que os recursos sejam utilizados da maneira mais eficiente possível.

Os 5 pilares do Sistema Toyota de Produção

1. Just in Time (JIT)

O Just in Time é um sistema de gestão de inventário que busca ter o material certo, na quantidade certa, no momento certo. O objetivo é minimizar o estoque, reduzindo o custo e o desperdício associados ao excesso de inventário. 

Nas linhas de produção, isso significa que os componentes são entregues na linha de montagem exatamente quando são necessários e na quantidade exata necessária. Isso é alcançado através de uma coordenação cuidadosa com os fornecedores e um planejamento de produção meticuloso.

2. Jidoka (Autonomation)

Jidoka, ou automação com um toque humano, é o princípio de que as máquinas devem ser capazes de detectar e responder a problemas de qualidade por conta própria. Quando um problema é detectado, a máquina automaticamente para, prevenindo a produção de mais defeitos. 

Isso permite que os operadores humanos intervenham, solucionem o problema e evitem a propagação de defeitos. Jidoka é um componente chave para manter a alta qualidade na produção, permitindo a identificação e resolução imediata de problemas.

3. Padronização do Trabalho

A padronização do trabalho envolve o desenvolvimento de processos operacionais eficientes e repetíveis. Isso significa definir claramente cada etapa de um processo, os materiais necessários e o tempo alocado para cada tarefa. 

A padronização assegura que cada operador execute as tarefas da mesma maneira, resultando em produtos consistentes e de alta qualidade. Além disso, facilita a identificação de problemas e áreas para melhoria, uma vez que desvios dos padrões estabelecidos podem ser rapidamente notados.

4. Kaizen (Melhoria Contínua)

Kaizen é o princípio de melhoria contínua. No contexto do Sistema Toyota de Produção, significa que todos os funcionários estão constantemente buscando maneiras de melhorar os processos de produção. Isso pode incluir tudo, desde pequenas mudanças que aumentam a eficiência até grandes inovações processuais. 

Kaizen encoraja uma cultura de feedback contínuo e envolvimento dos funcionários, onde todos são incentivados a contribuir com ideias para melhorar o trabalho.

kaizen

5. Heijunka (Nivelamento da Produção)

Heijunka é a prática de nivelar a produção, tanto em termos de volume quanto em variedade de produtos. Em vez de produzir em grandes lotes de um único produto, a produção é nivelada para responder à demanda do cliente de forma mais eficiente. Isso é feito distribuindo uniformemente a produção de diferentes modelos ou produtos ao longo do tempo. 

Por exemplo, em vez de fabricar 100 unidades do Modelo A em um dia e 100 unidades do Modelo B no dia seguinte, a linha de produção pode ser ajustada para produzir 50 unidades de cada modelo em ambos os dias. Isso reduz o tempo de espera e os níveis de estoque, e permite uma resposta mais rápida às mudanças na demanda.

Quais os benefícios de aplicar o Sistema Toyota de Produção na sua empresa?

  • Redução de desperdícios: Um dos principais objetivos do TPS é a eliminação de desperdícios (Muda) em todos os aspectos da produção. Isso inclui desperdício de tempo, material, mão de obra e espaço. Reduzindo desperdícios, a empresa pode diminuir custos significativamente e aumentar sua eficiência operacional.
  • Melhoria da qualidade do produto: Através do princípio de Jidoka (automação com um toque humano) e da padronização do trabalho, o TPS assegura que os problemas de qualidade sejam detectados e corrigidos no início do processo de produção. Isso resulta em produtos de alta qualidade e menor incidência de defeitos ou retrabalho.
  • Aumento da eficiência e produtividade: O princípio de Just-in-Time (JIT) assegura que os componentes são produzidos e entregues apenas quando necessários, o que minimiza o tempo de espera e otimiza o fluxo de trabalho. Além disso, a padronização do trabalho permite processos mais eficientes e consistentes.
  • Flexibilidade e resposta rápida à demanda: O TPS promove uma produção mais flexível, permitindo que a empresa se adapte rapidamente às mudanças na demanda dos consumidores. O nivelamento da produção (Heijunka) permite um ajuste mais fácil na produção para diferentes produtos, reduzindo os tempos de resposta para atender às demandas do mercado.
  • Redução de custos: A eficiência melhorada, a redução de desperdícios e a diminuição de defeitos contribuem para a redução significativa dos custos operacionais. Menos desperdício de material, menor necessidade de espaço de armazenamento e eficiência no uso da mão de obra são apenas alguns exemplos de como o TPS pode reduzir custos.
  • Melhoria contínua (Kaizen): O TPS encoraja todos os membros da organização a contribuir com ideias para melhorias, o que promove uma cultura de inovação contínua. Isso não apenas melhora os processos de produção, mas também aumenta o envolvimento e a satisfação dos funcionários.
  • Sustentabilidade: Ao reduzir o desperdício e otimizar o uso de recursos, o TPS também contribui para práticas de negócios mais sustentáveis. Isso está alinhado com as crescentes demandas por responsabilidade ambiental nas operações corporativas.
  • Fortalecimento da cultura organizacional: A implementação do TPS pode fortalecer a cultura organizacional, promovendo valores de trabalho em equipe, responsabilidade, e melhoria contínua. Isso pode levar a um ambiente de trabalho mais positivo e produtivo.

Como aplicar o Sistema Toyota de Produção?

A aplicação desse sistema deve vir de cima, da alta gestão, necessitando de um grande compromisso com essa implementação. Os líderes devem não apenas entender os princípios fundamentais do TPS, mas também estar dispostos a liderar pelo exemplo, demonstrando um compromisso inabalável com a melhoria contínua e a eliminação de desperdícios.

O sucesso na implementação do TPS depende significativamente da educação e do treinamento de todos os funcionários nos seus princípios e práticas. Este processo educacional deve ser contínuo e adaptado às necessidades específicas de cada equipe, cobrindo técnicas como 5S, Kaizen, Jidoka, Just-in-Time e Heijunka. Tal treinamento ajuda a cultivar um entendimento profundo e uma aplicação efetiva dos princípios do TPS em toda a organização.

Antes de implementar as mudanças, é crucial realizar uma avaliação detalhada dos processos de produção atuais. Identificar áreas de desperdício, gargalos e ineficiências é um passo essencial, pois fornece uma base clara para o desenvolvimento de um plano de implementação. 

Este plano deve ser abrangente, estabelecendo metas específicas, cronogramas e responsabilidades, e tratando a implementação do TPS como um projeto de longo prazo, com etapas claramente definidas e metas alcançáveis.

Outro fator para você ficar atento: a organização e a padronização do local de trabalho são fundamentais. Práticas como o 5S estabelecem um ambiente de trabalho eficiente e ordenado, essencial para processos mais eficientes e a redução da probabilidade de erros e desperdícios. 

Seguindo isso, a integração dos conceitos de Jidoka e Just-in-Time na linha de produção é vital. Estabelecer sistemas que permitam a detecção e resolução imediata de problemas de qualidade, e ajustar o processo de produção para que os materiais sejam fornecidos somente quando necessário, ajuda a evitar o excesso de estoque.

Um aspecto crítico do TPS é fomentar uma cultura de melhoria contínua. Incentivar os funcionários a identificar ineficiências e sugerir melhorias é um processo que requer uma mudança significativa na mentalidade organizacional. Nesta cultura, cada contribuição é valorizada, e as melhorias são implementadas regularmente.

Monitorar continuamente os processos e fazer ajustes conforme necessário é igualmente importante. A utilização de indicadores chave de desempenho (KPIs) permite medir a eficácia do TPS e identificar áreas para melhorias adicionais. 

Além disso, é fundamental desenvolver líderes dentro da organização que compreendam os princípios Lean e o TPS. Estes líderes são essenciais para manter a disciplina do sistema, treinar outros e perpetuar a cultura de melhoria contínua.

Por último, mas não menos importante, adaptar e personalizar o TPS para atender às circunstâncias específicas da empresa é crucial. O TPS não é um conjunto de regras rígidas, mas um sistema flexível que deve ser moldado para se adequar às necessidades únicas da empresa. 

Essa personalização é vital para a implementação e sucesso efetivos do sistema.

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Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.