As metodologias Lean e Seis Sigma na Indústria 4.0
Seis Sigma

22 de março de 2018

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

As metodologias Lean e Seis Sigma na Indústria 4.0

O modelo de Indústria 4.0 vem evoluindo e tomando espaço há muito tempo, mas não há tanto quanto o Lean e o Seis Sigma, que “nasceram” na manufatura e foram aplicados com mais frequência nas operações de fábrica. Muito é discutido sobre como esses modelos podem coexistir, e apesar de cada um ter seus defensores devotos, o alinhamento dos conceitos de Lean e Seis Sigma com as tecnologias da Indústria 4.0 pode trazer muitos benefícios, levando fabricantes a  impulsionar a melhoria contínua em seus processos, maximizar a eficiência e aumentar o valor do cliente.

Primeiramente, o que é a Indústria 4.0 ?

A Indústria 4.0 refere-se à quarta Revolução Industrial e apresenta um novo conceito de indústria, conhecido como “fábrica inteligente”, que engloba as principais inovações nos campos de automação, controle e tecnologia da informação, unindo sistemas cyber-físicos, a Internet das Coisas e a Internet dos Serviços.

Este novo modelo vem tornando os processos de produção cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis, mudando a maneira que eles são conduzidos, e causando impacto em diversos setores do mercado.

A “fábrica inteligente” inserida no conceito de Indústria 4.0 é caracterizada pelos seguintes princípios:

Interoperabilidade - máquinas, dispositivos, sensores e pessoas se conectam e se comunicam entre si.

Transparência de informações - sistemas de informação criam uma cópia virtual do mundo físico, enriquecendo os modelos de plantas digitais através dos dados dos sensores.

Assistência técnica - capacidade dos sistemas de apoiar os seres humanos na tomada de decisões e resolução de problemas e de suportar uma série de tarefas exaustivas ou inseguras para o ser humano.

Tomada de decisão descentralizada - sistemas físico cibernéticos tomam decisões por conta própria e executam suas tarefas da maneira mais autônoma possível.

E as metodologias Lean e Seis Sigma ? O que são ?

O Lean é uma metodologia que busca reduzir o desperdício de recursos, instigando a empresa a remover de seus processos tudo o que não estiver agregando valor ao produto ou serviço, pois representa um custo que pode ser evitado, como desperdício de tempo, de materiais, de mão de obra e de outros recursos. É uma maneira sistemática de eliminar o desperdício e criar fluxo no processo de produção.

Já o Seis Sigma é uma metodologia de gestão desenvolvida para maximizar o desempenho dos processos dentro da empresa, focando em eliminar seus defeitos e não conformidades de acordo com as especificações de fábrica, através da análise de dados. Essa metodologia trabalha com três grandes objetivos: redução de custos, otimização de produtos e processos e incremento da satisfação do cliente.

Essencialmente, essas metodologias têm o mesmo objetivo, mas adotam diferentes abordagens para alcançar esse objetivo; e embora muitas pessoas as comparem, podem ser muito poderosas quando aplicadas juntas.

O Lean e a Indústria 4.0

Os processos do futuro incorporarão mais tecnologia e poderão se tornar mais inteligentes, mas, ainda assim, continuarão sendo processos. Este lembrete trivial é uma sugestão para a sustentabilidade do Lean Thinking, dos métodos e das ferramentas Lean. Tudo o que o Lean ajudou a melhorar até agora continua válido em um ambiente mais rico de tecnologias e que requer menos mão de obra:

  • Criação de valor para clientes
  • Redução do lead time
  • Maximização de valor agregado
  • Eliminação de desperdícios
  • Melhoria contínua
  • Etc

O que irá mudar é o modo de aplicar a metodologia, antecipando sua aplicação para os estágios iniciais do projeto, onde as decisões e parâmetros que definem o desempenho futuro do produto e todos os processos de fabricação, distribuição, manutenção e reciclagem são definidos, em vez de tentar consertar os processos quebrados depois, quando tudo já estiver dito e feito, já decidido e em vigor.

Decisões e escolhas podem não ser desafiadas posteriormente, daí a importância do carregamento antecipado e proativo das melhores práticas Lean.

Muita atenção deve ser dada também ao incorporar o Lean em design e desenvolvimento em Lean Engineering. O Design para Manufatura e Montagem (DFMA) se tornará ainda mais necessário para que menos trabalhadores estejam disponíveis para salvar produtos e processos mal feitos ou consertar processos quebrados. O surgimento da Indústria 4.0 não mudará a natureza dessas necessidades, mas sim fornecerá novas oportunidades para a aplicação Lean. Uma vez que processos eficientes sejam implementados, eventos aleatórios e mudanças continuarão a “atormentar” as operações, trazendo novas ocasiões para usar ferramentas e técnicas Lean.

O Seis Sigma na Indústria 4.0

Aquele mesmo lembrete trivial serve também para lembrar a sustentabilidade do método Seis Sigma. Capacidades e divergências continuarão precisando ser dominadas, desvios deverão ser controlados e haverá ainda maior necessidade de identificar os poucos parâmetros influentes em meio a uma imensidão deles.

Com a maior automação e a potencial capacidade de fabricar em massa produtos exclusivos da Indústria 4.0, a desculpa tradicional e conveniente da falta de repetição na produção de baixo volume e alta variedade, que leva à falta de significância estatística, deve desaparecer. Processos automatizados inteligentes devem produzir uma quantidade enorme de dados de maneira extremamente rápida, criando um fluxo permanente. Novos parâmetros serão medidos constantemente por sensores embutidos ou afixados, como temperatura, umidade, aceleração, orientação, pressão, brilho, etc. É aí que o Seis Sigma pode precisar evoluir, já que essa inundação de dados entrará no mundo do Big Data. A análise de tal massa de dados não será feita com as técnicas estatísticas Seis Sigma usuais, mas com análise de correlação de cenários. Os novos modelos estatísticos de gestão e controle serão baseados em critérios múltiplos, porque as técnicas permitem isso e os novos processos exigem isso.

Pensando no futuro

Entre Lean e Seis Sigma, o Seis Sigma é, por sua natureza, o mais provável de ser passado para as máquinas. Futuras máquinas e equipamentos assumirão, individualmente ou em colaboração, controles estatísticos, análise em tempo real, auto-correções e assim por diante, reduzindo a necessidade de mão de obra humana. Neste futuro, no entanto, os problemas ainda irão acontecer e a maneira de entender as causas e resolver os problemas não mudará. Novas ferramentas aparecerão, mas bons diagramas DMAIC, PDCA, Pareto ou espinha de peixe ainda serão fundamentais.

Apesar das possíveis transferências para dispositivos inteligentes, a resolução de problemas ainda exigirá intuição e um tipo de raciocínio que as máquinas não devem conseguir replicar tão cedo. Portanto, até que a inteligência artificial demonstre habilidades equivalentes a humanos, ainda serão necessários profissionais em fábricas inteligentes.

Como se preparar para esse futuro ?

Tal como acontece com grandes tendências de negócios, é natural que os primeiros adotantes sejam recompensados pela coragem de pular nesta nova tecnologia. E aqueles que evitam o risco de mudança podem tornar-se irrelevantes e serem deixados para trás. Estar preparado para gerir mudanças e solucionar problemas é cada vez mais importante, e para a Indústria 4.0 será um grande diferencial. Por isso, faça nossos cursos LeanIntrodução ao LeanGreen BeltBlack Belt. Além, é claro, de nosso White Belt totalmente gratuito e se torne o agente responsável por estas mudanças.

Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.